Filhos de Fernando

Paraisópolis, 16 de novembro de 1840.

Queridos filhos, netos e atuante geração! Quanto tempo se passou. Desculpe-me se muitos de vocês nem se querem ouviram ou descobriram sobre a minha passagem por aqui. Afinal, não culpem seus pais ou meus ascendentes de não lhes apresentarem. Sei e muito bem como é a vida e principalmente a de uma chefe de família.

Um dia também fui jovem, tive sonhos e prazeres pelas coisas desta vida. Correria que muitas e muitas vezes me fez esquecer de que aqui nada é eterno. A fase mais curta da vida é a terrena. Como ela nos engana! Parece a mais longa e muitas vezes; a eterna!

Na minha adolescência tive que amadurecer ao mais breve possível e pela circunstância da vida me aprofundar dando o melhor de mim na lavoura, logo se preparando para ser o futuro chefe de uma família; a maior exigência da sociedade do momento.

Período em que homens se preparavam para serem chefe da família, enquanto as mulheres: donas de casa. Isso por muitas vezes, se a vida não resolvesse nos surpreender arrancando nossos pais e nos colocando antes do tempo como o patriarca da casa.

Nisso, eu tive sorte, filho de Antônio Rodrigues Guesin e Felícia Maria de Jesus, junto de outros irmãos, tive um lar e pais presentes.

Sobre o trabalho da lavoura, nasci, cresci e fui até onde pude chegar. Sobre o serviço braçal da enxada e exigências da lavoura, dei o melhor de mim, ao meu pai e a possível pretendente que um dia haveríamos de nos casar, mesmo sem ter noção de quem se tratava.

Antes de a conhecer pessoalmente e descobrir que a mesma me aguardara em outra pátria; filho de uma nação portuguesa, dei o melhor. Enfim, não menti ao meus pais e não os revidei se algum dia me impedissem de eu correr atrás de meu sonho.

Agradeci e muito a Deus pela vida e família que tive, mas queria mais. Queria uma vida diferenciada, dono de terras, proprietário de uma porção da qual me desse respeito na atuante sociedade . Percebi com o tempo que Portugal, mediante a crise econômica atravessada em meados do séculos XIX, e aos murmúrios dos peões da fazenda por onde trabalhara, que o Brasil poderia ser o meu carro chefe à vida que nunca escondi mediante às conversas com minha mãe. Falava e desembuchava a um tom desejoso, como se fosse ela o Deus presente me escutando de tudo o que eu poderia falar.

Meu pai era menos otimista, quando flagrava minhas conversas com mamãe, retrucava dizendo que eu precisava ser mais realista e preparar o pé de meia pela vida que logo, logo haveria de me aguardar!

Por respeito nunca o desacatei ou deixei o meu sonho falar mais alto do que o meu respeito por ele. Por fora acatava e insinuara o obedecer, mas por dentro, descobrira que poderia ser um filho obediente dentro do possível e correr atrás do meu sonho.

Minha mãe em nossas conversas secreta, dizia-me que o não, eu já tinha, necessitaria correr atrás do sim. Ensinou-me nas missas dominicais em segredo com Deus depositar tudo aquilo que eu pudesse confiar, pois uma resposta, mais cedo ou mais tarde, Ele haveria de me dar!

Obedecia-a de corpo e alma!

O tempo passou...

Em constante intervalo da vida com o meu irmão Francisco, flagrava-me confessando-o meus sonhos e desejos de ir para o Brasil. Apegado ao pai, procurava sem má intenção roubar de mim, o meu sonho e esperança da qual minha mãe plantava e regava sobre mim com tanto carinho em nossas secretas conversas .

No intuito de animá-lo e acreditar que juntos poderíamos dar uma vida diferente a nossa geração, por muitas vezes sentia-me inspirado na minha mãe tratando-o como se fosse eu na minha conversa com mamãe.

Demorei para concluir o bendito fato, mas com o tempo, descobri que até na maneira de enxergar a vida, meu estimado e caro irmão, Francisco, era idêntico ao pai. Tanto na fisionomia, humor e fé.

