(O espírito de Anderson)
Viking Soneca decidiu explorar novas áreas, deixando para trás seu fiel companheiro, Viking Branco. A amizade entre eles, construída ao longo de anos, era inabalável. Quando iam ao banheiro, um sempre emprestava seus rolos de papel higiênico ao outro. Essa camaradagem contagiava todo o setor, entre relatórios, caminhões, do gestor aos conferentes; o amor reinava.
Conferente Jubileu, agora vencedor da CIPA, comanda tudo e todos. Nos últimos dias, ele tem se comportado de maneira estranha, abraçando seus colegas de trabalho e cheirando seus pescoços. A essa altura, já o apelidaram de "Gambá Cheiroso".
No meio desse cenário, novos personagens surgem no mundo dos papéis neves. Clark, com seu olhar penetrante fixo na tela do computador, senta-se na cadeira outrora ocupada por Viking Soneca. Entre notas fiscais e relatórios, nada parece tirá-lo de seu mundo mágico dos papéis neves. Clark respeita quem está à sua volta, mas seu foco é implacável.
Na sala ao lado, Alice, a rainha dos papéis neves, reina em silêncio. Ninguém a vê, apenas escutam sua voz suave que emana de detrás do computador. O sossego de Clark só é interrompido quando o conferente Multiuso chega com suas notas de devolução, sempre bem na hora do almoço. Com a barriga roncando de fome, ele tira os óculos, passa a mão na testa, e seus olhos brilham, quase soltando lasers. Mas respira fundo e diz: "Já faço."
As horas passam e o setor é um microcosmo de peculiaridades. O operador Xexelento não para de lavar os cabelos, sempre impecáveis como um boneco de Olinda. Ele adora falar sobre garotas novinhas, mas só fica com velhinhas, parecendo mais um cuidador de idosas. Odair prefere conversar com os paletes de madeira, garantindo que está tudo bem, enquanto Índio se autoproclama líder de uma tribo indígena de um homem só, sempre reclamando e provocando seu fiel companheiro, Odair.
Conferente multiuso passa o dia andando de um setor para outro. Muitos dizem que ele não faz nada, mas na verdade, ele está sempre observando.
Clark, em um gesto quase místico, chama o multiuso através da telepatia e entrega suas notas. Ele então se levanta, pega sua bolsa, onde guarda sua criptônita, a marmita, e com um olhar determinado, sai voando com sua capa de papel neves. Seu maior inimigo, a fome que roncava em sua barriga, estava prestes a ser derrotado.
Clark saiu em busca de saciar sua fome, mas mal sabia ele que o mundo logístico dos papéis neves estava prestes a enfrentar uma nova onda de caos.
Enquanto Clark almoçava, o operador Xexelento foi surpreendido por uma nova remessa de paletes de madeira que precisavam ser organizados. Decidido a garantir que tudo estivesse "bem" com seus amigos de madeira, ele começou a conversar com os paletes, como sempre fazia. Mas dessa vez, algo estranho aconteceu. Os paletes, que ele acreditava serem seus confidentes, começaram a se mover sozinhos, deslizando pelo chão do armazém. Xexelento piscou os olhos, achando que estava sonhando, mas os paletes continuaram se mover, como se tivessem vida própria.
Enquanto isso, Conferente Jubileu, ainda em sua fase de abraços e cheiradas de pescoço, notou o movimento estranho e decidiu investigar. Ao se aproximar, ele foi surpreendido por um dos paletes que quase o derrubou. "Ei, o que está acontecendo aqui?" ele exclamou, tentando manter o equilíbrio.
Clark, ainda saboreando sua marmita, foi interrompido por uma mensagem telepática urgente de Jubileu: "Clark, temos um problema no setor dos paletes!"
Sem perder tempo, Clark largou sua marmita e correu de volta para o armazém. Quando chegou, viu o caos que se formava. Xexelento estava tentando acalmar os paletes, mas eles não paravam de se mover. Conferente Multiuso, que passava por ali, olhou a cena com curiosidade e comentou: "Parece que até os paletes estão com vontade de dançar hoje."
