Uma Noite em Moscou

Capítulo 1: Recordações Noturnas.

É uma noite bela, lá pelas 19:17 horas, muitos cidadãos de Moscou faziam coisas de seu cotidiano, talvez alguns estivessem observando a bela lua, mas o foco é um homem esguio de aparentemente 28 anos, ele usava um chapéu coco preto, uma jaqueta preta com um terno social de mesma cor por baixo, a sua mão direita está segurando uma pistola e a mão esquerda está em sua barriga onde há um enorme buraco de bala, o homem anda com passos lentos, ele está no telhado de um prédio e ele chega na borda do telhado.

-A máfia russa surgiu como retaliação aos gulags soviéticos e agora morreu como uma retaliação também, a vida de um mafiosos é cheia de dinheiro, mas também de ações horrendas, gosto de ver tudo o que aconteceu até aqui como uma punição, talvez, bem Bozhe, pomiluy menya (Deus, tenha piedade de mim).

-O homem encarou o horizonte e olhou para a lua, talvez fosse a última vez em sua vida que ele a visse, as memórias de como foi parar ali naquele caminho começaram a correr em sua mente, se ele tivesse seguido outro caminho, será que as coisas teriam mudado?

Capítulo 2: Um Tempo Antes de Tudo.

É possível ver um homem esguio de aparentes 28 anos, com olhos verdes e cabelos pretos deitado em uma cama de solteiro abaixo de um cobertor branco com pétalas desenhadas, à esquerda da cama há uma mesa de cabeceira com um celular por cima, na parede da direita há um armário e ao lado desse armário há uma janela coberta por cortinas brancas o celular faz um “bip”, o homem pega o celular e o desbloqueia, ao abrir, ele vê uma mensagem dizendo “Privet (“olá” em russo), Ivan. Então, vem pra cá logo que o chefe tá daquele jeito”, Ivan levantou impaciente e mandou “Já tô indo”. Ele abriu seu armário e vestiu-se com uma calça de moletom preta, um terno e um casaco preto o frio era infernal.

Ivan abriu a porta de seu quarto, ele morava em uma pensão barata, ele agora estava do lado de fora, estava nevando, havia dois quartos do seu lado. Ele desce as escadas rapidamente e entra em seu carro, o homem dirige até uma rua bem vazia com apenas um prédio comercial, Ivan entra em uma loja de conveniência bem vazia que era um óbvio esquema de lavagem de dinheiro, a maioria das prateleiras não tinha nada, mas ao final da loja há um balcão e um atendente que é um jovem de 18 anos ruivo, usando calça e blusa jeans, e um boné, seus olhos são castanhos.

-Ivan, faz tempo que a gente não se vê, como cê tá? Diz o atendente num tom de voz bastante animado.

-Poderia tá melhor. Responde ele.

-Ivan foi até os fundos da loja no depósito, lá tem uma escada com degraus de madeira, ele desceu as escadas e foi para uma sala cheia de mesas com pessoas comendo e conversando, havia um relógio eletrônico na qual apontava 8:28 horas da manhã do dia dois de fevereiro de 2007, ele começa a andar até que para em uma mesa com três pessoas: um homem de cabelos pretos, olhos pretos e usando terno preto e uma gravata branca, era seu mentor Victor Vladislav; ao lado de seu mentor há uma mulher de 20 anos de cabelos castanhos, olhos azuis, ela usa um casaco preto com uma veste branca, era sua parceira de equipe, Irina Yaroslavna abaixo; e na frente dos dois, tem um homem de 23 anos de cabelos loiros, olhos azuis, vestia um casa de tricô bege e por baixo usava uma blusa azul, era outro colega de equipe, Roman Rostislav.

-O que rolou, Vic? Ivan olhou nos olhos de Victor e fez um gesto de respeito.

- Tzar está irritado, pra dizer o mínimo, e agora como você foi promovido, ele quer falar contigo- Victor estava sorridente e após falar isso prosseguiu a conversa com os dois.

Ivan andou até uma porta de metal que tem um painel para colocar uma senha ao lado, Ivan digitou a senha e a porta se abriu, ele andou por um corredor bem claustrofóbico e entrou na última sala, ao entrar ele vê uma sala com uma mesa, um homem de aparentes 40 anos com cabelos pretos e bem curtos usando vestes verdes, por toda a sala a quadros de Tzares antigos.

-Que bom que chegou Ivan.

-O homem encarava Ivan com superioridade.

