O Toque da Morte - Livro 02 - A Rosa do Deserto - Parte IV - Uma Terrível Tragédia

A batalha entre elas estava mais feroz do que nunca. E no meio de tudo isso, aconteceu uma cena bastante assustadora.

Descobrimos que aquelas pessoas que passamos durante nosso trajeto no deserto, eram múmias a serviço de Tiyet.

E não estavam brincando. Foram com tudo pra cima de nós e tivemos que nos reagrupar rapidamente na tentativa de resistir ao ataque maciço das múmias.

Com muito custo, conseguimos repelir o ataque e estávamos a ponto de ceder quando a sorte apareceu para equilibrar as coisas.

Nephyr fez um estrago considerável não somente nas tropas de múmias como na própria Tiyet dando tempo necessário para executarmos o plano de Vareen.

Se desse certo a combinação de meus tiros de rifle com os raios de Caleb e os mísseis mágicos de Vareen, Tiyet seria aniquilada com a vitória sendo nossa e a paz em Sebua estabelecida com Nephyr como a provável nova lorde do domínio, embora seu desejo era voltar a Harakir.

Era hora de acabar com esse caos de uma vez por todas.

Estava tudo pronto.

Chegou a hora do golpe decisivo.

Do ataque final.

* * *

Apesar das dificuldades, o plano corria bem. Caleb e Vareen fizeram uma carga de cavalaria que dizimou grande parte das tropas de Tiyet e aproveitando a confusão reinante, Vareen mandou um míssil mágico na faraó forte o suficiente para atordoa-la.

E estava exatamente na minha linha de fogo. Era a minha chance de mandar uma bala na cabeça de Tiyet e salvar o domínio das mãos de uma tirana que planejava algo terrível com seu povo.

Enquanto estava posicionando-me em um ângulo ideal para o tiro, a batalha seguia encarniçada.

Tiyet também tinha seus truques na manga, segundo uma gíria dementliana, e usou suas mãos para desferir um golpe no chão criando um terremoto com o intuito de desestabilizar Vareen o suficiente pra levar um pedregulho no peito.

Isso foi feito e o clérigo acabou sendo jogado em uma parede ferindo-se seriamente nas costas por causa do impacto.

No entanto, Tiyet havia se esquecido de Caleb e seu cavalo e acabou levando um belo coice. Quando tentou se levantar, o paladino acertou um golpe de espada em suas costas deixando-a ainda mais na minha mira.

Era a chance que esperava pra acabar com tudo.

No entanto, a tragédia aconteceu. O que não percebi é que o rifle acabou entupido pelo excesso de areia do deserto e mesmo limpando a arma todos os dias, acabou ficando uma crosta de areia que acumulou dentro da arma.

E o tiro saiu literalmente pela culatra. O coice foi tão forte que destruiu a arma por inteiro e acabei indo ao chão com o impacto.

O pior não foi isso.

Meu olho direito vazou e estava sangrando muito. Tentei ainda me levantar pra ajudar Caleb e Vareen, mas senti uma forte tontura e minha visão embaçou.

Eu estava cego.

Era o fim de tudo pra mim.

Sem dúvida, Leclerc estava rindo da minha desgraça em algum canto obscuro de Dementlieu ou na Falkóvnia lambendo as botas de seu “mestre” Vlad Drakov enquanto ouve os gritos de mais um inocente torturado por esse monstro.

* * *

Enquanto agonizava com o ferimento, nos meus devaneios não havia mais Caleb e Vareen. Havia o Deus da Guerra e o Deus do Trovão lutando lado a lado.

Pelo que Caleb me contou depois, tentou outra carga de cavalaria, mas Tiyet não caiu na sua armadilha e matou seu cavalo com uma das pedras vindas do chão. O paladino, contudo, escapou com muita habilidade e manteve-se frente a frente com a senhora do Domínio.

Vareen aproveitou a distração e mandou um raio tão forte que a queimou quase por completo.

