O rapto do papai Noel
Volume 05
Polo Norte
Já passava da segunda quinzena do mês de novembro e a fábrica de brinquedos funcionava a todo vapor. Naquele ano, os pedidos de presentes foram bem maiores que os anos anteriores e papai Noel teve de contratar o dobro de ajudantes para dar conta das encomendas. Duendes e elfos corriam apressados de um lado para o outro, tentando construir um número cada vez maior de brinquedos para atender a todos e até as criaturas da terra da magia resolveram mandar cartinhas pedindo mimos. A princípio papai Noel ficou desorientado por não saber como atender aos pedidos de bruxos e fadas. Mas pensando bem, criança é tudo igual! Pensou o bom velhinho. Embora alguns pedidos eram realmente estranhos.
_O que será que uma vassoura gostaria de ganhar de presente de natal?
Pensou Noel coçando a longa barba grisalha.
_Quem sabe um lindo laço de fita, para amarrar no cabo!
_Daí sim, uma boa ideia!
O problema era que a tal vassoura, chamada *Frida, havia pedido em sua carta, um leque chinês!
_O que uma vassoura iria fazer com um leque? Ainda mais chinês!
Era cada despropósito! Vassoura pedindo leque, bruxas que imploravam por caveiras falantes. Elfos querendo libélulas encantadas. Oh turminha complicada!
Verônica, uma velha rena aposentada dos trenós e que agora trabalhava como assistente de papai Noel, entrou na fábrica entulhada de brinquedos até o teto.
_Papai Noel, chegou um telegrama para o senhor!
_Venha cá Verônica, e traga-me a correspondência. Chamou papai Noel, pensando se tratar de mais uma cartinha com pedidos de presente.
_Bem, é que carteiro disse que o senhor mesmo precisa recebê-la pois terá de assiná-la!
_Que estranho! Pensou o papai Noel. Geralmente as correspondências eram deixadas sem nenhuma cerimônia na recepção da fábrica.
_Peça-o que me aguarde, que em alguns minutos já vou atendê-lo!
Papai Noel terminou de encaixar um par de rodas em um lindo tratorzinho vermelho e o jogou em um grande cesto de brinquedos masculinos. Na fábrica de brinquedos era tudo muito organizado. Porque assim ficava mais fácil na distribuição dos presentes. Papai Noel era muito caprichoso e exigia de seus colaboradores o máximo de empenho possível.
_Deixe-me atender ao carteiro. Vamos ver que telegrama é esse tão importante que tenho até mesmo de assinar! Disse para si mesmo.
Antes de sair chamou por Charlotte, uma jovem rena que sonhava puxar o trenó de papai Noel em uma noite de natal.
_Charlotte, faça o favor de ir encaixando as rodas nos carrinhos. Você é muito jeitosa e conseguirá apertá-las com a ponta do focinho. Mas não se apresse, minha menina! Disse Noel acariciando o alto da cabeça de Charlotte, que adorava ser útil ao bom velhinho.
Na recepção da fábrica, Verônica olhava para o carteiro com desconfiança. Jamais o havia visto no polo norte. Geralmente quem trazia as correspondências era o cavalo alado *Dionísio, e não este carteiro esquisito com cara de hipopótamo.
Mas quando papai Noel surgiu na porta, é que Verônica tem certeza de seus maus pressentimentos.
Ao passar pelo vão da porta uma réplica grotesca do carteiro, que estava muito bem escondida, estendeu os braços e agarrou o papai Noel por trás, prendendo-lhe a boca e esfregando em suas narinas um lenço contendo uma substância química. Papai Noel caiu desmaiado nos braços do monstro.
Verônica tentou correr em direção ao papai Noel para socorrê-lo, mas o falso carteiro lhe deu uma rasteira e a rena de idade já bem avançada caiu estatelada no chão coberto de gelo.
Pouco depois a dupla de falsários vestidos de carteiros desapareceu da fábrica de brinquedos levando o pesado Noel. Verônica ainda pôde vê-los entrando em um velho foguete espacial.
