Tigre
Ele era grande, mas o elefante o fazia parecer ainda maior. O caçador sobre o cachaço, como um rei sentado em um trono de musgo, caçava tigres como quem escreve seu nome na terra. Seus olhos, afiados como facas, cortavam a selva, buscando a presa, mas o tigre nunca o tocava. Ele estava seguro, não pela sua coragem, mas pela força alheia, o peso da fera sob ele. O tigre, com sua paciência de sombra, sempre o observava de longe, como quem estuda o movimento de um rio para saber quando atravessar.
Até que a base cedeu. O cachaço, que sustentava sua altivez, se soltou como uma corda velha, e o caçador caiu. A terra, antes um reflexo distante e impessoal, o recebeu com a frieza de um amante rejeitado. O homem, agora sem seu poder emprestado, era apenas carne. A queda foi um grito silencioso, um silêncio que rugiu dentro dele. O tigre, com seus olhos de fogo, não hesitou. Não sentiu compaixão, nem dúvida. O caçador era um pedaço de carne exposto, e ele, como a morte que se revela em um suspiro, se aproximou.
Mordida após mordida, o tigre devorava a fraqueza. O caçador, que antes era uma ideia, agora não passava de um corpo inútil, desfeito. O tigre não pensava mais no elefante, nem no cachaço que sustentava o homem. Ele só sabia de sua própria força, da força que pulsa nas garras, nos dentes, na pele. Cada pedaço que engolia o tornava mais ele, mais tigre, mais puro em sua natureza. O que restava do caçador não era mais do que um eco do que já foi. O tigre se sentia forte, mais forte do que qualquer elefante, mais forte que a terra que o sustentava, mais forte do que o próprio medo.
E enquanto o caçador se desfazia na boca do tigre, a selva continuava a respirar. As árvores não se curvavam, o vento não se detinha. O tigre, satisfeito, seguia seu caminho. O homem, o caçador, era apenas um pedaço de memória, como a sombra de um sonho que logo se apaga ao amanhecer.