De início, dava-lhe uma bronca e o alertava ao deslize de termos a vida dura da qual levávamos até o presente momento. Que nada! Era de coração duro, feito de uma pedra como ao do nosso pai. Nunca se emocionou ou deixou-se a refletir sobre minhas palavras.

Por ironia do destino ou as providências Divina, descobri por nome e por vista, o bendito dito cujo que haveria de realizar o meu sonho.

Peão de uma árdua lavoura e sobrinho do proprietário, abusei da sorte. Em meio de tantos embaraços da vida, além de tudo, ele era também o meu padrinho. Não que isso ele, tio e padrinho Joaquim me desse mais regalia do que os outros peões da lavoura. Não tinha privilégio. Era o mesmo tratamento.

Fingi um dia estar muito doente e fui pessoalmente conversar com o Senhor Joaquim Rodrigues Coelho, da qual por coincidência, xará do meu avarento tio. Quem me atendeu de início foi a sua esposa, da qual pediu que eu entrasse na imensa casa e aguardasse-o por alguns instantes, pois breve haveria de me atender.

Obedeci sobre a humilde educação herdada por minha inesquecível mãe. Tive orgulho de mim mesmo sobre aos meus dezessete anos de vida, onde percebi que como um homem já com possível aparência de um homem maduro, convenci-o a dar-me a chance de conhecer o Brasil.

Minha mãe, Dona Felícia Maria de Jesus, foi a quarta a saber e a segunda a me apoiar. Pois do meu irmão, Francisco, não pude esperar muito.

Mamãe ficou tão feliz. Flagrei os seus olhos brilharem e seus lábios confessarem que o meu sonho sempre foi o sonho dela e de meu pai, mas que nunca tiveram oportunidade ou a coragem da qual eu a demonstrei no presente momento.

Abraçou-me de um modo tão especial. Eita, abraço gosto e tão lembrado até o presente momento. Jurei-a orgulhá-la e na primeira oportunidade, buscá-los. Senti agora mais do que nunca, mais prazeroso em cumprir o meu sonho e o compromisso realizado ali. Enfim, descobri que aquele sonho não era só meu, mas dela também.

De repente, algo me amedrontou. Lembrei do meu pai. Que com cara ou coragem haveria de chegar e dá-lo a notícia? Enterrar o meu sonho e a chance que por ali surgiu ou possivelmente desobedecê-lo sobre a possível decisão que ele haveria de tomar?

Minha alegria de ver o meu sonho se realizar deu vida a uma terrível gelada na boca do estômago, onde as pernas tornaram-se por aquele momento frias e trêmulas. Mamãe pediu que eu me acalmasse e se controlasse, pois ela haveria de conversar com papai o preparando para o momento.

Mulher incrível, demonstrou a todo momento estar do meu lado. Encorajou-me ao que pode. Nunca esquecerei de sua bravura.

Meus pais sempre procuraram passar um boa impressão ou boa imagem de seus casório. Dos meus dezessete anos de vida, até àquela bendita noite, nunca os vi de cara virada ou uma discussão entre eles.

Naquela bendita noite, senti um remorso. Por minha culpa, eles quebraram seus protocolos. Em relâmpago escutei um tom alto entre eles. Logo tudo silenciou. Mamãe saiu abatida, mas insinuando ser forte. Passou por mim e disse estar tudo bem. Era por questão de horas e que papai logo haveria de me compreender.

Fui para o quarto e chorei. Não me contive na situação que enquadrei as pessoas que mais amava na vida, tudo pelo bendito sonho de construir minha vida no Brasil.

Peguei num sono. Descansei e esqueci por poucas horas do amargo cálice que comprometi o meu lar. Naquele dia, também esqueci de dar atenção a minha amável e inesquecível irmã Mariquinha. Era a caçula de todos e a única mulher dentre os irmãos.

Foi papai que me despertou. Alegou que o jantar já estaria pronto.

Acordei assustado. Não era de costume o dia passar tão rápido na minha mocidade, mas justo no bendito dia passou e nem dei conta do anoitecer.

Levantei e o obedeci. Não o reconheci por aquele instante, parecia tão solidário! Sei lá o que minha inesquecível mãe fez com ele, mas já aparentava tão calmo e compreensivo ao meu caso!

Jantamos! Mariquinha fez questão de sentar perto de mim e ainda na inocência aparentava ser tão compreensiva com o meu modo lhe transparecido.