_Meu Deus, para onde estão levando o papai Noel?
_Socorro, alguém me ajude! Eu preciso salvar o papai Noel! Gritava a desesperada rena.
_Charlotte, Chuleke! Onde estão vocês?
Charlotte, com certeza não poderia escutá-la, pois estava atarefada encaixando as rodas dos carrinhos. Mas Chuleke, um cãozinho moleque, que adorava uma bota chulezenta, escutou os gritos de Verônica e apareceu em seu auxílio. Vinha sacudindo uma bota fedorenta que havia acabado de roubar de um elfo descuidado.
_O que foi Verônica? O que faz aí se esfregando neste chão gelado? Perguntou Chuleke.
_Não vê seu idiota que me derrubaram no chão? Mas não se preocupe comigo, corra e peça ajuda. Eles acabaram de sequestrar o papai Noel!
Chuleke mal podia acreditar nas palavras de Verônica. Ele correu em direção à cozinha da fábrica de brinquedos gritando e latindo desesperado.
_Socorro! O papai Noel foi sequestrado! O papai Noel foi sequestrado! E prosseguiu naquela ladainha, deixando desorientados os ajudantes de papai Noel.
Mamãe Noel escutando aquela algazarra, saiu da cozinha com um bule cheio de chocolate com chantilly. E quase derrubou todo o líquido na cabeça de Chuleke, que tropeçou em seus joelhos redondos.
_Que gritaria é essa, Chuleke? Você sabe que Noel não tolera gritos e correrias que desconcentrem os trabalhadores.
Ralhou mamãe Noel.
_É que o papai Noel...
Tentou falar Chuleke com a língua de fora!
_O que aconteceu a Noel? Desembucha logo!
Implorou mamãe Noel.
_Verônica disse que “eles” raptaram o papai Noel!
_Oooooh! Disseram todos, em um único coro!
Mamãe Noel tentava se manter tranquila para acalmar a todos, que já começavam a abrir um berreiro.
_Eles quem Chuleke? Quem haveria de querer fazer mal a papai Noel?
E um rosto rechonchudo e careca surgiu logo atrás de mamãe Noel. Era *Manu, a menina careca, que junto com o cachorro Elvis e *Thomaz o extraterrestre, resolveram dar uma mãozinha na fábrica de brinquedos. Manu chegava da cozinha com outro bule de chocolate quente. Ela e mamãe Noel preparavam lanches para os ajudantes do papai Noel!
_Venha, mamãe Noel! Vamos até Verônica para saber o que aconteceu! E se virou para os elfos e duendes:
_Quanto a vocês voltem ao trabalho! A fábrica de brinquedos não pode parar. Agora, mais do que nunca, papai Noel precisará de nossa ajuda!
E foram até Verônica que estava indignada ao falar da dupla de sequestradores com cara de hipopótamo e por não ter conseguido ajudar o seu velho amigo.
_Dupla de malfeitores com cara de hipopótamo? Que engraçado!
Manu podia jurar que esta dupla de carteiros era velhos conhecidos.
E então a garota careca resolveu agir. Imediatamente se pôs a escrever uma mensagem para sua amiga, bruxa Má.
_Elvis, quero que atravesse o portal mágico na caverna do feiticeiro e leve essa mensagem até a bruxa Má na terra da magia. Nós não podemos fracassar nessa missão. Caso contrário, todas as crianças do planeta ficarão sem presentes. Inclusive você! Pelo que sei você também mandou uma cartinha pedindo uns óculos em 3D para o Papai Noel. Não é mesmo? Tenho certeza de que não vai querer ficar sem os óculos!
Elvis partiu rapidamente para a caverna do feiticeiro, onde ficava o portal mágico. Ele trazia a importante mensagem de Manu, guardada dentro do barril que carregava em seu pescoço.
O cachorro finalmente chegou à terra da magia.
O esperto cão foi direto para a escola de magia. Pois o ano já estava terminando e a bruxinha Má estava às voltas com as provas finais.
