NADANDO NO LAGO SENDO ATACADO POR UMA COBRA
Scaramouche deslizava graciosamente pelas águas límpidas do lago, como um rei em seu trono de cristal líquido. Desde tenra idade, ele se aventurava nessas profundezas refrescantes, conhecendo cada curva, cada pedra e cada sombra daquele santuário aquático. Havia algo de mágico na sensação de liberdade que a natação proporcionava, algo que o fazia retornar ao lago dia após dia, como se fosse seu próprio reino secreto.
Porém, naquele dia, algo perturbou a calmaria habitual das águas. Scaramouche sentiu uma correnteza sutil, uma presença furtiva que o fez erguer a guarda. Conhecia bem os habitantes do lago, incluindo as cobras que, apesar de habitarem aquelas águas, tendiam a evitar a presença humana. No entanto, algo estava diferente naquela tarde ensolarada.
Enquanto suas braçadas cortavam a superfície espelhada do lago, Scaramouche percebeu um movimento sinuoso ao seu redor. Um arrepio de alerta percorreu sua espinha quando avistou uma serpente deslizando sorrateiramente na direção dele. Embora soubesse que as cobras do lago não eram venenosas, uma sensação de inquietação o invadiu.
Antes que pudesse reagir, sentiu uma pressão aguda em seu pé, seguida de uma dor lancinante. Uma mordida! A serpente, agindo contra toda a lógica, tinha desferido um golpe. Instintivamente, Scaramouche chutou com força, afastando o réptil intruso. A água se agitou em redemoinhos de pânico, mas logo a criatura desapareceu, deixando para trás apenas uma lembrança ardente.
Ofegante e aturdido, Scaramouche nadou apressadamente em direção à margem. Seu pé latejava com a dor do ferimento, e o sangue manchava as águas tranquilas. Era um lembrete cru de que, mesmo em seu refúgio seguro, o perigo podia espreitar.
Apesar do susto, Scaramouche não se deixou abater. Determinado, ele escolheu não deixar que o incidente arruinasse sua paixão pela natação. Com resolução renovada, mergulhou de volta nas águas frias, sua determinação firme como as rochas que cercavam o lago. Sabia que o encontro com a serpente era apenas uma nota discordante em sua sinfonia aquática, uma experiência que, embora dolorosa, não o impediria de desfrutar da beleza e da liberdade que o lago lhe oferecia.
Neri Satter – Abril de 2024 CONTOS DO SCARAMOUCHE