No momento em que a paz aparentava reinar por aquela casa, Francisco chegou, cabisbaixo e meio tenso ao semblante, junto da companhia do avarento patrão. Sentaram-se à mesa. Mamãe correu pegar mais um prato e o preparou da maneira já conhecida da qual o avarento patrão gostava.

Saboreou com gosto o jantar. Repetiu e não retrucou uma palavra egoísta mediante a minha pessoa. Apenas perguntou como eu estava e se havia melhorado. Logo mudou de assunto. Nem parecia o meu avarento patrão e padrinho. Pasmei com sua decisão!

Francisco é o que mais demorou a sentar na mesa. Pois antes partiu ao um demorado banho e sobre uma nova peça de roupa no corpo surgiu, hora mais tarde.

Da maneira que tio Joaquim apreciava o jantar, preocupei de nem ter pensando no nobre sobrinho do qual chegara junto dele na casa naquela noite.

Mamãe mais uma vez me surpreendeu. Já havia separado o prato de Francisco.

Como de costume daquela época, conversa de adulto, jovens ou criança não participavam da conversa. Permanecendo apenas meus pais e o avarento tio Joaquim pela sala.

Indaguei o que pude Francisco sobre a possível presença do tio. Francisco não soube responder. Alegou ser a bendita vontade de rever o irmão, cujo era o nosso pai. Juro que forcei em querer acreditar naquilo, mas que nada: minha alma não deixava. Entrou em pranto e desconfiou que estaria ali para azucrinar meus pais pela possível decisão que eu havia tomado.

Desejei tornar em um humilde inseto somente para acompanhar em silêncio aquela conversa. Que tédio! Algo bem impossível. Tive que controlar minhas devastadora emoção e aguardar pelo o que o tempo haveria de me trazer.

Juro que num momento, resolvi voltar atrás e acatar as desanimadoras decisões do meu pai e do meu irmão Francisco, onde há poucos dias viviam me aconselhando, quando escutavam sobre o meu bendito sonho.

Tio Joaquim teve que pegar o caminho para a casa. Levou horas conversando com meus pais. Mil coisas passou por minha cabeça com a sua duradoura visita a minha casa.

Já tarde da noite, a lamparina não foi apagada como era de costume. Meus pais colocaram eu e Francisco sentados no banco da sala.

Francisco me devorou pelo olhar. Temi de alma que agora mais do que nunca, o meu persistente desejo tivesse virado de ponta cabeça a vida do meu amável irmão. Senti a pessoa mais desprezável do mundo. Presenciei meus pais resmungando por minha culpa. Presenciei o meu avarento tio, cujo não era comum de aparecer em casa, surgindo e numa visita demorada tirando o costume da minha casa dormir cedo para acordar na manhã seguinte!

Meus pais me surpreenderam. Francisco ficou perplexo pelo o verdadeiro motivo da visita do tio Joaquim.

Além de serrar a boia sem ter avisado meus pais, tio Joaquim nos mostrou um homem que jamais pensássemos o conhecer.

Alegou aos meus pais, saber o verdadeiro motivo de minha ausência na lavoura. Confessou também estar passando por uma crise muito ruim. Apostaria e apoiaria minha vinda para o Brasil, mas em troca, mudando de vida, não esquecesse dele por lá, onde junto da minha família, desejaria abraçar de corpo e alma a oportunidade da qual o Brasil aparentava dar aos imigrantes.

Perplexos, Francisco foi o mais espantoso de todos. Sua cabeça entrou na negociação do tio. O avarento tio Joaquim decidiu pagar nossas passagens e darmos uma pequena reserva em troca do pedido dele.

Aceitei na hora. Já Francisco recusou ao que pode. Alegou mil motivos. Um deles, ter medo de passar dias num monte de tábuas chamado de navio, outro, demonstrou tão preocupado com a saúde de papai. Não sentia seguro deixar a nossa família a só em mercê do avarento tio.

Papai se emocionou com a última desculpa. Mamãe era mais otimista às coisas da vida. Repreendeu papai e Francisco.

Tentou no que pode convencer Francisco a acatar a proposta do tio Joaquim. Meu irmão chorou, abraçando meu pai, confessando não estar a fim.