A professora dona Bruxoca o viu chegar e foi logo dizendo:
_O que você quer cachorrinho? As matrículas para o próximo ano só serão feitas a partir de janeiro. Até o natal não estaremos recebendo mais ninguém. Deixe para retornar no ano que vem, amiguinho!
Elvis latiu alto e então começou a falar. Em outros planetas, os animais falam como os humanos. Exceto no planeta terra. Mas há quem diga que por aqui mesmo, existem pessoas que podem ouvir os animais falarem. Verdade ou mentira, eu ainda não ouvi nenhum cãozinho me pedindo com licença e nem, por favor!
_Trago uma importante mensagem para a bruxinha Mariana.
_Vou chamá-la para você!
Dona Bruxoca foi até a sala onde estudava a bruxa Ma. Sua professora, dona Bruxilda, estava corrigindo alguns exames de alguns alunos apressados, que insistiam em terminar logo as provas, só para voltarem mais cedo para casa. Mariana estava entre estes apressadinhos. Ela já juntava seu material escolar e jogava tudo sem o menor cuidado dentro de sua mochila negra da *bruxa Braba. Isto mesmo! Era Braba e não Barbie. Braba, era uma bruxinha topetuda que fazia o maior sucesso na terra da magia.
_Bruxa Mariana, tem alguém aqui que quer te ver. Venha comigo, por favor!
_Quem é dona Bruxoca? Só espero que não seja a mamãe, ralhando sobre as notas médias e me pedindo para cursar um período de recuperação. Nem pensar! Pois nessas férias, eu e Frida vamos fazer umas comprinhas em Miami Beach.
Disse a bruxinha Má, receosa de encontrar bruxa Amélia.
Enquanto isso lá fora, Elvis aguardava ansiosamente por bruxa Má. E quando a viu chegando correu em sua direção.
_Elvis! Que bom ver você! Como estão meus amigos da Carecolândia?
E Mariana abraçou com força seu fiel amigo.
_Manu pediu que te trouxesse uma mensagem. Pegue-a dentro do barril!
Mariana tirou o barril do pescoço de Elvis e o abriu, tirando de dentro dele uma mensagem cuidadosamente escrita por Manu.
Na mensagem estava escrito:
Querida bruxa Má
Preciso urgente de sua ajuda. Uma dupla de malfeitores raptou o papai Noel. Eles fugiram em um velho foguete espacial rumo a um lugar desconhecido. Estou suspeitando da participação dos capangas Ding e Dong.
Por favor, ajude-nos! O polo norte precisa de você!
Ass.: Manu careca
_Dupla de malfeitores! Velho foguete espacial? Só faltou Manu ter dito que os tais bandidos tinham cara de hipopótamo! Só podem ser *Ding e Dong! Aqueles monstros frios e desalmados! Será que não pensaram nas crianças?
_Vamos Elvis! Vou preparar em meu caldeirão o feitiço do terceiro olho e descobrir para onde levaram papai Noel.
E os dois amigos partiram para a casa da bruxa Má.
A cachorrinha Lola que sempre esperava a bruxa Má no portão de casa, ficou muito feliz ao rever o antigo companheiro, pois certa vez o cachorro Elvis e o careca Ben, as havia salvado da ira dos meninos da Carecolândia. E enquanto os dois cachorros colocavam os latidos em dia, bruxa Má preparava a porção mágica que iria mostrar onde encontrar o papai Noel.
O tempo passava e nada da bruxinha Má localizar o paradeiro de papai Noel. A danada da porção não funcionava de jeito nenhum.
-Olho vesgo de morcego
Olho cego de dragão
Terceiro olho me mostre
Papai Noel no fundo do caldeirão.
Abracadabra!
Mas nada aconteceu!
_Meu Deus! O que será que está faltando para essa maldita porção encantada funcionar?
_Ah já sei! Como pude me esquecer! Falta a unha de camundongo e duas pimentas dedo de moça. Papai Noel que me aguarde!
