O Toque da Morte - Livro 01 - O Filho do Sol - Parte II - Luta de Religiões

Assim que botamos os pés em Muhar, deparamos com pessoas estranhas que usavam uma espécie de peruca levando um menino escravo com eles.

Encontramos ali a líder da cidade chamada Ishtur e logo desconfiei das intenções dela para conosco. Ficamos desconcertados quando William ficou mais interessado no garoto que não parava de falar de um certo deus chamado Adonai.

Seu nome era Moshe, mas preferia que o chamássemos de Moisés. Após as negociações, o menino se juntaria a nós com a promessa de libertá-lo da escravidão imposta por este povo incomum de Harakir.

Um povo com estranhos costumes e línguas tão únicas e tão diferentes da nossa.

E com religiões distintas e beligerantes entre si.

Depois de recebermos o pergaminho, voltamos ao deserto com Moisés não parando de falar a respeito do tal deus único.

Esse menino não duraria nem dois minutos nos nossos domínios se continuasse a pregar por seu deus a torto e a direito. O problema é que os Lordes Negros não são muito ligados ao monoteísmo e dependendo do domínio escolhido, o rapaz acabaria morrendo de diversas formas nas mãos deles.

Mas teve sorte de ficar com William. O Capitão gosta muito destes seres exóticos e espero que não o ponha numa jaula pra cobrar ingresso da multidão.

Jaula? Talvez ele pregue em público.

Esse deus único era interessante, mas ditatorial demais pro meu gosto. Cantam alguns cânticos chamados salmos e falam de um certo milagre divino e de castigos para os pecadores que não acreditam na sua divindade.

Caleb já estava entediado com a arenga de Moisés e Vareen usou seus poderes mágicos na tentativa de convencer o rapaz que milagres eram feitos com magia.

Criou os peixes, o pão e fez brotar água. A princípio, Moisés ficou surpreso, mas logo desdenhou dos poderes do clérigo argumentando que seu Deus era único e todo-poderoso.

Tudo que queria agora era uma estalagem com uma boa comida e uma cama bem confortável.

A comida era apenas razoável. Uma espécie de pão incomum e uma cerveja totalmente diferente do Whiskey de Bor. Forte e muito amarga.

O pior de tudo foi ter que aguentar Moisés falando que o caminho pra salvação depende da gente que usa o tal prepúcio, pactos estranhos e outras coisas tipo um livro escrito pelo Deus dele.

Tive o privilégio de ler o tal livro de Deus naquele mundo chamado de Holanda e de acordo com os relatos de Rashid, este mesmo Deus tinha outro nome que nós não tardaríamos a descobrir.

Notei que William estava muito agitado. Provavelmente encontrou um espírito errante neste deserto.

Ouvimos gritos vindos dos portões e fomos averiguar de cima a baixo. Era uma madrugada estrelada e fria a ponto de congelar os ossos. Mas pra quem encarou o frio de Rokushima Tayoo, isso era moleza.

Pra nossa consternação não havia ninguém. Apenas o vardo vazio dos vistanis liderados por Dulcimae.

Isso significa uma coisa: problemas.

Meus temores tinham fundamento.

Outra criatura mumificada aproximava-se de nós.

E no lado sul, uma tempestade de areia estava se formando.

Estávamos preparados para o que der e vier, mas havia uma questão por refletir.

Como faremos pra enfrentar duas situações cruciais ao mesmo tempo?

* * *

Depois de Vareen criar uma brecha em seu círculo de pedras para conseguir visualizar o que estava acontecendo, preparamos nossas armas para lutar contra a múmia e como por encanto, a tempestade passou.

Ficamos todos bem e vimos uma cena engraçada com Moisés cuspindo areia por todos os lados depois de ficar atolado.

Mas não tínhamos mais tempo a perder.

Havia um mistério a resolver e só tinha uma coisa a fazer.

Voltar ao templo e encontrar-se com Ishtur a fim de procurar algumas respostas.

* * *

Antes de entrarmos no templo, fizemos uma rápida confabulação chegando a trágica conclusão que Dulcimae e seus companheiros tinham sido atacados e provavelmente mortos pelas múmias.

