Lilith
Eu tenho um livro “imaginário” de segredos “reais”, que eu prometi manter sigilo até que cada fato complete 25 anos, tempo necessário para que a história se amolde sobre colunas menos oscilatórias, e a história de hoje chama-se Lilith, apenas Lilith!
O ano foi mil e novecentos e caixinha de fósforo. Eu estava no meu local de trabalho, usando de toda a tecnologia possível para aquela época, que lincava aquele lugar até um Backbone dedicado, o que me fazia uma espécie de Nasa se comparado ao que tinha no mercado.
Os funcionários saíram, e um amigo da Polícia permaneceu comigo. Num canto da sala esse amigo tentava uma aventura com o Mundo externo, e no outro canto, eu, usando meu notebook novinho em folha, para tentar da mesma estratégia do meu amigo.
Num desses chats malucos aparece na tela uma tal de Lilith. Passado o momento das preliminares virtuais, como saber o nome, se era homem ou mulher, enfim, depois de uma prosopopeia idiota, avançamos uma casa e passamos a falar (teclar) como se já nos conhecêssemos.
Uma hora, no máximo, Lilith me passou seu contato de telefone, pois não era comum, nem havia tecnologia para tal, trocar fotografias um do outro. Na verdade, eu até tinha uma foto digitalizada e tecnologia para enviar, mas Lilith não possuía o equipamento certo para recebe-la, então, nosso papo saiu do computador e passou a ser via telefone.
Eu tinha 30, no máximo, e Lilith dizia ter 22. Segundo ela, estava concluindo o curso de Direito, era noiva de um advogado famoso da Bahia, e houve algo que me marcou muito naquela conversa: ela me disse que era a única loira do Brasil com os cabelos pintados de preto.
A voz aveludada, o modo correto de falar, e desenvoltura para lidar com aquela questão tão delicada, eu confesso que eu queria conhecer a dona daquela voz, e em menos de 120 minutos de papo, marcamos de nos encontrar pessoalmente.
Falei com meu amigo “cana”, e ele viu a necessidade de me seguir com uma viatura descaracterizada, para no caso da Lilith ser uma impostora, uma bandida, uma perversa jovem que me faria refém, ou algo que o valha. Ri muito, mas permiti que ele me seguisse até o local marcado.
Lilith me disse que estava na casa de um primo na Rua Tenente Pires Ferreira, coração da Barra em Salvador. Me passou o endereço correto, e como eu estava no Campo da Pólvora, relativamente perto, foi só tirar o paletó e a gravata, reforçar uma borrifada de Chanel Egoiste Platinum, e descer a ladeira da Barra até onde estava a moça, com a viatura lazarenta na minha cola.
O combinado com meu amigo era, se eu fizesse um gesto específico, ele entrava em cena, caso em contrário, ele vazava e me deixava a mercê da minha própria sorte (ou azar). Na frente do prédio, me anunciei para o porteiro, e em menos de 3 minutos, desceu a Lilith e seu priminho aboiolado, franga, no Nordeste a gente chama de Biba, mais mulher do que a Patrícia Poeta.
Com um sorriso maravilhoso no rosto, Lilith me deu um abraço e dois beijinhos de praxe. O primo mulher me cumprimentou e Lilith me convidou para uma cerveja no Farol da Barra, com certeza para entender quem eu era, para analisar o meio de campo.
Agora vou falar de Lilith! Branquinha de corpo meticulosamente perfeito, com tudo no lugar, e quando eu digo tudo, é tudo mesmo... Vestia mine saia jeans e uma blusinha de algodão que deixava ver que não usava sutiã. Chinelinho de miçangas e os tais cabelos negros pintados, contrastando com a pele alvíssima, onde cintilavam um par de esmeraldas nos olhos. Aquela garota era um conto erótico...
Meu amigo me seguiu até o Farol da Barra, onde estávamos eu, Lilith e o primo dela, o Zé Mulher. Em poucos instantes, depois de uma Skol gelada (os tempos eram outros e só tinha Skol e Antarctica), de repente, Lilith encostou em mim, rolou algo diferente, e um beijo selou nosso encontro. Menos de 2 minutos, Lilith mandou om primo vazar, e foi a deixa para eu disfarçar e ligar pro meu amigo “tira”: - Vaza, porque daqui por diante, quem manda sou eu. O circo vai pegar fogo, meu brother...
Antes da terceira cerveja na frente do Farol da Barra, Lilith me disse: - Vamos sair desse lugar cheio de gente e barulhento? Se fosse hoje, eu diria: - Demorô!
Partimos direto para Patamares, no condomínio Kamasutra, uma referência em bem estar de jovens casais apaixonados. Na chegada, pedi as chaves do meu apartamento na Suíte Maravilha, e depois que a porta da garagem se fechou, eu não consegui subir ao apartamento.
Lilith era uma glutona infatigável, começou a minar minhas forças ainda dentro da garagem, naquele Chrysler Stratus enorme, onde ficamos por mais de uma hora. Depois veio o segundo ato, na escada de acesso ao imóvel, onde nos contorcíamos para ajustar técnica e beleza, tateando entre corpos e degraus, tudo que queríamos fazer era entrar, mas uma força nos ancorava.
Lá pelas tantas, o terceiro ato já foi dentro do apartamento Maravilha, mas quando isso ocorreu, já havia chegado o ato final, com a higienização dos corpos, a recomposição das almas, e Lilith me pedindo, encarecidamente para embarcar na sua aventura mais infrequente, e assim ocorreu o último ato, com aquela bruxa sugando todas os meus ânimos, e quase me matando de prazer.
O sol brilhava do lado de fora, e Lilith me pediu para deixa-la em seu endereço de casa, dessa vez no Itaigara, onde segundo ela, morava com seus pais. Daquele lugar até minha casa foram mais 30 minutos. Eu cheguei, tomei banho, dormi 2 horas e já acordei para atender a extensa lista de tarefas agendadas.
Por volta das 20h, cheguei em casa e meu Ericson StarTac chamou. No identificador de chamadas, Lilith. Atendi e ela já esbravejou sorrindo: - O que você fez comigo hoje?
- Você não lembra? Perguntei
- Não lembro de quase nada, acredite! Fale o que fizemos hoje... Disse Lilith
- Então escuta...! Começamos no Farol da Barra, depois fomos ao Kamasutra e lá, você me fez isso, e me pediu para fazer isso, até “encenou” Freud com aquilo que chamou de “perversões”.
- Cara, eu não lembro de nada! Acho que bebi demais, portanto, quero fazer tudo ne novo hoje, sem beber, topa?
Respondi a Lilith algo como se fosse hoje: - Demorô...!
Acho que reconstituímos aquela primeira noite por pelo menos umas dez vezes, mas Lilith escolheu casar com seu príncipe, e eles se mudaram para o interior da Bahia, e desse feito, perdemos o contato, até essa semana, quando Lilith me encontrou através das redes sociais, e me disse: - Acredita que eu ainda não me lembro de tudo que ocorreu naquela primeira noite?
Eu sou CH@MP Brasil, moro no Meio do Mundo, e tudo que mais sei, é que eu não sei de nada!
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