Assim que Mariana jogou os ingredientes que faltavam, ela enxergou no fundo do caldeirão um velho castelo. E de repente ela o viu. E não é que ele estava aprisionado no castelo mal assombrado do *guardião Alfredo? E o que era mais estranho é que Noel não estava preso no porão escuro onde o terrível guardião prendia suas vítimas. Parecia que papai Noel estava preso em um quarto.
Na fumaça embaçada do caldeirão, a bruxa Má ainda avistou um grande retrato onde apareciam duas crianças felizes e abraçadas, onde também se via uma rena e um cachorro de orelhas levantadas. Uma foto muito estranha que não combinava em nada com a tristeza daquele castelo.
_Que crianças seriam aquelas? Perguntou-se Mariana muito curiosa.
_É melhor partir logo em busca do papai Noel. E quando saía, uma voz muito fraca vinda do caldeirão a deteve:
_Bruxinha Má, leve consigo a estrelinha mágica *Matilde. Pois somente ela poderá levar o amor até o guardião Alfredo.
_Não entendi caldeirão falante. Por que levar Matilde?
Mas o caldeirão não respondeu. A voz mágica havia se calado. E o jeito foi levar Matilde, já que o caldeirão havia lhe dito que ela ia precisar da estrelinha para salvar o papai Noel.
E assim Mariana subiu na magricela Frida, que estava desgostosa em fazer essa viagem para a terra. Logo hoje passaria na tevê o sorteio do sortudo ganhador do prêmio: “Passe o dia com a bruxa Braba.” Ídolo teem das bruxinhas da terra da magia. Apesar de Frida não estar nem aí para a bruxa Braba. Ela queria mesmo era conhecer Justin bruxo, de quem era fã de carteirinha. E como Justin era o namorado da Braba, Frida tinha certeza de que ele estaria incluído no pacote do prêmio.
Assim sonhava a vassoura Frida.
_Vamos logo Frida! E pare de sonhar com o mascarado do Justin Bruxo. Você devia era dar uma chance para aquele cabo de vassoura que auxilia a dona Bruxíola nas aulas de voo. Já percebi como ele suspira por você!
_O quê? Você enlouqueceu bruxa Má? O que uma vassoura cor de rosa como eu ia querer com um reles cabo de vassoura sem dinheiro e que nem cor tem. E como se não bastasse ainda se chama Tonho!
Respondeu Frida, que tinha mania de grandeza.
_Então deixe de frescuras e vamos dar uma voltinha no planeta terra. O dever nos espera. Venha logo!
_ Iupiiie Frida! Gritou Mariana.
Elvis também queria ajudar a resgatar o papai Noel. Mas Mariana achou melhor que ele voltasse para o polo Norte e avisasse a todos que ela já sabia onde o papai Noel estava e que ela já estava indo salvá-lo.
Elvis deixou a terra da magia e partiu em direção ao polo norte. Ele havia concluído com êxito a missão em que Manu o confiou.
Mariana, Frida e Lola vão deixando para trás a terra da magia. Elas vão em direção ao planeta terra para salvar o papai Noel. Lá do alto, ainda entre as nuvens, bruxa Má avistou a torre do castelo do Arrepio*. Àquela hora desabava do céu uma tempestade de sinistra cor vermelha. Nem mesmo as nuvens gostavam que suas cálidas gotas caíssem sobre aquele antro de maldades. E muito sentidas, elas choravam lágrimas de sangue.
E foi durante a tempestade vermelha que a bruxa Má aterrissou naquele lugar maldito. Lugar que apesar de familiar lhe causava calafrios.
Frida e Lola entraram no castelo com Mariana. Apesar das negativas da menina que insistia em entrar sozinha. Elas também queriam ajudar a encontrar o bom velhinho.
As três empurraram a velha porta que se abriu com um estrondo. Percorreram quase todos os cômodos escuros do velho castelo. Mas nada do papai Noel.
_Onde será que o guardião Alfredo prendeu papai Noel?
Mariana e a turminha foram até a cela magnética que ficava no fundo do porão. Mas graças a Deus, não havia ninguém preso naquela cela maldita.