-Bem são tempos difíceis, aquele maldito Putin tá caçando a gente, prenderam o Oleg ontem, e tudo isso tá rolando por conta da incompetência de vocês! Que seja, tem uma organização criminosa chamada Eydhz que vem causando problemas pra gente. Descobrimos que eles vão assaltar um banco a noite lá pelas 18 horas, quero que você e sua patética equipe vão para o banco enfrentar eles, de acordo com o informante o líder deles, Liev Sokolov vai estar no assalto, e eu espero que vocês não falhem, agora suma da minha frente!

-O Tzar falava com raiva e arrogância.

Ivan sai estressado e cansado do escritório, ele foi até a mesa onde está seu mentor e seus colegas.

-Vamos ter uma missão à noite, então se preparem e me encontrem aqui às 17 horas, avisem para Oskar que tem missão, tomem cuidado pois provavelmente vai jorrar muito krov (sangue), então se preparem bem.

-Ivan fala cansado, logo após dar o recado ele sobe as escadas, volta para sua casa e começa a se preparar.

Capítulo 3: Tiroteio Noturno.

O sol já está se pondo, Ivan está em uma limousine junto com Victor, Irina, Roman e seu melhor amigo Oskar, que é um homem de 28 anos, tem olhos castanhos escuros e como todos presentes está usando terno preto.

-Então Vic, poderia me dar mais detalhes da missão? Sabe, o Tzar não me explicou muito bem porque ele estava bravo. Ivan está bebendo licor enquanto olha para o pôr do sol.

-Um grupo que se separou da máfia russa, chamado Eydhz, tem causado bastantes problemas, e pra piorar, o Putin está fazendo políticas que ferram a gente, ou seja, problema em dobro, enfim o tal do Eydhz vai assaltar um banco que nos paga dinheiro de proteção, teoricamente temos que impedi-los de roubar a grana, mas estranhamente o líder desse grupo, Liev Sokolov, vai estar no banco, o que me soa estranho um líder estar em uma missão pequena, enfim é isso. Victor acende um cigarro e começa a fumar.

-Isso vai ser complicado. Roman está se espreguiçando.

-Nós vamos conseguir derrotar um desertor sem dificuldades, não o superestime. Irina estava afiando sua faca.

-Chegamos! Oskar soltou um longo suspiro.

A limusine parou em frente a um banco gigante coberto por vidro, em um formato meio estranho, era a sede do maior banco da Rússia, o Sberbank.

-Pera, ninguém avisou a gente que o Sberbank seria o alvo. Oskar parece chocado enquanto sai lentamente da limusine, os outros fazem o mesmo.

O sol já se pôs, Ivan coloca o seu clássico chapéu coco, Victor vai na frente e entra no banco o resto o segue, internamente o prédio é um local cheio e chique, uma atendente com cabelos castanhos, olhos verdes usando blusa branca se aproxima deles.

-Privet gospoda (cavalheiros), como nós do Sberbank podemos os ajudar? A atendente está com um sorriso no rosto e muita empolgação ao atendê-los.

-Seguinte: minha cara, nós somos dá Bratva (Irmandade, outro nome pra máfia russa), um grupo de criminosos rivais vai atacar esse local, mas não se preocupe senhora, não crie pânico, apenas mande seu superior ativar o sistema de segurança e tente afastar as pessoas daqui para áreas seguras, invente alguma desculpa, nós cuidamos do resto.

-Irina falava com um tom sério, porém calmo, a atendente ouviu seu comando e se afastou, algumas janelas começaram a se fechar e todas as portas foram fechadas por uma barreira de metal, um homem de jaqueta preta, usando óculos preto com cabelos castanhos curtos, se aproxima do centro do local.

-Pessoas não precisam se preocupar, apenas estamos fazendo um teste com nossos sistemas de segurança, vão para as salas seguras para testarmos elas, é agora.

- O homem aperta em um botão em sua jaqueta e alguns barulhos são emitidos, o homem explode após alguns segundos, causando algumas mortes, vários funcionários do banco tiram o uniforme e revelam estar usando roupas vermelhas com caveiras no centro, todos eles pegam armas e começam a pegar certas pessoas de refém.

-Droga, eles estavam infiltrados.

-Oskar pega uma KS-23 (modelo de espingarda) e começa a disparar.

Ivan pega sua Kalashnikov e começa a disparar também, os outros pegam suas armas e começa um tiroteio, Ivan usa uma mesa como cobertura e começa a correr de mesa em mesa, os invasores começam a matar os reféns como retaliação ao disparos, o quinteto consegue acertar vários tiros, mas nenhum deles é acertado, eles continuam atirando e aparentam não se importam com a morte dos reféns, até que um homem de cabelos grisalhos, aparentes 50 anos, usando a mesma roupa vermelha com uma caveira no meio, seus olhos são violetas e ele está segurando um fuzil.