Alice, a rainha dos papéis neves, ouviu a confusão e decidiu intervir. Ela surgiu em silêncio, quase como uma sombra, e com um comando firme, ordenou que todos se afastassem. Os paletes, que estavam prestes a tomar conta do armazém, subitamente pararam. Um silêncio tenso tomou conta do ambiente.
"Isso não é normal", disse Alice, sua voz ecoando pelo espaço. "Alguém ou algo está manipulando esses paletes."
Todos se entreolharam, preocupados. Clark, sempre calmo e racional, começou a analisar a situação. "Temos que descobrir quem ou o que está por trás disso. Se esses paletes podem se mover sozinhos, o que mais pode acontecer neste setor?"
Nesse momento, Viking Branco entrou no armazém, olhando em volta com desconfiança. "Parece que deixei vocês sozinhos por tempo demais", disse ele, cruzando os braços. "Vamos resolver isso."
E assim, a equipe se preparou para enfrentar o mistério dos paletes dançantes, unindo forças para restaurar a ordem no caótico mundo logístico dos papéis neves.
Viking Branco assumiu a liderança, com sua postura decidida e experiência. Ele sabia que, para resolver o mistério dos paletes dançantes, precisariam agir com inteligência e, acima de tudo, com união.
“Clark, você é o melhor em analisar relatórios e dados. Quero que você investigue qualquer anomalia nas últimas entregas. Veja se há algo fora do comum nas notas fiscais ou nas cargas recentes”, disse Viking Branco, enquanto caminhava pelo armazém, inspecionando os paletes agora imóveis.
Clark se dirigiu à sala de controle, onde mergulhou em uma pilha de papéis, digitando freneticamente no computador. Em poucos minutos, ele descobriu uma peculiaridade. "Viking Branco, encontrei algo estranho. Há uma carga registrada com um peso diferente do habitual. Isso pode estar relacionado ao que aconteceu."
Enquanto Clark investigava, Alice, a rainha dos papéis neves, decidiu que precisava de mais informações. Ela se retirou para sua sala, fechando a porta com firmeza, e se concentrou. Era sabido por poucos que Alice possuía uma habilidade especial de comunicação com o "Reino dos Papéis". Ela podia ouvir sussurros nos arquivos antigos, segredos guardados nos registros. Depois de alguns minutos de concentração, Alice emergiu de sua sala com uma expressão grave.
“Há algo mais profundo acontecendo aqui. Os registros indicam que, tempos atrás, uma carga similar causou um distúrbio, mas foi contida por métodos que não estão documentados. Precisamos descobrir mais sobre essa carga especial”, disse Alice, sua voz carregada de preocupação.
Enquanto isso, Xexelento, que ainda estava meio abalado com o que havia presenciado, decidiu que a melhor maneira de ajudar seria continuar acalmando os paletes. Com um balde de água e um esfregão, ele começou a limpar o chão ao redor dos paletes, murmurando palavras de conforto para eles. Mesmo que não fizesse muito sentido, parecia trazer alguma paz ao local.
De repente, Jubileu, o "Gambá Cheiroso", apareceu com uma ideia brilhante. “E se tudo isso estiver relacionado a algum tipo de magnetismo? Ou talvez… vibrações sonoras? Alguém tem que verificar as condições do piso do armazém.”
Multiuso, sempre atento, decidiu que seria o encarregado de inspecionar o piso. “Deixem comigo”, disse ele, pegando uma lanterna e começando a examinar cada centímetro do chão. Enquanto caminhava, ele notou uma pequena rachadura no piso. "Acho que encontrei algo", disse ele, apontando para o chão.
Todos se reuniram ao redor de multiuso. A rachadura, aparentemente insignificante, emanava uma leve vibração. Clark analisou rapidamente a situação e concluiu: “Isso pode ser o epicentro do problema. Algo embaixo do armazém está causando essas vibrações, e elas estão afetando os paletes.”
