Womam dress moon’s blues
Crônica para Womam dress moon’s blues.
Ela não resistiu ao blues. Ao apelo contido em cada nota. Não. Não resistiu a insistência clara, maliciosamente despida nos acordes em sétimas; Cada arpejo lhe provocava arrepios inexprimíveis e os agudos com seus fraseados cromáticos a descentralizava de si, desordenando suas percepções na mais excitante performance contorcionista.
O pianista , certamente , sob a influência direta de seu spalla espiritual Cândido Continius , a quilômetros dali , fantasiava as mais loucas posições de amar e louco para rasgar-lhe a roupa e devorar-lhe a boca despejava toda sua inspiração no piano como se cada nota traduzisse literalmente o último desejo de um condenado.
A canção a atingira como um raio certeiro no ponto mais alto de sua vulnerabilidade. A cada suplício dos graves ela se contorcia e percebia sua calcinha se encharcar do melhor de seu licor vaginal.
O clitóris pulsava a cada tempo num descompasso dantesco. As coxas trêmulas, como appogiaturas, contraíam involuntariamente seus órgãos genitais, entregues, lascivos e totalmente desarmados ante o poder visceral e apelativo do blues que reverberava no quarto.
Sua Imaginação a levou até ele, e viu-se completamente nua a sua frente com as tetas denunciando-lhes os mamilos em súplicas por uma lambida selvagem, esperando impacientemente por uma violação consensual de seu corpo e de sua alma.
A canção em fermatas a dominava mais do que qualquer alucinógeno já experimentado. A mulher enfim sucumbe à fêmea. Doce devaneio! Desejosa por entregar-se emaranhava-se nos lençóis indefesos de sua cama, enquanto as buzinas dos carros e o agito da cidade a trazia de volta a mediocridade de seu cotidiano.
Ela não queria. Não mais. Não podia mais. Definitivamente não.
Esse encontro agora? Casada? Como? Onde? Sem chances. Precisava ser evitado. Não poderia se arriscar ao olho no olho, ao abraço, ao cheiro, ao ar quente da respiração, a complexidade dos plexos... ... Não.
Seria queimar-se novamente. Ambos, literalmente, fogo e pólvora não poderiam se reencontrar.
Mas quem sabe... E se eu apenas... escrevesse agradecendo por essa canção que... Melhor não. Nenhum contato... Dolorosa divagação.
Ela não terminara o pensamento e suas mãos já violentavam a parte lateral da calcinha totalmente inundada a procura de espaços para os profanos dedos acariciarem seu grelo róseo faminto por um orgasmo digna de vênus.
Entre carícias e mais carícias gemia cada vez mais alto, misturando seus sussurros aos inexprimíveis choros do blues. E numa freneticidade insana, gosa intensamente e geme e uiva e chora um choro soluçado onde ainda se percebe loucamente presa ao passado .
Não. Não poderia.
Assim, desfeita da realidade que lhe fora cuspida, ergue-se elegante e de modo brusco retira a fita cassete do aparelho lançando-o ao chão impiedosamente como se aquele gesto deletasse a verdade revelada.
Alinhou-se, endireitou os cabelos, retocou a maquiagem, colocou um rock na vitrola e antes de voltar para a sala olhou-se fixamente no espelho e com os dentes cerrados articulou com a voz em falsete : “Não gosto de blues”