A Lei Ninja: Pelas Sombras
O céu do Rio de Janeiro estava tingido de laranja ao entardecer, refletindo o caos oculto nas ruas. Jenna observava a cidade do alto de um prédio, envolta na penumbra como um fantasma urbano. As semanas após a queda de Katja haviam trazido uma estranha calmaria, mas Jenna sabia que algo maior estava por vir. Cicatrizes recentes, tanto físicas quanto emocionais, ainda doíam, e a desconfiança nas pessoas ao redor nunca fora tão intensa.
A aparição inesperada de Guilherme Tokuno, seu ex-namorado, tornava as coisas ainda mais complicadas. Anos antes, Jenna fora apaixonada por ele, mas ele a traíra de maneira cruel, mostrando-se alguém muito diferente do que ela imaginava. Agora, ele estava de volta, mais influente e enigmático do que nunca.
Ela o reencontrou por acaso em um café no Leblon, enquanto investigava uma pista sobre os resquícios do império de Katja. Ele estava sentado em uma mesa cercado por homens de negócios, o mesmo sorriso confiante que a atraíra no passado estampado no rosto. Quando seus olhares se cruzaram, Jenna sentiu um misto de raiva e nostalgia, uma sensação agridoce que preferia enterrar.
Guilherme se aproximou, sorrindo como se nada tivesse acontecido entre eles.
— Jenna. Nunca pensei que te veria por aqui de novo — disse ele, com um ar descontraído, mas os olhos traíam um resquício de surpresa.
Jenna manteve o rosto sério, seus olhos frios como o aço.
— As coisas mudam, Guilherme. A gente também.
Ele riu de leve, mas havia algo de tenso em seu riso.
— É bom te ver, mesmo que em circunstâncias... complicadas. Parece que nossos caminhos continuam se cruzando, não importa o quanto tentemos evitá-lo.
— O que você quer? — Jenna foi direta, não tinha tempo para nostalgia.
— Eu sei que você está atrás dos remanescentes de Katja. E eu... tenho informações que podem te interessar. — Ele pausou, como se esperasse uma reação. — Precisamos conversar, sem toda essa gente.
Enquanto Jenna e Guilherme discutiam seus planos em um café, uma sombra familiar surgiu à porta. Jhoseph, com seu olhar penetrante e uma presença imponente, entrou.
- Parece que a cidade precisa de novos guardiões. Estive longe, mas não esqueci o que é proteger o que amamos - disse ele com seu tom carregado de gravidade.
Jenna sentiu um misto de alívio e ansiedade. A presença de Jhoseph trazia lembranças de batalhas passadas, mas também uma nova esperança.
- Jhoseph, você está de volta. Precisamos de sua ajuda.
- Estou apenas de passagem, Jenna.
- O que o traz aqui?
- Vim comprar alguns produtos e utensílios que onde estou não tem , vi que estava próxima e resolvi fazer uma visita.
- Você nunca deixou de ser estranho.
- Jenna, posso falar a sós com você?
- Claro.
Jhoseph olhou de forma misteriosa para Guilherme, saiu ao lado de fora do café com Jenna.
- Esse caminho que está trilhando, não tem volta saiba que sempre será um novo dia para um confronto diferente.
- Eu sei, isso é ser um Shinobi perseverar em todas as situações.
- Não só isso, já vivi esse caminho e convivi também situações inesperadas, que se não tivesse a frieza e o destreza isso me arruinaria.
- Mas porque está me dizendo isso?
- Sei que você está em um caso que envolve gente perigosa, e ainda é novata.
- Amaya me treinou muito bem para eu sobreviver.
- Eu sei, Jenna. Não se zangue comigo não falei por mal, ela te mostrou o caminho das pedras mas é você que tem que mostrar a sabedoria do seu interior.
- Vou tomar cuidado. Foi bom te ver Jhoseph.
- Agora eu vou andando, nos vemos por aí. Outra coisa, cuidado para quem vai entregar seu coração. É um dos seus maiores tesouros.