Mamãe se tornou um livro aberto naquela hora. Confessou palavras das quais nunca imaginávamos escutar...

O meu persistente sonho na verdade sempre foi um sonho deles, quando eram mais jovens, mas que nunca tiveram oportunidades. Era onde, agora, ela enxergava a oportunidade em nós. Sentiu em nós como os verdadeiros donos do sonho do qual um dia foram deles, mas que por idade, resolveram abandonar ou deixarem no esquecimento.

De coração amordaçado, juntei ao abraço do trio e abraçamos tão forte. Pedi perdão no que pude e disponibilizei deixar o sonho de lado se fosse o caso. Mamãe recusou em me escutar!

Dias se passaram. O bendito sonho de pisar ao solo Brasileiro aproximou. Ainda na véspera da nossa partida, Francisco chorava e me desabafou muitas vezes o medo de nunca mais ver a nossa família reunida. Nisso, eu temi. Amava e muito meus pais, fora da minha inesquecível irmã Mariquinha.

Minha vida virou uma bola de neve nos últimos dias. Senti o quando minha vida mudaria dali em diante, sem qualquer contato com Mariquinha e meus pais. Quem me substituiria para a dócil Mariquinha? Quem haveria de me escutar, caso necessitasse desabafar a minha rotina como sempre fazia com minha mãe?

Flagrei longas horas ou dias, pensando em desistir de tudo. Mamãe nunca deixou-me de desistir. Sempre me apoiou e alegava um dia valer a pena.

Nosso dia chegou. A persistente mãe sonhadora, nem a reconheci naquela dia. Chorava tanto com na nossa vinda para o Brasil. Papai insinuara ser mais forte. Das muitas vezes necessitou ampará-la. Mariquinha triste, parecia zangar-se comigo. Culpou-me por nunca mais ter ninguém para brincar. Aquilo me entristecia. Amava de mais a pequenina. Dava o céu por Mariquinha. Nossa despedida me fez chorar e muito. Mamãe mesmo em choro, prometeu que todos daríamos a volta por cima e seriamos beneficiado da dolorosa decisão.

De repente, Mariquinha aparentou me perdoar e ainda em soluços presenteou-me com uma boneca de espiga de milho. Alegou ser ela em nossa separação carnal. Era para nunca esquecer de abraçá-la. Pois o meu abraço naquela memorável boneca seria sentido nela, enquanto estivéssemos em fronteira diferentes. Assumi de coração partido, nosso pacto.

Já dentro da embarcação acenei constantemente e de coração partido à minha inesquecível família. Que dor! Logo de vista a um intenso mar, perdemos de vista nosso solo e família.

Levamos dias quase um mês para chegarmos ao Brasil. Vimos coisas terríveis que se soubéssemos antes, não pagaríamos para ver. Tive que arrancar força de onde não tive. Inspirei por muitas vezes na minha mãe, cuja graças a Deus não era lúcida do que passamos durante a viagem.

Francisco me condenava tanto por tudo do que passamos. Algumas cenas, eu chorei na sua frente, noutras, brinquei de ser forte e me apeguei nas palavras de mamãe, cujo dissera que Deus haveria de mudar nossa vida.

As palavras de Francisco tornava tão cruel quanto ao silêncio de não me atacar, quando o presenciava mal de saúde. Cena que me horrorizava. Implorava-o para ser forte e não deixar se abater com aquilo.

Refém do temível quadro, Francisco insinuava ser alguém fora de si. Dividia minhas poucas comidas com ele, noutras, poupava meu estômago de mercê a sua saúde.

Presenciávamos corpos lançados ao mar, quando o quadro de saúde aparentava colocar os sobreviventes em risco.

Deus ouviu as nossas preces! Embargamos no porto de Santos. Ficamos quase um mês sem contato com almejado povo Brasileiro. Era como se fosse um castigo ao mesmo tempo, medicando-nos de uma possível doença não nos orientado.

Seu Joaquim Rodrigues Coelho foi o primeiro a nos visitar. Acolheu nos com uma recepção familiar e junto de um papel e caneta a fim de escrevermos uma carta a nossos pais. Sem muito estudos, necessitamos contratar uma pessoa para nos escrever.

