Resiliência nas Águas do Tempo
Scaramouche, um lutador cujo pseudônimo carrega consigo a essência da resistência e da adaptação, enfrentou desafios que teriam derrubado muitos. Aos 26 anos, ele experimentou o primeiro grande teste de sua resiliência quando seu barco naufragou nas águas traiçoeiras do Rio Guaíba, no Rio Grande do Sul. Não muito tempo depois, em 1970, um terremoto devastador no Peru abalou não apenas a terra sob seus pés, mas também seu espírito. E mais recentemente, em 2024, ele enfrentou a histórica enchente no Rio Grande do Sul, uma calamidade que trouxe destruição e perda.
Cada uma dessas experiências poderia ter sido um golpe final, uma justificativa para desistir. No entanto, para Scaramouche, elas se tornaram pedras angulares de sua filosofia de vida. "A vida é como é," ele costuma dizer. Para ele, os dissabores do passado são capítulos fechados, lições aprendidas que não devem prender o presente nem ditar o futuro.
Scaramouche acredita firmemente que "a vida são os momentos ainda não vividos, principalmente a vida de hoje." Ele defende que as lamúrias e os arrependimentos do passado devem ficar onde pertencem: no passado. Cada dia é uma nova oportunidade, uma nova luta a ser vencida. Essa mentalidade é o que permite a ele se levantar com mais vigor a cada queda, usando cada adversidade como um trampolim para alcançar novas alturas.
No naufrágio do Rio Guaíba, Scaramouche não apenas sobreviveu, mas também aprendeu a importância da calma em meio ao caos. Ele descobriu que, mesmo quando tudo parece perdido, sempre há uma chance de encontrar uma nova direção, uma nova força. O terremoto no Peru, apesar de sua destruição, revelou-lhe a fragilidade da vida e a necessidade de apreciar cada momento, cada pessoa, cada pequena alegria.
A enchente de 2024 no Rio Grande do Sul foi talvez o desafio mais recente, mas não menos impactante. Vendo sua terra natal submersa e muitos ao seu redor em desespero, Scaramouche emergiu como um símbolo de esperança e reconstrução. Ele acredita que, assim como as águas recuam, a vida também segue adiante, e é nosso dever continuar caminhando, construindo, vivendo.
Scaramouche é um exemplo vivo de que as dificuldades não precisam definir-nos de forma negativa. Pelo contrário, elas podem ser forjas que temperam nossa força e nossa determinação. Com cada golpe que a vida lhe deu, ele se tornou mais resiliente, mais sábio e mais determinado a viver plenamente o presente, sem as correntes do passado.
"A vida não é sobre os desastres que enfrentamos," ele diz com um sorriso sereno, "mas sobre como nos levantamos depois de cada queda." E é essa filosofia, esse espírito indomável, que faz de Scaramouche um verdadeiro lutador, não apenas no ringue, mas na própria arena da vida.
Neri Satter – Julho de 2024 CONTOS DO SCARAMOUCHE