- Como assim!? Ele não é nada meu... Ou melhor, já foi mas isso é passado.
- Será mesmo? Bom, Jenna não confie nesse rapaz, as trevas perseguem ele. E de coração eu entendo bem. Se cuida
- Você também.
- Não se preocupe com Amaya, ela é como um vento, as vezes muda de direção.
Após isso, ele foi embora sumindo na multidão que transitava pelo local. Jenna e Tokuno, se encontraram em um apartamento discreto no Centro. Guilherme revelou que estava envolvido na alta sociedade e tinha contatos com uma nova organização chamada Irmandade Sombria, que estava assumindo as operações criminosas deixadas por Katja.
— Eles são piores que ela, Jenna. Estão se expandindo e planejando algo grande. Tráfico de armas, influência política, corrupção. O que você viu antes não é nada comparado ao que vem por aí.
Jenna o estudou por um momento, tentando ler além das palavras.
— E o que você ganha com isso, Guilherme ?Sempre há um preço com você.
Ele deu de ombros, desviando o olhar como quem guarda um segredo.
— Talvez eu só queira fazer a coisa certa desta vez.
Jenna revirou os olhos, sem se deixar convencer facilmente.
— Eu conheço seus jogos. Se quiser me ajudar, prove que não está mentindo.
Após sair do apartamento de Guilherme, Jenna vagava pelas ruas do Centro do Rio, perdida em pensamentos. As informações sobre a Irmandade Sombria ecoavam em sua mente. Quem eram esses novos jogadores e qual seria o papel de Guilherme nisso tudo? Ela sabia que precisava de uma segunda opinião — alguém com experiência, alguém em quem pudesse confiar.
Enquanto caminhava, uma notificação discreta no celular chamou sua atenção. Era uma mensagem criptografada, com um remetente desconhecido:
"Se quer respostas sobre a Irmandade, encontre-me no endereço abaixo. Venha sozinha. Confie no instinto que Amaya te ensinou. — T."
O endereço levava a um velho galpão no Porto Maravilha, uma área decadente e pouco movimentada à noite. Jenna hesitou por um momento. Quem seria "T."? Por mais que desconfiasse, algo lhe dizia que essa pista era importante demais para ignorar.
O galpão parecia abandonado, com vidros quebrados e paredes cobertas de grafites desbotados. Jenna entrou em silêncio, cada passo ecoando no vazio. Sua mão pairava próxima à kunai presa na cintura, pronta para reagir a qualquer movimento hostil.
— Você chegou mais rápido do que imaginei. — A voz grave veio de uma das vigas de metal acima.
Jenna olhou para cima, onde uma figura alta e encapuzada observava das sombras. O homem saltou com uma agilidade surpreendente, aterrissando suavemente no chão diante dela.
— Quem é você? — Jenna perguntou, a tensão evidente em sua voz.
O homem tirou o capuz, revelando um rosto sério, com olhos profundos que pareciam carregar anos de experiência.
— Meu nome é Tristan. — Ele fez uma breve pausa. — Ajudei Jhoseph no passado. Talvez você já tenha ouvido falar de mim.
Jenna estreitou os olhos. O nome era familiar, mas ele parecia envolver mais mistério do que fatos concretos.
— Se você é amigo do Jhoseph, por que nunca o vi antes?
— Porque nunca precisei aparecer com frequência, mas houve a necessidade.
Tristan cruzou os braços, analisando Jenna com uma intensidade desconcertante.
— Ouvi dizer que você está investigando a Irmandade Sombria. E que está envolvida com alguém chamado Guilherme Tokuno.
— Está bem informado. — Jenna não tentou esconder sua irritação.
— Estou, porque essa organização não é como as outras. Eles não são apenas criminosos, Jenna. Eles são estrategistas, manipuladores. Pessoas que não hesitam em usar qualquer meio para alcançar seus objetivos.
— E por que você se importa?
Tristan deu um leve sorriso.
— Porque a Irmandade está ligada às famílias que Jhoseph enfrentou no passado. E porque, se você está envolvida nisso, significa que o jogo mudou.