De repente ela ouviu uma voz bem baixinha vinda de seu peito, até parecia que a voz saia de seu coração:
_ Ei bruxa Má! E aquela fotografia de crianças que você viu no fundo do caldeirão?
Gente do céu! Mariana havia se esquecido completamente de Matilde, a quem ela havia prendido em um cordão e amarrado em seu pescoço!
_Oh, me desculpe Matilde. Nem me lembrava de que você estava comigo. Mas você tem razão. Havia mesmo um velho retrato com a imagem de duas crianças. E crianças gostam de travessuras. Será elas estariam escondendo o papai Noel?
_E quem seriam aquelas crianças?
Mariana de repente se lembrou de que ao aterrissar no castelo, havia avistado no alto da torre uma pequena janela com um lampião aceso.
_Já sei! Vamos sair daqui de dentro desse porão fedido, tenho a impressão que a resposta está em outro lugar!
Ao saírem do castelo, Mariana subiu em Frida e deu ordens a vassourinha destrambelhada:
_Preste atenção, Frida, você nos deixará na janela da torre. Mas terá de ficar sobrevoando ao redor dela, pois se estivermos em apuros e caso seja preciso nos atirar pela janela você nos apanhará no ar. E Mariana continuou falando:
_Está me escutando não é, sua avoada? Esqueça um pouco do Justin bruxo, ouviu bem? Caso alguma coisa nos aconteça você ficará com remorsos. E você não quer que Lola e eu venhamos a nos transformar em bifinho de cachorro. Está certo, Frida?
Frida fez um biquinho com a boca:
_Que é isto, bruxa Má? Quando você não pôde contar comigo, sua bruxa ingrata! Disse Frida ofendida.
A vassoura as deixou na janela da alta torre do castelo, e logo depois Mariana e Lola pularam para dentro da torre. Mas antes de entrar, a bruxinha gritou:
_Frida, lembre-se de que ainda não sabemos voar!
E começaram as buscas na torre do castelo. A torre que parecia muito pequenina ao longe, na verdade era muito espaçosa. De repente, Matilde cutucou no pescoço de bruxa Má falando baixinho:
_Ouçam! Estou escutando vozes alteradas bem aqui por perto. Vamos fazer silêncio para tentar ouvir de que direção elas vem!
Elas foram andando vagarosamente, até que chegaram a uma porta que estava presa por uma corrente de forma bem grosseira, como fazem as crianças.
Havia mais de uma pessoa no quarto e Mariana desconfiou que fosse o guardião Alfredo que estivesse junto com papai Noel.
_O que um homem ruim como o guardião Alfredo iria querer com uma pessoa meiga como o papai Noel? Pensou Mariana.
Mariana ficou escutando a conversa por trás da porta, até decidir o que fazer. Ela não tinha medo do guardião Alfredo, já o tinha enfrentado uma vez e não hesitaria em enfrentá-lo pela segunda vez.
Aos berros o guardião gritava com o papai Noel:
_Eu vou te destruir, do mesmo jeito que você fez comigo um dia!
E papai Noel respondeu:
_Meu irmão, eu nunca pretendi te fazer mal. E se fiz alguma coisa que tenha te tenha magoado, coloque pra fora neste momento e tudo farei para que me perdoe. Quantas vezes eu quis te encontrar. Mas você sempre fugia, nunca quis falar comigo. Mas uma coisa eu sei, meu irmão, você sofre! E nesse eterno sofrimento você também me faz sofrer. Minha vida que sempre foi rodeada de alegrias, nunca foi completa, pois, sua ausência deixou um grande vazio em meu peito. Porque eu não tinha do meu lado o carinho de meu único irmão!
_Irmão?
Matilde, Lola e bruxa Má, mal podiam acreditar no que ouviam.
O guardião falou, agora com mais raiva:
_ Agora você me chama de irmão. Mas ao me roubar Verônica, você se esqueceu de que era meu irmão, não é?
_Jamais te roubei Verônica! Se diz isso porque desapareci com ela é por que você ia matá-la e eu não suportaria que fizesse mal a ela. Apesar de ser meu irmão e Verônica o seu animal de estimação, ela merecia viver!
