O POETA
Meu filho, você vai fazer dezoito anos. Que curso superior vai fazer?
Nenhum, pai.
Como nenhum? Você precisa ter uma profissão.
O que eu quero fazer não requer curso superior.
E o que você quer fazer?
Vou ser poeta.
Mas isso não dá nada.
Claro que dá. Conheço dois poetas que vivem só disso.
É?
É.
Mas e se eles precisarem de um tratamento médico, por exemplo. O que vão fazer?
Vão se tratar pelo S.U.S.
E vão morrer logo.
É preferível uma vida curta mas divertida. E o S.U.S. atende muito bem.
Seja homem, rapaz. Vai fazer Medicina.
Detesto Biologia.
Faz engenharia.
Piorou. Detesto Matemática.
Então faz Direito, que é um negócio parecido com poesia.
Detesto leis.
E você vai viver do quê?
Eu já falei, vou viver vendendo meus livros. Adeus. Estou indo, pra conquistar o mundo.
Daqui de casa você não sai.
Saio.
Passar fome você passa aqui mesmo.
Eu não vou passar fome.
Vai.
Calma, marido, logo ele volta.
Eu não vou voltar. Adeus.
O pai chora.
Não vai, miserável.
Adeus.
Calma, marido, ele volta. Você também não voltou pra casa do seu pai, quando tinha a idade dele?
Voltei. Mas me arrependi como nunca.
E não valeu a pena? Não chora, marido.
Eu daria tudo pra ser poeta, e não engenheiro como eu sou agora... Só voltei porque você estava grávida.
Tchau, pai e mãe.
Não vai, meu filho.
Vai, meu filho, vai ser feliz, como eu nunca fui.
Adeus, pai e mãe, eu amo vocês...
O rapaz sai pelo portão da casa, o cabelo ao vento, com um largo sorriso no rosto.
Fui.