Jenna deu um passo à frente, seu olhar duro fixo em Tristan.
— E o que você quer de mim?
— Quero te ajudar. Mas, para isso, você precisa confiar em mim. — Ele fez uma pausa antes de continuar. — Guilherme não é o que parece, ele está mais envolvido com a Irmandade do que você imagina.
Jenna fechou a expressão, a lembrança das palavras de Jhoseph ainda fresca em sua mente: "Não confie nesse rapaz. As trevas o perseguem."
— Se isso for verdade, por que você está aqui?
— Porque você está no meio de uma tempestade, e sozinho ninguém sobrevive.
Tristan explicou que havia rastreado a Irmandade Sombria por meses, desde que percebeu que a organização estava reconstruindo o poder de Katja. Eles não apenas estavam assumindo o controle das operações criminosas, mas também recrutando aliados na alta sociedade, como políticos e empresários.
— Guilherme é uma peça-chave para eles. — Tristan apontou. — Ele tem acesso a círculos que poucos conseguem penetrar.
— Então por que ele me procurou? — Jenna perguntou, ainda desconfiada.
— Talvez ele ainda esteja dividido. Ou talvez ele queira te usar. Isso é algo que só você pode descobrir.
Jenna não respondeu imediatamente. Algo no tom de Tristan a fazia acreditar nele, mas confiar plenamente ainda era difícil.
— E qual é o seu plano?
— Primeiro, precisamos de provas concretas. Algo que conecte a Irmandade a seus financiadores e operações. E, para isso, precisamos infiltrar um de nós em um dos eventos deles.
— E você acha que eles me aceitariam? — Jenna arqueou a sobrancelha.
Tristan deu um leve sorriso.
— Não, mas Guilherme pode. Ele é sua entrada. Use-o.
Jenna respirou fundo, ponderando as palavras.
— E o que você fará enquanto isso?
— Vou operar das sombras, como sempre. Estarei te observando, garantindo que você tenha uma rota de fuga se algo der errado.
Ela hesitou por um momento antes de concordar com um aceno de cabeça.
— Tudo bem. Mas se isso for uma armadilha, Tristan, você será o primeiro a saber do meu descontentamento.
— Justo. — Tristan sorriu de lado. — Boa sorte, Jenna. Vamos precisar disso.
Enquanto Jenna saía do galpão, sentia o peso de um novo aliado — e talvez um novo risco. Agora, ela tinha uma missão: usar Guilherme para se infiltrar na Irmandade Sombria e descobrir os segredos escondidos nas sombras do passado.
Jenna deixou o galpão com passos firmes, mas por dentro estava inquieta. Ela sabia que cada decisão dali em diante precisaria ser calculada. Guilherme Tokuno agora era tanto uma ferramenta quanto uma ameaça, e Tristan… ele parecia confiar demais na própria experiência, mas sua frieza a intrigava.
Enquanto caminhava pelas ruas iluminadas pelos postes e placas de neon, Jenna decidiu não perder tempo. Pegou o telefone e enviou uma mensagem para Guilherme:
"Precisamos conversar. Encontre-me amanhã, 20h, no bar que você escolher. Preciso saber mais sobre a Irmandade."
Poucos minutos depois, a resposta veio:
> "Bar Floresta, Botafogo. Não se atrase."
Jenna guardou o telefone, sabendo que Guilherme provavelmente interpretaria sua súbita iniciativa como um sinal de interesse. Essa era a intenção.
O ambiente era elegante, com luzes âmbar refletindo nas paredes de madeira escura. Música ambiente preenchia o ar enquanto pessoas ricas conversavam descontraidamente. Jenna entrou, usando um vestido preto simples, mas marcante. O disfarce perfeito para passar despercebida como mais uma pessoa da alta sociedade.
Guilherme já estava lá, sentado em uma mesa ao fundo, um drink em mãos. Ele sorriu ao vê-la.
— Você chegou. E está deslumbrante. — Guilherme a recebeu, como se o passado turbulento entre eles não existisse.
