O Toque da Morte - Livro 02 - A Rosa do Deserto - Parte II - A Estranha História de Caleb e Tiyet

Ficamos surpresos com a reação de Nephyr. Ela simplesmente insultou a lorde de Sebua com palavras difíceis de compreender. A mais bonita delas era “Sua cobra velha!!”

Mas logo saberíamos o real motivo do ódio dela com Tiyet. E é bem mais forte do que se possa parecer.

Tiyet nos contou sua história. Há 500 anos, o marido faleceu junto com sua abençoada esposa. Era uma antiga sacerdotisa de Apóphis e ao ver Moisés, o ridicularizou falando mal do povo dele que fugiu e levou as pragas junto com o objetivo de assolar a terra.

Ela disse ainda que foi duramente castigada por ser Filha do Sol. Mas Nephyr também se autodenomina de Filha do Sol e aí as coisas se confundem ainda mais.

Na minha opinião, uma história interessante, mas fantasiosa demais pra ser verdade, chegando a ser totalmente inimaginável com o estilo prepotente dela.

Pra tirar todas as dúvidas, Vareen usou seus poderes para corroborar tudo o que imaginei dessa estranha mulher.

Em alguns pontos do relato, detectou mentiras, mas por incrível que possa parecer, a história era verdadeira, mas com algumas questões que descobriríamos mais tarde.

Aqui me lembrei de uma conversa que tive com o lorde Dominic anos atrás onde sempre dizia um lema com relação aos lordes de cada reino:

“O que é bom, aproveitamos. O que é ruim, ocultamos.”

Ali tive uma estranha sensação de que as divergências veladas entre as duas terminaria mais cedo ou mais tarde em um confronto aberto.

Em outras palavras, guerra total.

Me fez recordar ainda daquela visita que fizemos no outro mundo e ali vi os locais falando de uma certa Guerra das Rosas com a diferença de que ali duas casas de estranhos reis lutavam por um país chamado Inglaterra ou algo do tipo.

E aqui teríamos uma versão bem perto de nós.

As rosas do deserto estavam afiando seus espinhos pra jogarem uma na outra com a gente nas pontas cruzadas.

Como sinto a falta de Nikolai nesses momentos. Se aquele baroviano safado estivesse conosco, resolveria este problema a base do “trabalho sujo” com uma e a sua lábia incrível com a outra.

E talvez tivesse mais um ou dois filhos bastardos no caminho.

Mas pra esse tipo de trabalho, havia um substituto á altura. Um certo paladino baroviano chamado Caleb.

E graças a isso, traria imensos problemas com relação a nossa missão.

* * *

A pedido de Nephyr, permanecemos na tenda. Estava incomodada com a presença de Tiyet e notei em seu semblante uma certa má vontade dela em falar sobre isso.

Enquanto isso, a lorde de Sebua mostrava uma arrogância nunca vista. Disse a Vareen que foi transportada pelo toque do faraó e que nada sabe das crianças que encontramos naquela caverna.

Ainda teve a petulância de provocar Nephyr argumentando que não é e nem foi uma múmia e com isso, não ousaria em tomar o reino dela. Ali achei que a pólvora iria explodir na nossa cara e isso só não aconteceu porque Vareen conseguiu persuadir Tiyet prometendo certas, digamos assim, ocorrências.

E Caleb encerrou o assunto com seu velho estilo pé na porta ameaçando usar a magia de silêncio se as duas não calassem a boca. Afinal, o paladino precisaria de um bom descanso em seus ossos já amadurecidos pelo tempo e queria dormir de qualquer modo, seja na tenda ou no oásis.

Depois de uma rápida reunião pra decidirmos o que fazer, fomos a cidade e levamos William a um estabelecimento pra recuperar as forças dele com um belo jantar.

Era necessário. William estava mais nervoso do que o normal desconfiando das intenções tanto de Nephyr quanto de Tiyet naquele momento. Será que sabia de alguma coisa que não sabíamos?

Enquanto isso, Moisés não parava de falar dos milagres de sua religião e do que seu Deus era capaz de fazer até Caleb fuzilá-lo com o olhar com um significado bem simples.

“Fica quieto ou te jogo no meio do deserto, moleque!!”

Aquele paladino realmente odiava a tal religião de um só Deus que dizia a seus arautos o que fazer e que não podia sair um milímetro de suas regras.

Devo dizer que ele tem certa razão a respeito disso. Me sentiria sufocado com este Deus, por isso prefiro Ezra.

Foi nesse momento que Vareen teve uma de suas ideias “brilhantes”. O plano dele era simplesmente convencer Caleb a entrar no templo de Tiyet e conquista-la através do amor sincero e puro.

William e eu ficamos boquiabertos com a bizarra decisão de Vareen “enfrenta-la” dentro de seu próprio templo usando Caleb com a faraó podendo mata-lo sem pensar duas vezes. Caleb balançou a cabeça reprovando esta decisão e apenas Moisés apoiou esse plano maluco dizendo que Adonai estará ao seu lado protegendo-o.

E apesar dos protestos generalizados, Caleb foi ao templo com a cara e a coragem e cheio de amor (e outros propósitos) a dar.

Bastou uma troca de olhares e um sorriso malicioso de Tiyet e voilá. O amor estava no ar entre eles. Beijos, carícias e abraços fomentavam a louca noite de amor de um paladino vindo da Barovia e de simplesmente a lorde do domínio de Sebua.

Certamente sua esposa não vai gostar nada disso quando saber dessa “pulada de cerca” imperial.

Sabia que Caleb era imprudente apesar de ser um bom guerreiro. Mas desta vez ultrapassou todos os limites da imprudência.