Meu olho infeccionou e com muita dificuldade, William e Moisés me tiraram da alça de mira de Tiyet, mas não foi o bastante.

Ela os jogou na parede e chegou perto de mim pronto pra acabar comigo. Agarrou-me pelo pescoço e usou uma magia pra drenar minhas forças.

Era meu fim. Tudo estava acabado.

A vingança, a família, meus sonhos, tudo.

De repente, caí no chão de forma abrupta e de relance, vi Tiyet sendo jogada para trás.

Eu estava salvo.

Graças aos dois velhos teimosos.

* * *

Vareen e Caleb lutavam como demônios naquele momento. O paladino acertou um belo golpe em Tiyet, mas teve seus poderes selados e o clérigo mandou outro raio nela o suficiente para atordoa-la.

Enquanto isso, Nephyr e um já revigorado Moisés acabaram com as últimas múmias e assim que foi feito, ela e Tiyet se confrontaram novamente com ataques de parte a parte. William me tirou do alcance da luta e curou-me com sua magia, mas não pode fazer nada com meu olho direito destruído. Apesar das suas arengas religiosas, o garoto mostrou ser um bom guerreiro e aos gritos de “Adonai está ao meu lado!!” liquidou três múmias a sua frente.

A luta continuava feroz entre as duas rosas e Vareen conseguiu libertar Caleb do selo mágico já preparado para um novo ataque.

Tiyet estava enfraquecendo com os ataques constantes de Nephyr e foi nesse instante que a batalha acabou sendo decidida graças a dupla de “deuses”.

Caleb acertou uma bela punhalada nos braços de Tiyet, perfurando-a tão forte que a jovem lorde do domínio se desestabilizou chegando a quase cair no chão.

Vareen então usou uma das pedras mágicas de seu bolso pra aumentar a força do míssil mágico acertando-a em cheio e depois usou outra pedra da caverna pra criar uma estaca que acertou seu coração, matando-a de forma dolorosa.

Com o fim de Tiyet, as múmias do deserto viraram pó e tudo voltou ao normal.

Nephyr havia se recuperado do golpe que levou de Tiyet e ficamos maravilhados com o que vimos debaixo dos nossos pés.

Era água.

William me ajudou a levantar e testemunhamos uma cena impressionante.

A chuva havia retornado ao deserto que virou mar em alguns pontos.

Ali tomei uma decisão drástica. Já que o olho direito estava arruinado, resolvi arrancá-lo com minhas próprias mãos e o devorei.

Claro que ao fazer esse procedimento, a dor seria atroz. Mas nada se compara com a dor que senti de forma moral, porque me portei como um idiota arrogante na batalha.

O castigo foi merecido e ali aprendi uma dura lição. A de ser mais humilde e acima de tudo, entender sobre meu papel neste grupo. O de não bancar o herói o tempo todo, e sim ser um apoiador constante aos meus companheiros.

Mas agora uma nova realidade estava por vir e teria que me adaptar a uma situação completamente diferente.

A de caolho, como Caleb jocosamente me proclamou. A de atirar com apenas um olho e aprender a lutar a curta distância com minhas duas armas, a espada goblin e a nova que adquiri em Sebua.

Apesar de todos os pesares, conseguimos outro grande feito. Derrotamos a lorde de Sebua e aparentemente trouxemos a paz a este domínio.

Ou o caos. Nunca saberemos sobre as consequências de nossos atos.

Só espero que Charlotte, Nicolas e Jeanette não se assustem com meu novo visual.

Porque quem deve ter medo disso são os criminosos e assassinos de todos os domínios.

E principalmente meu odiado inimigo François Leclerc.

O velho Jean Capela morreu e nas areias do deserto, nasceu um novo Jean Capela.

Mais forte e mais ativo. E com Caleb, Vareen, William e Nikolai ao meu lado não tenho mais o que temer.

E com certeza, o lorde Dominic terá ainda mais orgulho de mim.

Mas agora, é hora de voltar pra casa.