_Eu nunca quis ferir Verônica. Eu disse que a mataria porque fiquei com ciúmes de sua amizade com a minha rena favorita. Naquele dia que ela saiu com você e o cachorro Trovão ela voltou tão feliz e encantada com sua bondade que achei que Verônica não gostava mais de mim. Eu amava Verônica e jamais faria algo ruim a ela. Verônica foi o animal que mais amei. E também meu único bicho de estimação. Quando você sumiu com ela e tempos depois, voltou dizendo que Verônica havia morrido, eu me tranquei dentro de mim e a partir de então me tornei um carrasco que jurou destruir a todos que se aproximassem de mim. Você havia me roubado a felicidade.
_Se te roubei a felicidade, eu ainda posso devolvê-la, não é?
_Do que você está falando?
_Meu caro, Verônica, apesar de ser muito velha ainda vive e talvez seja hora de vocês matarem a saudade e serem felizes novamente. Ela também nunca te esqueceu, e ainda guarda como lembrança um velho retrato de quando você ainda era uma criança e que nunca teve coragem de tirar do pescoço!
Mariana saiu detrás da porta estupefata.
_É verdade papai Noel, que este monstro feioso é seu irmão? Mas não pode ser! Vocês são tão diferentes. Diga-me que isto é mentira?
Mas papai Noel docilmente lhe respondeu:
_É verdade, minha filha. Alfredo é mesmo meu irmão, e ele não é tão ruim como você pensa. Foram as provações de sua vida que o deixaram assim tão amargo.
E enquanto papai Noel falava, o cordão que envolvia o pescoço de Mariana, caiu ao chão. Alfredo se aproximou e foi logo se agachando para pegá-lo e devolver a menina. Mas quando foi pegá-lo, ela gritou:
_Tire suas mãos sujas de Matilde, seu monstro. O que pretende fazer?
Alfredo humildemente respondeu:
_Nada, eu só ia pegá-lo para você!
Matilde caída no chão disse:
_Envergonhe-se bruxa Má. Alfredo só queria te fazer uma gentileza apanhando-me do chão. Não é mesmo Alfredo? E já que você está agachado, tire-me agora deste chão frio!
Ainda nas mãos do guardião, Matilde pediu a Alfredo que a encostasse em seu rosto, para que pudesse o beijar como forma de agradecimento. Com reservas, Alfredo levou a estrela até o seu rosto feio, e quando a estrelinha mágica tocou os lábios em seu rosto frio, a magia aconteceu.
Alfredo, que antes era feio e deformado, foi se encolhendo. Ele, que outrora, havia feito um pacto com as bruxas do mal, para se tornar um monstro imortal, com o beijo amoroso de Matilde, adquiriu sua antiga forma humana e foi ficando cada vez mais jovem. De repente Alfredo se transformou no menininho do retrato que Mariana havia visto no caldeirão.
Agora sim, Alfredo iria recomeçar a sua vida de novo. Ao lado de quem ele amava e que tanta falta fizeram, seu irmão Noel e a rena Verônica, de quem ele nunca se esqueceu! A vida dera-lhe uma nova chance!
Papai Noel já refeito do encanto disse:
_Agora vamos turminha, as encomendas para o natal precisam ser terminadas. Vamos todos para a fábrica do polo norte e toda a ajuda será bem-vinda.
_ôh, ôh! Tenho a impressão que a Frida vai ter que suar a camiseta para carregar todos para o polo norte! Pensou a bruxinha Mariana.
Mas Frida que estava bem atenta a tudo que se passava na torre mal assombrada já havia enviado uma mensagem para a rena Verônica.
O cavalo Dionísio havia passado por ali alguns momentos antes, levando a maga Quitéria para uma convenção de bruxas no polo norte. E Frida não perdeu tempo, pediu-o que comunicasse a Verônica e a família Noel para buscar o sumido Noel, que agora estava são e salvo
Mariana gritou:
_Frida venha logo nos buscar, há mais passageiros para o polo norte e é você quem vai levá-los.