Foi ali que vi pela primeira vez na vida, um lado generoso do avarento tio Joaquim, eu deparei.

Tínhamos uma quantidade suficiente para possivelmente mais uns dois meses de sobrevivência.

O responsável pela nossa vinda ao Brasil, aparentou admirar a nossa audácia pelo caminho. Propôs-me um local para morar e trabalhar. Aceitar de cara e forcei meu irmão estar junto de nós.

Saudade tamanha dos meus pais e de Mariquinha, tive que encarar um novo desafio. Sentia que meu companheiro irmão já se apagara seu sentimento por mim. Via-me como um culpado e um verdadeiro monstro pela revira volta a sua vida. Irritava fácil as minhas poucas lhes pronunciadas. Com o passar do tempo, comecei a não culpá-lo.

Sentia tão ingrato por tudo do que lhe causei e pela maneira que deixei minha amável família em Portugal!

Quase dois meses pelo Brasil, fui recebido com uma carta dos nossos pais. Dentre as novidades, estava a cobrança de Mariquinha sobre a boneca de espiga de milho que ela me deu. Confesso que não esqueci por nada neste mundo de nossa promessa. Abraçava tão forte. Sentia sobre aquela boneca o calor fraterno da minha família.

Eu e meu irmão morávamos numa pequena casa, cheio de imigrantes: portugueses e italianos, num município como o nome de São José do Paraíso. Pegamos uma amizade muito forte com o Sr Joaquim Rodrigues Coelho e sua esposa, Maria Vicência de Jesus.

A eficiência do meu irmão ao trabalho e minha constante permanência em dar o melhor de mim ao que foi confiável, ganhamos espaço pela cidade. Meu irmão foi trabalhar na plantação de trigo e eu em busca de minérios.

Não perdemos o contato por nada. Víamos sempre que podíamos. Era corrido, mas nas missas da matriz de São José do Paraíso, reencontrávamos e batíamos bons papos.

Tive a empolgação de confessar ao meu irmão o clima que aparentava tomar contar do meu coração com uma das filhas do Sr Joaquim Rodrigues Coelho. Senti tão empolgado. Nossa, ele demonstrou não gostar. Fechou o semblante. Nem o reconheci. Fiquei triste no momento e pensativo no julgo cujo me recebeu.

Cobrou-me a necessidade de antes trazer nossos familiares para junto de nós, somente assim pensar em levar a vida da qual haveríamos de levar. Envergonhei. Senti ser injusto e egoísta com minha amável família.

Prometi pensar no caso. De início até lhe dei razão. Pedi desculpas nas horas que abraçava a boneca espiga de milho pensando na minha família.

Ao avistar Silvana, tudo mudava. Sentia que ela não era o pé de tropeço da minha vida ou algo que haveria de adiar os meus planos com meus familiares lá me Portugal, ao contrário, sentia uma força vindo dela, onde encorajava-me pela decisão a ser tomada.

Precisei colocar na balança: a decisão de meu irmão sobre mim, minha decisão e o amor intocável da dócil Silvana.

No intervalo dessa tempestade de quase mais cinco meses, escrevíamos juntos uma carta aos nossos pais: comprometendo de nos mais breve cumprir nossa promessa. Também contei a minha mãe sobre a mulher que surgiu na minha vida.

Descobri um certo artista bem habilidoso, onde sobre desenhos registrava coisas que estaríamos vivendo. Numa das minhas cartas aos meus familiares, encaminhei um desenho e a encomenda de uma bela boneca a Maria. Pelo último presente, aleguei que aquilo era a prova de nunca os esquecerem. Amava ter o retorno de suas casas, via nosso primo José, filho do avarento tio Joaquim.

Numa certa manhã, pensativo na vida, ao furar o chão, encontrei uma pedra preciosa. Senhor Joaquim Rodrigues Coelho me surpreendeu. Era a reviravolta que necessitava a minha vida. Uma preciosa pedra de diamante, onde poderia buscar meus pais e dar uma vida digna a mim e a eles. Logo meus olhos se embriagou e avistei Silvana toda linda de noiva na minha frente, dentro da matriz da cidade que me recebera como conterrâneo.

