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Ana

 

Pedro e Athayde, dois caixeiros viajantes, faziam sua primeira viagem pelo interior do Nordeste, viajavam num só veículo para economizar despesas e assim, sobrar algum dinheiro para se divertirem, após o expediente, ao longo da viagem. Ao chegarem a uma pequena cidade, hospedaram-se no único hotel existente. Pedro visitaria um cliente e Athayde, alguns outros, que com ele estariam até o início da noite. Então ficou acertado que Pedro, após a visita ao seu cliente, aguardaria o amigo, para jantarem juntos. Ao esperar o amigo, Pedro resolveu passear numa pracinha em frente ao hotel, onde moças e rapazes, animados, passeavam e às vezes namoravam, nos moldes daquele tempo; boa conversa, beijinhos roubados e mãos dadas... Pedro estava na pracinha aguardando o amigo, e eis que surge uma belíssima jovem, montada numa bicicleta, e aproximando-se, com ele veio conversar e como o Athayde demorava a chegar a conversa se prolongou, então, Pedro pediu para levar a moça à sua casa.

Caminharam de mãos dadas, passaram por um cenário bucólico, com uma pequena ponte e chegaram à bonita casa de Ana, entraram; ele quis conhecer sua mãe, mas ela afirmou que a mãe estava repousando. Ana tinha um corpo escultural e voz suave qual algodão doce. Linda e sedutora, logo despertou o interesse de Pedro, que por ela se encantava e carinhosamente a beijava, com fervor, mas consciente que as carícias não poderiam ultrapassar os limites do padrão da época. Afinal, manter uma relação mais íntima com uma moça poderia levar à casamento, e Pedro queria evitar constrangimentos, também em respeito à grande empresa que trabalhava, uma multinacional.

 

Passava das dez horas quando Pedro se despedia de Ana, ficou de pé, procurando afastar-se naturalmente, mas Ana o puxou, comprimindo o seu corpo sobre o dele, com ardor, ele então se afastou. Ela segurou-o com força e rolaram sobre o sofá, ele caiu sentindo o corpo dela, frio, sobre o seu, completamente nua, e ainda, mais bela, pedindo para ser amada. Pedro sentiu algo estranho, arrepiando seu corpo, e resolveu sair em disparada, atravessou a ponte, a praça e na mesma velocidade entrou no restaurante do hotel, depois no quarto. Athayde ao vê-lo naquele estado deplorável, despenteado, seminu, só de cueca e sem um dos sapatos, e verdes olhos esbugalhados, empunhou sua pistola Ludger, pensando que atrás viesse alguém para matá-lo

No dia seguinte, foram averiguar a história! Bateram na casa que Pedro havia estado, foram atendidos por uma simpática senhora, informando que a sua amada filha havia morrido a dois anos na rodovia, pedalando sua bicicleta. — Mas, eu continuo dizendo que você foi um covarde, correndo com medo de uma mulher, mesmo sendo ela do outro mundo, disse Athayde. — É porque não foi com você, seu filho de uma égua! Concluiu Pedro. Meio-dia, estrada empoeirada, Sol a pino, distante cantava a Acauã.

 

Fragmentos do livro o "Mundo de Pedro" de autoria de Antonio de Albuquerque.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 02/12/2024
Reeditado em 07/12/2024
Código do texto: T8210288
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