_Você que acha bruxa Má! Pensou Frida maliciosa.
Logo depois estavam todos lá embaixo fazendo planos para o retorno ao polo norte. O menino Alfredo era o mais afoito, estava louco em reencontrar Verônica. Frida se espantou em como Alfredo se tornara um belo garoto e nem dava para acreditar que até agora a pouco ele fora um monstro frio e sanguinário.
_Bem, é como dizem por aí, um verdadeiro milagre de natal! Ou melhor dizer:
_Um verdadeiro milagre de Matilde!
Disseram juntas Lola e bruxa Ma.
De repente surgiu no céu do planeta terra um belo trenó puxado por uma rena bem velhinha e ao seu lado dois ajudantes a auxiliavam, puxando vigorosamente o trenó com a mamãe Noel dentro dele.
Os ajudantes de Verônica eram Chuleke e Charlotte, que orgulhosos puxavam o trenó natalino. Foi uma emoção sem tamanho.
O trenó com a idosa Verônica aterrissou. Ela olhou com alegria para papai Noel, impedida de abraçá-lo, porque estava presa ao trenó, mas se assustou quando seu olhar se cruzou com um lindo garoto.
_Alfredo, meu amiguinho é você?
E mesmo impedida pelo trenó, Verônica chorou, desvencilhou-se furiosamente das amarras que a prendiam ao trenó e correu ao encontro de seu grande amigo do passado.
_Sou eu mesmo amiga! Como sonhei com este momento, me perdoe Verônica!
Lágrimas o impediam de continuar falando.
_Nada tenho para te perdoar. Você já sofreu muito todo esse tempo sem a família ao seu lado. Vamos esquecer o passado e recomeçar tudo novamente! E me parece que você já encontrou a fórmula da eterna juventude, não é?
_Foi o amor que me deixou assim, Verônica!
_E vai deixar você também!
Murmurou uma suave voz ao longe. Era de novo Matilde, que com o seu poder do amor, dava também a Verônica outra oportunidade de viver os dias perdidos ao lado de seu amigo, e agora com certeza, jamais se separariam novamente!
A volta para casa foi só de alegrias. Mariana resolveu ficar no polo Norte ajudando na fabricação de brinquedos. Como já havia passado de ano na escola, a bruxa Amélia a deixou ficar por lá.
As férias em Miami ficariam para o próximo ano, até por que Mariana queria que Cora também fosse com elas. Mas a bruxa Cora estava andando muito ocupada aqueles dias, procurando incessantemente por sua mãe, a bruxa Lila.
Lila havia se transformado em uma perereca verde. Deixando o sapo de bigodes Jeremias, completamente apaixonado. A ponto de o batráquio trancafiá-la em uma gaiola e desaparecer com a perereca. O sapo só queria uma vidinha tranquila e não mais desejava roubar o reino de *Katitu. Que este ficasse com a perereca *Katarina! Agora ele só queria era casar-se com a perereca Lila e ter um monte de sapinhos. Resta saber se a perereca queria o mesmo que Jeremias. Mas pelo jeito Lila não tinha opção.
Mundo pequeno este! A gaiola onde a bruxa Lila estava presa era a mesma que um dia ela havia prendido Lola no teto. Coisas do destino. Mas apesar de tudo isso, Cora ama muito a sua malvada mãe. E havia ido até Verdugo tentar um acordo com o sapo Jeremias. Soltar Lila e transformá-la em bruxa novamente.
Será que Cora conseguirá?
Frida foi a feliz ganhadora do prêmio “Passe o dia com a Bruxa Braba”.
Surpresa?
Não! Ela escreveu a maior parte das cartas. E era quase impossível não ganhar!
_Ah, como seria o Justin bruxo? Sonhava a vassourinha prestes a realizar seu sonho.
