Galinheiro
Galinheiro (José Carlos de Bom Sucesso)
A coisa estava ficando “feia” no galinheiro. Dona Mariquinha, a galinha mais velha dali, estava inconformada. Levantou bem cedo, como de costume, mas não viu a figura presente de “Babileu”, o jovem peru, que sempre estava de briga com “Marcola”, o galo chefe do terreiro e governante dali. Felisteu, o pato branco, já mais idoso, considerado o fofoqueiro daquele lugar, disse que o jovem peru não foi visto ao entardecer. Ele saiu por volta das dezesseis horas dizendo que iria pastar algumas gramas do outro lado do lago. Magali, a franga mais bela e mais bem educada, disse que o peru estava olhando muito para ela e desagradou o galo Marcola, que se aproximou e foi logo investindo de bicadas e pesadas. Então, Babileu saiu correndo para não apanhar. Os fatos estavam consumados por Felisteu, que disse que o jovem passou por ele no lago e disse que iria comer do outro lado do lago.
A luz solar foi logo adentrando no galinheiro. Todos desciam dos poleiros e já procuravam algo para comer. O tratador da fazenda se dirigia ao paiol em busca do milho e da ração. Mariazinha vinha logo. Nas pequenas mãos, trazia a vasilha repleta de milho debulhado, seguida de João, o tratador da fazenda, que espalhava o milho fazendo o gesto na boca de “pro, pro, pro ti, ti, ti”. Vinham todos, exceto o peru.
O tratador assim disse:
- Onde está aquele peru fujão?
A menina respondia:
- Não sei! Deve ter saído cedo e não sei para onde foi.
Na resposta da garotinha, via-se a expressão de preocupação por parte dela e também pelo funcionário.
- Vou acabar de retirar o leite das vacas e dar alguma volta ao redor, disse assustado o colaborador.
- Eu também vou com o Senhor, dizia várias vezes a menina.
- Então, tome o café da manhã, ponha a bota, vista a calça comprida para não arranhar as pernas e não esqueça do boné, pois o sol ficará mais forte ainda.
Dito a fala, após jogar todo o milho e colocar a ração no cocho, João se afastou para terminar a labuta.
No café da manhã do galinheiro, todos comiam as maiores quantidades de milho. Algumas galinhas bicavam-se entre si, pois queriam alimentar com a maior porção. Mirandinha, o jovem frango, comia atento, pois o chefe do galinheiro estava de olho nele. Caso se descuidasse, poderia sofrer forte beliscão e enfrentar as esporas afiadas do galo chefe. Lentamente vai chegando o pato, que foi primeiro tomar o banho matinal. Aproximando de Dona Mariquinha foi logo dizendo:
- Assim que Babileu me disse que iria pastar do outro lado do rio, perto da palhada, eu vi a raposa passeando por lá. Ficou ela de olho no jovem e parecia que o seguia desde que ele me disse que iria para o outro lado. Espero que ele não tenha sido o jantar dela.
Calmamente, a galinha retrucou:
- Espero que não seja isso, pois ele, Babileu, é o primeiro a descer e come mais que todos nós aqui.
- Vou apressar e dar alguma olhada por lá. Levarei outras colegas e o jovem Mirandinha. Vou falar com o Marcola e lhe trago notícias.
O tempo foi passando. A galinhada comeu todo o milho e também a ração. Algumas foram beber água, outras foram passear e pastar na relva verde. Outras foram ajeitar o ninho para botar os ovos.
Assim, a manhã ia passando. Os galos cantavam, as galinhas respondiam e muitas gritavam pelo nome de Babileu.
João gritou Mariazinha para a procura do peru. Saíram apressados e logo estavam acima do lago. Olhavam tudo e sempre gritavam pelo nome de Babileu.
Os minutos passavam. Chegou a fazer uma hora de tempo, mas a procura estava sendo fracassada. Já desanimados, sentaram-se debaixo da grande árvore. A menina já cansada foi dizendo ao amigo:
- Senhor, nossa busca está sendo em vão. Nenhuma pista de Babileu. Ele foi devorado por alguma raposa, algum lobo e quem sabe por algum ser humano que passou por aqui. Estamos à véspera do Natal. Nesta festa, usam-se matar os pobres dos perus, assá-los e banquetear na grande ceia.
Em soluços, a jovem soluçava e dizia que jamais viria o peru Babileu. Apoiada no ombro do capataz, que a consolava, a menina chorava. As lágrimas corriam pelo meigo rostinho como se fossem cachoeiras em cascatas.
Depois de alguns minutos, quando os dois pensavam levantar e voltarem para casa, sem sucesso na operação, o vaqueiro olha para frente e vê a galinha Mariquinha, acompanhada de Mirandinha. Parece que os dois seguiam Mariazinha e João.
Mirandinha parecia desinquieto. Andava de um lado para o outro. Batia as asas e caminhava para a direção da grota. Ia e voltava, como se estivesse dizendo algo para dos dois caçadores de Babileu.
João, muito esperto, observava os movimentos da galinha e do frango. Por algum momento, ele pensou e logo disse para a garotinha:
- Vamos acompanhar Mirandinha. Quem sabe eles viram alguma coisa.
Saíram acompanhando as duas aves. Passavam em lugares difíceis e de pouco acesso aos humanos. Depois de algum tempo, lá embaixo, Mirandinha batia as asas e parava, como se tivesse dizendo que o peru estava lá embaixo. Olharam com muita atenção e viram
Babileu preso em alguma coisa. Com muito cuidado, João desceu e pode desamarrar o peru, que estava todo enrolado em cipós, tornando os movimentos incompatíveis de se livrar da armadilha.
Foi festa para a menina. Ela correu e deu o forte abraço em Babileu. Pegou-o nos pequenos braços e saiu caminhando. João fez a mesma coisa. No braço direito, pegou Mirandinha e no braço esquerdo acomodou-se a galinha Mariquinha.
Chegaram ao galinheiro e foi festa por todos os lados.
João foi agradecido pelo patrão e Mariazinha ficou cuidando de toda galinhada até ao entardecer.