Ishtur nos recebeu friamente e pra surpresa de zero pessoas, já estava desconfiada de nossas ações.

Vareen usou sua magia de detectar mentiras nela e por incrível que pareça, o que a sacerdotisa disse era verdadeiro.

Inclusive que a nossa presença em Harakir havia afetado o deserto de uma tal forma que afetou o clima local.

Falou ainda de um certo templo de Anúbis que estava próximo dali e de uma certa tribo que os locais chamam de muçulmanos cujo deus desse povo era Alá.

Percebi um certo nervosismo em Moisés quando falaram desse tal Alá e notei que já havia ouvido esse nome antes.

Me lembrei mais uma vez daquele guerreiro do outro mundo chamado Rashid que lutava por esse mesmo deus exótico travando e vencendo inúmeros combates com a benção dele.

Um dia tentarei descobrir mais a fundo sobre a vida deste incrível escriba. Pelo pouco que sei, ele tinha parceiros que não o irritavam muito. Bem diferente dos meus.

Antes disso, tínhamos um templo a encontrar.

O templo de Anúbis.

E uma nova religião pra desvendar.

Os dos tais muçulmanos.

* * *

E lá fomos nós em busca do templo e o pior de tudo é ouvir aquela arenga de novo entre Moisés e Vareen sobre religião. O tom subiu mais ainda quando Moisés falou apaixonadamente a respeito de uma certa Terra Prometida e o clérigo desdenhou desta tal terra já que a nossa religião é muito diferente e bem mais aberta do que essa pregada pelo garoto.

Ainda bem que Caleb resolveu esse problema no seu velho estilo de pegar os dois pelo pescoço e ameaçar jogá-los no vasto deserto sem cantil nem mantimentos se continuassem a falar de religião.

Já William estava demonstrando interesse especial por Moisés e eu sabia que só terminaria de um jeito esta história: acabaria levando o garoto de volta a Mordent para ser um bom profeta e um contador muito eficiente financeiramente.

Não estava com muita paciência em ouvir discussões e depois de passar por ruínas e mais ruínas de uma civilização outrora poderosa onde até encontramos uma estátua de mulher-gato, chegamos a uma tenda onde os chamados muçulmanos rezavam de costas para nós.

Vareen foi forçado a intervir em uma briga entre Moisés e uma criança muçulmana enquanto os homens da tribo nos observavam de maneira hostil.

O líder deles apareceu na nossa frente. Tinha um aspecto imponente, usava um enorme turbante e tinha uma barba cerrada. Se chamava Ibrahim e nos alertou a respeito do perigo existente das múmias no deserto. Falou ainda com convicção do seu deus Alá que nos alarmou sobre uma confusão potencialmente perigosa devido ao seu fanatismo tão exagerado quanto o de Moisés.

E sua descrição era igual ao que li no livro de Rashid. Esse Ibrahim poderia ser uma contraparte daquele guerreiro do outro mundo chamado Al-Rifai?

Ficamos decepcionados quando nos dispensou justamente por causa de Moisés, considerado inimigo mortal para eles.

Aqui em Harakir, seria praticamente impossível repetir o feito que fizemos em Rokushima Tayoo.

Porque eram três religiões distintas e opostas em quase tudo.

E só haviam duas coisas em comum entre elas.

Fanatismo e ódio.

* * *

Assim que voltamos de nossa missão infrutífera com os servos de Alá, resolvemos nos reunir para traçarmos os próximos passos.

No entanto, comecei a sentir fortes dores no peito e desmaiei assim como todos os outros.

A princípio achei que era por causa da água que bebi no cantil, mas estava enganado.

Meus companheiros sentiram o mesmo e assim que acordamos, vimos com uma certa surpresa que tínhamos voltado aquele estranho templo que os locais chamam de Osíris.

Vareen detectou magia dentro do templo e descobriu que era divina.

Dentro do templo havia uma enorme balança e uma pena defronte a estátua de Osíris, considerado pelos locais como o deus dos mortos.

E ali havia um grande desafio para nós.

Em forma de julgamento divino.

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 06/09/2023
Código do texto: T7879322
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