Viking Branco decidiu que era hora de agir. “Precisamos acessar o subterrâneo do armazém e descobrir o que está acontecendo. Não podemos deixar que isso continue, ou corremos o risco de perder o controle de todo o setor.”
A equipe, agora mais unida do que nunca, começou a procurar uma entrada para o subterrâneo. Alice, que sempre tinha conhecimento das coisas escondidas, indicou uma passagem secreta atrás de uma pilha de caixas velhas.
“Por aqui”, disse ela, liderando o grupo em direção ao desconhecido. Quando abriram a passagem, uma escada de metal os levou a uma antiga câmara subterrânea. O ar estava frio e úmido, e o som de uma vibração contínua ecoava nas paredes.
No centro da câmara, havia um estranho dispositivo brilhante, coberto de pó e teias de aranha. Viking Branco se aproximou com cautela, tentando entender o que estavam vendo.
Clark, com sua mente analítica, logo percebeu que o dispositivo era algum tipo de gerador antigo, talvez deixado por uma empresa anterior. "Isso deve ter sido reativado por acidente. Precisamos desligá-lo para parar as vibrações."
Mas, antes que pudessem fazer qualquer coisa, o dispositivo começou a brilhar mais intensamente, e uma figura fantasmagórica apareceu diante deles. Era um antigo trabalhador, preso naquele gerador há décadas, cuja energia agora estava se manifestando através dos paletes dançantes.
A figura falou com uma voz assustadora: “Vocês devem me libertar, ou o caos continuará a se espalhar. Eu fui aprisionado aqui por um erro, e só quero descansar em paz.”
A missão agora não era apenas desligar o gerador, mas libertar a alma que havia sido aprisionada por tanto tempo. Com coragem e determinação, a equipe se preparou para enfrentar o desafio final e trazer a paz de volta ao mundo logístico dos papéis neves.
A equipe ficou em silêncio por um momento, absorvendo a revelação da figura fantasmagórica. A vibração no ar era intensa, como se o próprio ambiente estivesse à beira de um colapso. Viking Branco, sempre o líder, deu um passo à frente, determinado a resolver o problema.
"Precisamos entender como libertar essa alma", disse Viking Branco, olhando para Clark, que estava analisando o dispositivo brilhante.
Clark, com olhos fixos na tela de seu computador portátil que trazia consigo, digitou furiosamente, buscando respostas. "Este gerador não é apenas uma máquina comum", começou ele, com a voz carregada de tensão. "Parece que ele foi projetado para canalizar algum tipo de energia espiritual. A alma desse trabalhador está presa aqui por causa de uma falha no sistema de encerramento."
Alice, com sua sensibilidade especial ao "Reino dos Papéis", começou a se concentrar profundamente, tentando se conectar com a energia da alma aprisionada. Ela sentiu uma onda de tristeza e desespero vindo do espírito, que apenas queria ser libertado de seu tormento.
“O espírito está preso em um ciclo interminável”, disse Alice, sua voz suave e séria. “Ele está tentando completar uma tarefa inacabada. Precisamos descobrir o que ele não conseguiu finalizar em vida.”
Enquanto Alice mantinha a conexão, Clark encontrou um documento antigo arquivado nos sistemas da empresa. Era um registro de falecimento de um trabalhador chamado Anderson, datado de décadas atrás. O documento mencionava que ele morreu em um acidente enquanto transportava uma carga importante, que nunca chegou ao seu destino.
"Esse deve ser ele", disse Clark, mostrando o documento ao grupo. "Ele morreu antes de poder completar sua última entrega. Se conseguirmos recriar essa entrega simbólica, talvez possamos libertá-lo."
Viking Branco olhou para os outros, percebendo a urgência da situação. "Vamos precisar recriar essa entrega, mas o que ele estava transportando?"