Alfredo passou a viver com papai Noel, que agora o tratava mais como filho do que como irmão. O que não deixava de ser verdade, já que o guardião não passava de um garotinho de sete anos. Alfredo teve uma nova chance de ser feliz ao lado de Verônica e do amor que não havia tido no passado se tornando um ser humano melhor. O *castelo do Arrepio foi doado pela antiga proprietária Charlotte, para *Pietro, aquele mesmo que havia roubado o arco íris para realizar um pedido de seu filho enfermo.
Pietro agora era pai adotivo de quarenta e cinco crianças. E mais tantos animais, que era impossível contá-los, de tantos que eram. O castelo nunca foi tão feliz e tão bem frequentado. No dia em que Pietro chegou ao castelo, com o bando crianças à tiracolo, as nuvens do céu resolveram dar uma ajudinha ao bom homem na limpeza da casa. Desabaram uma chuva cristalina para fazer uma faxina e retirar toda energia negativa do antes castelo do arrepio.
E choveu tanto, que a limpeza foi total. Depois para coroar com êxito a nova moradia de Pietro e das crianças abandonadas as nuvens brindaram ao castelo com uma belíssima chuva de pétalas de rosa, dando boas-vindas a Pietro e seu séquito de crianças e animais abandonados. Seja bem-vindo Pietro! Seja bem-vindo todo o amor do mundo.
No dia de natal, Frida se abanava com o leque chinês preso na calda! Ela ainda não possuía braços. “Ainda”. Porque no próximo ano dona Bruxilda iria ensinar como criar braços para as vassouras mágicas. Frida mal podia esperar para encher os braços de pulseira de cigana. Ela ia ficar linda! Justin bruxo se encantaria ao vê-la!
“Passe o dia com a bruxa Braba”
Uma equipe de tevê acompanhava aquele evento.
_Bruxa Má deve estar se roendo de inveja em me ver na tevê. Pensava a esnobe Frida, aguardando a famosa bruxa Braba e seu namorado Justin.
De repente os flashes começaram a espocar e o famoso casal surgiu no estúdio. Lindos e maquiados.
_ Meu Deus! O Justin bruxo estava usando batom e lápis delineador! Será que ele roubou a penteadeira da bruxa Lila?
Frida nunca havia visto um homem tão maquiado. Pensando bem...
_Ai que saudade do Tonho! Aquele sim! Era “o” cabo de vassoura!
Fim
Notas do autor:
*Frida: Vassoura cor de rosa da bruxa Má;
*Dionísio: Cavalo alado que habitava a terra da Magia;
*Ding e Dong: Monstros com cara de hipopótamo que faziam o serviço sujo para o guardião Alfredo;
*Manu careca: Moradora da Carecolândia que construiu uma cadeira de rodas voadora;
*Tomaz o extraterrestre: O ET ajudante de Manu;
*Carecolândia: Reino dos meninos carecas;
*Elvis: Cachorro de Ben careca;
*Terra da Magia: Planeta da bruxa Má e onde vivem os seres encantados;
*Dona Bruxoca: Professora que ensinava aula de voo em vassouras mágicas;
*Dona Bruxilda: Professora do segundo ano da bruxa Má;
*Lola: Cachorra da bruxa Má;
*Bruxa Braba: Artista e ídolo das crianças da terra da magia;
*Justin Bruxo: Bruxo cantor e namorado da Bruxa Braba;
*Maga Quitéria: Feiticeira que tinha o dom de tornar-se invisível;
*Bruxa Amélia: Mãe da bruxa Mariana;
*Castelo do Arrepio: Morada do guardião Alfredo;
*Guardião Alfredo: Monstro imortal que vivia aprisionado nas profundezas de seu castelo;
*Ben careca: Líder dos meninos carecas e futuro rei da Carecolândia;
*Lila: Rainha das bruxas que fora transformada em perereca;
*Sapo Jeremias: Sapo que outrora quis roubar o reino de Katitu;
*Cora: Bruxinha boa e filha da malvada bruxa Lila;
*Pietro: Humano que roubou o arco-íris para realizar o desejo do filho;
*Charlotte: Herdeira do castelo do arrepio (Mariana e a bruxa do castelo Volume 01)
Síria Malta