-Idioty (idiotas), vocês acham que eles ligam para os reféns, larguem eles e comecem a atirar. O senhor furiosamente aponta seu fuzil para o quinteto e coloca o dedo no gatilho.

-Liev Sokolov, nunca achei que fosse te ver de novo meu ex-mentor. Victor apontou sua arma para Liev.

-Olha só, se não é meu caro aprendiz, hahaha continua tolo como sempre. Liev dá um sorriso debochado.

Mais pessoas armadas entram na sala e começam a atirar freneticamente no quinteto, algumas balas acabam acertando, um dos tiro acerta a mão de Victor, o que o faz derrubar sua arma e logo em seguida Liev dá um tiro em sua cabeça, assim o matando, seu corpo lentamente cai no chão a frente de Ivan.

-Não!

Todos do quarteto gritam enquanto começam a chorar, Ivan começa a ir correndo em direção a Liev, Oskar vai junto, ao se aproximarem de Liev, o mesmo pega Ivan pelo pescoço e o faz de refém.

-Solta ele!

Oskar está mais irritado do que nunca antes havia sido visto, o mesmo saca sua pistola e aponta em direção a Liev, Sokolov com um sorriso sádico atira diversas vezes em Oskar mesmo quando ele já está morto.

-Seu maldito!

Ivan começa a se debater enquanto chora.

-Sabe, mafiozi mal'chik (garoto da máfia), eu podia te matar agora. Liev pega uma faca e aproxima do pescoço do garoto e simultaneamente dá um tiro nas pernas de Irina e Roman.

-Mas eu quero que vocês três vivam com a dor dessas perdas, com a dor do fracasso, eu vou lhes dar a mesma sentença que me foi dada, saiba que a Bratva não conseguirá me derrotar. Liev pega Ivan pelo pescoço e o joga contra o chão e pega sua arma, ele e as outras pessoas começam a ir para outras salas da sede, deixando os três para trás feridos, não só fisicamente mas psicologicamente, o sistema de segurança é desabilitado. Ivan segura o corpo de Oskar chorando enquanto os outros dois seguram o corpo de Victor também em luto, todos eles saem da sede do banco e entram na limousine.

Capítulo 4: Vingança Noturna.

A noite está fria. Ivan está com um carro preto estacionado em frente a uma boate. Olhou um pouco o céu estrelado e saiu de seu carro. Percebeu que seu celular está vibrando, então o atende.

-Ivan, você enlouqueceu!? Tem várias pessoas aí dentro, se fizer isso, você pode ser preso, ou pior, piorar a reputação da Bratva. Reconheceu que pela voz era Roman.

-Estou fazendo um favor para nós, Liev Sokolov e a Eydhz não vão mais viver.

-Ivan, você tá louco! Você passou três meses caçando Liev. Você está causando problemas para nós. O Tzar quer que você volte.

-Não ligo para o que o Tzar quer. Desliga a ligação e joga o celular no chão.

Caminha lentamente em direção a entrada da boate, que é um prédio grande de três andares e com uma placa neon bem chamativa, pendurada no topo do edifício. Chega na porta e a abre. O ambiente é bem espaçoso, porém, bastante cheio. A iluminação é fraca, a única coisa que clareia o local são as luzes neon. Uma música pop russa está tocando ao fundo.

Ivan começa a analisar o ambiente e vê vários seguranças. Decide aproximar-se de um deles, que é um rapaz magro, baixo, cabelos pretos e curtos e olhos de mesa cor e que está encostado em uma parede. Chega no segurança e toca no olho dele.

-O que deseja, ser (senhor, em russo)? Disse o segurança.

Ivan ficou na frente do segurança e discretamente pegou sua pistola. Ao fazer isto, ele coloca o cano da arma no peito do segurança.

-Onde está Liev Sokolov?

-No terceiro andar, ser. O segurança está com uma expressão amedrontada.

-Espero que esteja dizendo a verdade. Ivan guardou sua pistola e procurou um meio de subir ao terceiro andar. Encontra um elevador mais ao canto do local. Entra nele e aperta o botão para ir ao andar desejado. Ao chegar lá, ao lado de fora do elevador, há dois seguranças.

Os seguranças o deixaram passar. Era um andar vazio com algumas portas. Impaciente, Ivan vai ao final do andar e lá encontra uma escada que leva ao telhado do prédio e ao lado da escada ele vê Liev Sokolov.

-Parece que nos encontramos novamente, mafiozi mal'chik (garoto da máfia). Liev correu para as escadas e subiu para o telhado.

