A POESIA SOLITÁRIA

Vagava entre folhas amareladas uma poesia solitária, numa caixinha de madeira vivia guardada no meio de outros versos, mas ninguém pegava pra ler, quem escreveu com certeza se esqueceu ou quem sabe foi uma desilusão que não queria relembrar e assim ficava sufocada querendo bater asas e poder voar, quem sabe até encontrar alguém que desejasse ler.

E assim, a poesia ficava dias após dias, meses e anos sonhando o dia que viessem abrir aquela caixinha tão delicada onde estava prisioneira entre folhas amareladas de um velho caderno rabiscado. E a impaciência consumia aquela pobre poesia solitária.

Certo dia, ela sentiu que a caixinha se movimentava e suspirou aliviada. Alguém vai pegar e com certeza sentar na cama abrir e ler o que ela trazia de tão especial. E nessa hora seria a poesia mais feliz de todos os versos rabiscados e prisioneiros ali ao seu lado e mudos sem saberem se comunicar.

A poesia estava tão ansiosa que nem acreditou quando viu pela primeira vez a luz que refletia pela janela, finalmente estava sendo desdobrada por mãos delicadas. Era um suspiro atrás do outro e sua autoestima ficava mais alta em cada verso que aquela voz aveludada lia e mesmo em silêncio ela sabia que estava deixando aquela voz embriagada de emoção, uma lágrima caiu.E quando novamente ela foi dobrada, colocada na caixinha e trancada sua tristeza voltou, soluçando pensou:

- Quanta gente insensível incapaz de gritar aos quatro cantos do mundo a beleza de uma poesia.

Autora- Irá Rodrigues.