Multiuso, que havia permanecido atento, lembrou-se de uma lenda antiga contada pelos trabalhadores mais antigos. "Dizem que Anderson estava transportando uma remessa especial de papéis neves, papéis de uma qualidade única, destinados a um cliente muito importante. Mas ninguém sabia o que aconteceu com essa carga."
“Então é isso”, disse Alice, com uma nova determinação em seus olhos. “Precisamos encontrar esses papéis neves especiais e completar a entrega.”
Com essa nova missão em mente, a equipe se dividiu. Alice voltou ao "Reino dos Papéis", buscando qualquer registro ou pista que pudesse levar à localização da carga. Clark, com sua habilidade de análise, vasculhava os dados históricos em busca de informações sobre o destino final da entrega. Viking Branco, Jubileu e Multiuso organizaram uma busca física pelo armazém e seus arredores, determinados a encontrar qualquer traço dos papéis neves especiais.
Enquanto o tempo passava, Alice finalmente encontrou uma pista. Um antigo contrato mencionava uma entrega para um cliente chamado "Sr. Tocha", cujo endereço estava perdido nos registros. Porém, um detalhe chamou a atenção dela: a remessa deveria ser enviada para um local escondido nos subterrâneos do armazém, onde acreditava-se que o cliente fazia transações secretas.
Clark rapidamente rastreou a localização exata do local subterrâneo e, com as coordenadas em mãos, a equipe se reuniu novamente, dessa vez mais profunda no labirinto do armazém. No final de um longo corredor, eles encontraram uma porta trancada, coberta de poeira e selada com cadeados enferrujados.
“É aqui”, disse Viking Branco, forçando a porta com a ajuda de Jubileu e Multiuso. Com um estrondo, a porta se abriu, revelando uma pequena sala repleta de caixas antigas.
Eles abriram uma das caixas e lá estavam: os papéis neves especiais, ainda intactos, como se o tempo não tivesse passado. As folhas brilhavam com uma suavidade sobrenatural, quase como se tivessem sido feitas de luz.
“Precisamos levar isso ao destino final”, disse Clark. “Só assim poderemos completar o que Anderson não conseguiu.”
A equipe, agora carregando os papéis neves especiais, subiu de volta para o armazém. A atmosfera parecia mais pesada, como se o ar estivesse carregado de expectativa. Eles seguiram até o ponto de entrega indicado no contrato original.
Assim que colocaram os papéis no local designado, uma brisa suave percorreu o armazém. O espírito de Anderson apareceu novamente, mas dessa vez sua expressão era serena, livre de dor e desespero.
“Obrigado”, disse Anderson, sua voz ecoando pelo espaço. “Agora posso descansar em paz.”
Com essas palavras, a figura de Anderson começou a se dissipar, e a vibração que antes ameaçava o armazém desapareceu. O gerador, que estava causando o distúrbio, desligou-se sozinho, como se tivesse cumprido seu propósito.
O armazém voltou ao normal, e a equipe suspirou aliviada. Eles haviam resolvido o mistério e libertado uma alma perdida, restaurando a ordem no mundo logístico dos papéis neves.
Viking Branco olhou para seus companheiros, com um sorriso satisfeito. “Mais um dia de trabalho bem feito. Agora, vamos aproveitar essa paz… pelo menos até o próximo caos.”
Alice, Clark, Jubileu, Multiuso e Xexelento se reuniram, sabendo que, juntos, podiam enfrentar qualquer desafio, por mais misterioso que fosse. E assim, a vida no mundo logístico dos papéis neves continuou, cheia de histórias e desafios, mas sempre com a certeza de que, unidos, nada poderia detê-los.
Com a paz restaurada e o espírito de Anderson finalmente em descanso, o armazém parecia mais tranquilo do que nunca. No entanto, no mundo logístico dos papéis neves era sempre imprevisível, e não demorou muito para que novos desafios surgissem.
Continua.....
PAULO PEREIRA
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