Após tudo isso com direito a uma noite de amor de dar inveja a Nikolai, Caleb se sentiu remoçado com uma beldade como Tiyet ao seu lado na cama. Deixou a faraó com as pernas bambas e com o rosto tão rachado a ponto de transformar-se numa múmia.

No fim das contas, era uma armadilha.

O paladino pagaria o preço pela noitada.

Em forma de uma desesperada luta por sua vida.

* * *

Segundo os relatos de Caleb, o combate entre eles fora feroz.

Já havia tomado o dano do ataque inicial de Tiyet, mas escapou graças a sua magia ilusória. Aí houve uma louca perseguição entre eles e na tentativa da lorde de Sebua de detê-lo pra depois subjuga-lo, Caleb usou uma magia paralisante pra contra-atacar.

No entanto, o truque não funcionou e Tiyet o jogou na água com o intuito de afogá-lo como castigo por ter passado a noite com ela e ter sobrevivido da sedução imposta.

Depois do relato da sua “brilhante noitada”, o paladino ficou ainda mais chocado pelo fato de Nephyr estar bem a sua frente.

E estava furiosa conosco pelo fato de enfrentar Tiyet de forma imprudente e inadequada.

Com Caleb, foi pior ainda.

Era a raiva por sua atitude insana e irresponsável aliada ao ódio mortal que tinha com Tiyet.

Uma dura lição tivemos que aprender devido a atitude de Caleb.

Não se brinca impunemente com uma rosa do deserto.

* * *

Ficamos ainda mais atônitos com a reação desproposital de Nephyr. Ainda assim achei justa.

Acertou um belo tapa no rosto de Caleb com a força de um soco. Foi forte o bastante pro clérigo ser jogado pra fora da tenda.

Quanto ao resto de nós, tivemos que ouvir um sermão digno de alunos numa escola primária de Dementlieu. Vareen só balançou a cabeça em reprovação e William e eu ficamos tão envergonhados que tudo que desejávamos era colocar a cabeça na terra como um avestruz e ficar por lá.

Após esse incidente, notamos que Nephyr estava muito triste pela nossa atitude com Tiyet. Ás vezes, devíamos ouvir mais os conselhos das pessoas que realmente conhecem os meandros da vida e não tentarmos atitudes tão temerárias.

O problema é que Caleb e Vareen não são, digamos, pessoas muito pacientes nestas questões. Gostam de arriscar-se em planos malucos e no processo, acaba sobrando tudo pra mim.

“Faça isso, Jean!! Faça aquilo, Jean!!” é o que dizem. Pelo menos nesses casos, Moisés é bem útil me ajudando nas tarefas apesar da cantilena religiosa dele.

E William também me ajuda quando não está totalmente esgotado nos teleportando pra lá e pra cá. Tenho pena dele nesse caso.

A princípio, pensei ser esse o motivo da tristeza da jovem esposa de Ankthepot, mas estava errado.

Era pelo fato dela finalmente ter aceitado sua condição de múmia, ou seja, que realmente foi uma das vítimas do toque mortal do faraó.

Abraçou Moisés como se fosse a um filho e nos mostrou o ferimento do toque mortal que recebeu de Ankthepot naquela trágica noite. Tudo porque o lorde negro de Harakir quis ser imortal.

Bem que o lorde Dominic me alertava sobre tomar cuidado com seus desejos. Afinal, Ankthepot desejou a imortalidade e olha o que aconteceu com ele.

Nesses momentos, Ezra nos conduz ao caminho certo por linhas tortas. Mas não irei entrar nesta discussão teológica nem com Caleb nem com Moisés que acreditam em deuses diferentes.

Mas no fundo eles acreditam nestas mesmas linhas tortas que eu.

Nem tudo foi um desastre. Graças a Caleb e sua “noitada inesquecível”, tivemos uma prova muito importante.

De que Nephyr lutaria por justiça e estaria do nosso lado até o fim.

Uma crucial aliada para o que ainda viria pela frente.

* * *

Encontramos com alguns mercadores e notei olhares estranhos para Nephyr que ainda usava seus trapos de múmia. Outros olharam pra ela de forma mais maliciosa e segundo Moisés, eram pecadores que deveriam receber o castigo divino, olhavam-na como se fosse o avatar do sexo vivo, ou seja, a queriam para “outros fins”.

Ali compramos roupas pra Nephyr e assim que as vestiu, ficamos ainda mais abismados com a beleza da moça. Era mesmo uma autêntica imperatriz a nossos olhos e o figurino foi feito especialmente para ela.

Um dos meus pontos fracos é a péssima habilidade pra negócios e isso ficou muito evidente.

Devido a minha falta de tato neste quesito, acabei sem o cavalo e Caleb ficou tão irritado com esta minha trapalhada que pegou o burro que adquiri passando-o para Moisés e me deixando ir a pé o resto do trajeto como um castigo pela venda impensada do cavalo que deveria ter sido devolvido ao líder dos muçulmanos.

Apesar dos protestos de Vareen e William, o paladino manteve-se impassível e o castigo foi realizado. Agradeci aos dois por tentarem me ajudar, mas Caleb estava certo. Eu falhei miseravelmente na negociação e mereci mesmo esta punição de caminhar com o sol batendo em cima da minha cabeça.

Afinal, vendi o cavalo errado e de uma maneira inadequada. E isso poderia causar enormes problemas. Mas isso significaria apenas uma ninharia pra mim, apenas um aperitivo de humilhação.

Ali nem percebi que devido ao calor, acabei desmaiando e o rifle caiu da minha mão absorvendo um pouco da areia do deserto que entupiu-a no processo.

Isso selaria meu destino mais tarde.

E ainda haveria um castigo muito pior do que perder um cavalo.

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 22/09/2024
Reeditado em 22/09/2024
Código do texto: T8157329
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