Jenna forçou um sorriso.
— Não estou aqui para lembrar dos velhos tempos, Guilherme. Quero saber o que você sabe sobre a Irmandade.
Ele riu levemente, fazendo sinal para o garçom trazer outro drink.
— Sempre tão direta. Mas é por isso que eu gostava de você.
— Guilherme. — Jenna cruzou os braços, encarando-o com seriedade.
— Tudo bem, tudo bem. — Ele se recostou na cadeira. — A Irmandade Sombria é um grupo... seletivo. Eles acreditam no poder da influência. Não são apenas criminosos; são estrategistas, manipuladores.
— E o que você tem a ver com eles? — ela perguntou, tentando sondar sua lealdade.
Guilherme sorriu, inclinando-se para a frente.
— Digamos que estou em uma posição única. Não sou um deles, mas também não estou completamente de fora.
— Isso soa como estar sentado em uma cadeira no meio de uma arena.
— Talvez. Mas eu sei como jogar. E posso te ajudar a entrar.
— Por quê? — Jenna estreitou os olhos.
Guilherme hesitou por um momento, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.
— Porque, apesar de tudo, eu ainda me importo com você.
Ela bufou, descrente.
— Não seja ridículo, Guilherme. Sei que tem algo mais.
Antes que ele pudesse responder, Jenna sentiu algo incomum no ar. Não era paranoia; era a sensação de ser observada. Seus olhos varreram o local, até que encontrou uma figura familiar na sombra de um canto distante: Tristan.
Ele estava lá, vestido de forma simples, mas com uma postura que parecia absorver todos os detalhes ao redor, acenou sutilmente com a cabeça, indicando que estava em alerta. Jenna entendeu a mensagem.
— Tudo bem, Guilherme. — Ela se recostou na cadeira, relaxando de propósito. — Digamos que eu aceite sua ajuda. O que eu preciso fazer?
— Há um evento da Irmandade amanhã à noite. Um leilão privado, onde membros e aliados se encontram. Será no alto de um prédio no Centro. Posso te levar, mas você terá que fingir ser minha acompanhante.
— E por que eu deveria confiar que você vai me tirar de lá se algo der errado?
— Porque, Jenna… — Ele se inclinou, com um olhar sério que substituiu o sorriso habitual. — Eu também quero derrubar essas pessoas.
Ela avaliou as palavras dele, sem dizer nada. Guilherme sempre soube manipular, mas havia algo em sua expressão que parecia genuíno.
Quando Jenna saiu do bar, encontrou Tristan esperando por ela na esquina.
— Então, o que conseguiu? — ele perguntou, sem rodeios.
— Guilherme vai me levar a um leilão privado da Irmandade amanhã. Parece ser um evento importante.
Tristan assentiu, mas havia preocupação em seu rosto.
— Eles não vão te deixar entrar sem verificar quem você é. Tem certeza que está pronta?
— Se não estiver, vou ficar. — Jenna cruzou os braços, desafiadora.
— Vou estar perto, garantindo que você tenha uma saída. E Jenna… cuidado com Guilherme. Não confie nele, não importa o que ele diga.
Ela assentiu, embora soubesse que a situação seria muito mais complexa do que isso.
No dia seguinte, Jenna se preparou com atenção. Usava um vestido elegante que lhe permitia esconder armas pequenas, como uma kunai e alguns fios de aço. Antes de sair, recebeu uma mensagem de Tristan:
"Estarei do lado de fora, monitorando. Se algo der errado, corra para o ponto de extração que combinamos. Boa sorte."
Jenna sabia que estava entrando em território perigoso. Mas, com Tristan nas sombras e suas próprias habilidades afiadas, estava disposta a arriscar tudo para descobrir os segredos da Irmandade Sombria — e, quem sabe, as verdadeiras intenções de Guilherme.
A noite estava apenas começando, mas o jogo já estava em andamento. E Jenna, agora uma peça fundamental, sabia que cada movimento contava.
Continua...