A Espada de Quintus Fulvius

Por Alan Marcos

Quintus Fulvios desejava muito conquistar sua liberdade, pois não aguentava mais lutar nas arenas do Coliseu. Seus braços estavam cheios de cortes, suas pernas também. As costas estavam repletas de arranhões causados pelos tombos na arena ou patadas de animais selvagens. E para piorar, um imenso machucado no rosto ardia dia e noite. Tratava-se de uma marca da última batalha contra um escravo trazido da província da África.

“Eu ainda serei livre”, pensava o famoso gladiador Quintus Fulvius. Os gladiadores podiam ser prisioneiros de guerra ou escravos e dependiam dos seus “donos” para serem libertos. Quintus não acreditava que seu dono desejava libertá-lo tão cedo e por isso decidiu pedir ajuda ao deus Marte.

Certo dia, Quintus entrou no templo de Marte, ajoelhou-se e suplicou a ajuda do poderoso deus da guerra, dizendo: “Grande e poderoso deus da guerra, que minha próxima batalha na arena seja a última para que eu possa aposentar minha espada e meu escudo”.

No dia do combate Quintus chegou no Coliseu acompanhado de outros gladiadores e seus donos. O local estava lotado, repleto de patrícios e plebeus. O império Romano usava a política do pão e circo para manter a população distraída. Todos no Coliseu estavam alvoroçados, aguardando mais uma luta sangrenta. Naquele dia, os organizadores decidiram mudar o espetáculo e, ao invés de Quintus lutar contra outros homens na arena, dessa vez lutaria com um tigre. Seria sua última luta?

Pouco antes de ser jogado no combate contra o animal, um velho andarilho vestido com uma túnica preta, aproximou-se de Quintus e tirou um pequeno gládio vermelho da veste. O velho disse:

— Com essa espada vencerás!

Quintus não teve tempo de questionar o velho, pois logo as grades se abriram e ele foi lançado na arena com a fera. O animal estava furioso e ao ver o homem aparecer do outro lado, começou a correr em sua direção. Quintus lembrou das preces que fez ao deus Marte, levantou a espada bem alto, posicionou as pernas, enrijeceu os braços e esperou o animal se aproximar. O tigre deu um salto em direção ao gladiador, mas este deu-lhe um golpe tão poderoso que o animal foi partido ao meio. A multidão ficou pasma e nenhum aplauso foi ouvido naquele momento. O imperador assistia, sem palavras.

Longe, no canto da arquibancada, Quintus ainda ensaguentado, conseguiu enxergar o andarilho de capa preta que aplaudia e sorria. Era o próprio deus Marte disfarçado observando orgulhoso o poder de sua espada. Depois da luta, Quintus passou a ser temido. Surgiram rumores de que ele teria sido ajudado pelo deus da guerra. O dono de Quintus, temendo ser punido pelos deuses, liberou-o da escravidão de ser gladiador. Quintus partiu e nunca mais foi visto em Roma. Dizem que se tornou ferreiro.

Alan Narcizo
Enviado por Alan Narcizo em 10/11/2024
Reeditado em 10/11/2024
Código do texto: T8194123
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