Quando seu Joaquim confessou que com aquela pedra poderia comprar até um nome para ter um espaço social a mais por São José do Paraíso, meu coração saltitou de emoção. Mais feliz eu fiquei quando ele falou que qualquer dono de terras de Minas me aceitaria como genro. Fui às alturas!

Era o momento mais sonhado da minha vida. Quando avistei Silvana entrando pela sala sobre uma dócil voz nos pedindo licença e nos oferecendo café, meu coração me denuncio sobre o hipnotizador coração lhe entregado.

Parei e a encarei com o possível olhar que haveria de estar dentro da matriz de São José do Paraíso recebendo-a de noiva.

Silvana anos após de estarmos casados, contou-me que justo naquele dia que havia saído da casa do seu pai, o mesmo a chamara e a confessou de ter arrumado um homem muito bom para o seu futuro. O mais comovendo, foi escutá-la confessar que ela já me amava e passou a semana felicíssima pelo desabafo do pai.

Senhor Joaquim Rodrigues Coelho nem era meu sogro ainda, mas cuidou com tanto carinho da vinda da minha família para o Brasil. Senti tão de livre arbitre a sua pessoa que pedi a mão de Silvana em casamento assim que minha família chegou ao Brasil. Queria ter o privilégio de mostrar a minha mãe a encantadora de mulher que conheci.

Mamãe se apaixonou logo de início.

Silvana era mais dócil do que imaginávamos. Descobri que de tudo o que passei, agora estava sendo recompensado.

Em menos de um ano e meio já no Brasil com minha família, casei. No intervalo do meu primeiro filho, papai faleceu. Algo que mexeu comigo. Queria tanto mostrá-lo o quanto tinha valido a pena estar no Brasil!

Enterrei-o num lugar da terra onde já me pertencia. Mariquinha plantou uma mudinha desconhecida no seu túmulo. Quando percebemos, mesmo que o visitávamos sempre já estava uma árvore viçosa de quase um metro e meio sobre sua cova. Não tive coragem de arrancar. Era a árvore mais alta das minhas terras. Ao descobrir que meu primeiro filho era um menino, conversei com minha esposa e dei o nome do meu saudoso pai. Era uma forma de acalmar a bendita saudade do velho pai. O tempo passou, tivemos mais nove filhos. No compromisso de valorizarmos mais a família, resolvemos dar nome aos nossos filhos e filhas, somente de seus avós e tios.

O segundo filho, dei o nome do avô materno, devido à forte parceria do meu sogro a minha vida e por ter vendido por preço acessível seu sobrenome para mim.

Filha mulher no meu casamento, só veio após doze anos de casado. Período suficiente para minha saudosa Mariquinha crescer e ter tomado um rumo em sua vida com Italiano da qual resolveu levá-la para a capital do Brasil.

Tive a honra de homenageá-la em vida, dando seu nome a minha filha mais velha. Ela nem soube. Quando soube já foi no meu leito de morte. Algo que me surpreendeu, confessou ter filhos com os mesmo nomes dos meus, inclusive um como o meu xará.

Com a perda de papai procurei sempre ser mais familiar. Dei o melhor de mim a minha geração.

Meu destino foi o mesmo do meu pai. Não tive a oportunidade de abraçar ou apalpar carnalmente o meu primeiro neto. Algo bem diferente do meu sogro e inesquecível Silvana.

Sem contato qualquer com minha atual geração, apenas testemunha de suas vidas, assisto ao que posso a partícula da minha geração cujo plantei no Brasil, sem no início do consentimento do meu pai, mas com o apoio da minha eterna mamãe, Felícia Maria de Jesus.

Não deu tempo de voltar ao solo da minha terra conterrânea para agradecê-la por tudo do que me fez e por muito mais pedir desculpas do que eu lhe fiz em troca. Enfim, a vida é assim: curta, enganadora de que é longa e eterna. Enfim, vivi, plantei o amor no que pude e semeei frutos por onde nem imaginava. Tudo em base do sonho de um dia ter construído a vida que almejei. Foi Paraisópolis/MG, que estendeu o seu colo fraterno.

Sinto orgulho de mesmo não estando mais entre vós, notar o meu sobrenome e da minha origem nos meus descendentes: família Rodrigues!