Ivan sobe rapidamente para o topo do prédio. Ele e Liev encaram-se por alguns segundos. Os dois estão sozinhos e não têm para onde correr. Olhou para a rua e viu alguns carros chegando e pessoas saindo deles, reconheceu que algumas dessas pessoas eram membros da Bratva. Ivan imediatamente sacou sua pistola, mas Liev sacou seu fuzil e os dois ficaram apontando suas armas um para o outro.

-Por que, Liev, por que você fez tudo isso? Matou seu antigo aprendiz e membros da organização que você um dia já fez parte. Ao ouvir a pergunta, Sokolov tirou seu sorriso de seu rosto.

-Vingança! Servi a Bratva por décadas e eles simplesmente decidiram me descartar! Invadiram minha casa de madrugada, mataram minha esposa e filha e quase me mataram, por sorte, ou azar, eu sobrevivi. Agora eu vou fazer a Bratva cair. Apesar de Putin estar os caçando, sei muito bem que a Máfia Russa sobreviverá por bastante tempo, desconfio até que voltará a ter influência no governo como um dia já teve no governo soviético. Eu não deixarei a Bratva viver, eles destruíram minha vida, agora eu vou destruir vocês. Liev fez uma expressão furiosa e começou a chorar de raiva, limpou as lágrimas com o braço.

-Por que me atraiu até aqui? Ivan continuou com sua expressão séria.

-Então percebeu que tudo foi planejado? Você é esperto, mafiozi mal'chik. Você é um membro de alto escalão da Bratva, sua morte traria bastante progresso aos meus planos.

-Você é burro!? Agora tem vários membros da Bratva no prédio. Mesmo que saia vivo daqui, não conseguirá lidar com eles. Ivan sorri.

-Parece que não é esperto. Espalhei vários membros da Eydhz pelo prédio, todos estão no exato lugar que eu queria. Tem vários membros de alto escalão aqui, conseguirei informações interessantes e bastante progresso. Liev sorriu e Ivan voltou a ficar sério.

É possível ouvir barulhos de tiro vindo do primeiro andar.

-Escutou esse som, mafiozi mal'chik? Os meus agentes já começaram a atuar. Liev começou a rir loucamente.

Barulhos de uma pessoa subindo as escadas foram ouvidos. Quando a pessoa chegou ao fim da escadaria foi possível vê-la, era Roman e ele segurava uma AK-47. Ivan desviou sua atenção de Sokolov momentaneamente e olhou para o parceiro, Liev aproveitou-se disto e atirou nele. A bala atravessou a parte inferior esquerda da barriga de Ivan, o que o fez cair do chão. Sokolov virou-se e atirou na cabeça de Roman o que o fez morrer, seu corpo caiu da escada.

Ivan estava fraco, mas agora estava com mais ódio. Não só ódio de Liev Sokolov, mas de si mesmo. Sua vontade cega de vingança o fez prejudicar todos seus aliados, o fez perder um deles e provavelmente muitos outros no tiroteio do primeiro andar. A vontade cega de vingança de Liev Sokolov o havia prejudicado também. Estavam na mesma situação, duas pessoas perdidas buscando uma vingança cega e patética.

Ele conseguiu forças e mirou sua pistola na cabeça de Liev, o mesmo estava distraído olhando para a escada. Hesitou um pouco, mas puxou o gatilho e o tiro foi fatal. A pessoa que ele mais odiou em sua vida estava morta em sua frente, mas a que custo?

Com dificuldade, levantou-se do chão e foi para a borda do telhado. Sua mão direita segurava a pistola e sua esquerda estava acima do buraco de bala na barriga. Olhou para as ruas e viu carros de polícia aproximando-se da boate.

-A máfia russa surgiu como retaliação aos gulags soviéticos e agora morreu como uma retaliação também, a vida de um mafiosos é cheia de dinheiro, mas também de ações horrendas, gosto de ver tudo o que aconteceu até aqui como uma punição, talvez, bem Bozhe, pomiluy menya (Deus, tenha piedade de mim).

—Ivan encarou o horizonte e olhou para a lua, era a última vez em sua vida que ele a veria, as memórias de como foi parar ali naquele caminho começaram a correr em sua mente, se ele tivesse seguido outro caminho, será que as coisas teriam mudado?

Sentiu que seus batimentos cardíacos estavam desacelerando. Seu corpo ficou fraco e ele caiu do prédio.

Pedro Augusto Oliveira Falcão
Enviado por Natália Xavier de Oliveira em 22/02/2024
Código do texto: T8004701
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