O Toque da Morte - Livro 01 - O Filho do Sol - Parte I - Os Segredos de Harakir

Depois de uma farta refeição onde não faltou cerveja, os vistanis apenas deram mais munição as críticas de Caleb nos botando pra dormir.

E pelo que nos disseram, parece que ficamos uma semana nessa situação debaixo de um sol forte que quase fritou nossos cérebros. Caleb cobrou, quero dizer, exigiu explicações dos vistanis sobre essa torpe atitude e descobrimos tristemente que nada mudou desde o primeiro encontro com eles em Steadwall. Sempre desconfiados e misteriosos.

Tudo que lembro é de uma experiência doida com aquela maldita bebida que nos deu dores de alta e uma febre muito alta de 39 graus.

Durante a viagem, enfrentamos uma forte tempestade de areia que fez os vistanis se perderem de nós. Antes dessa tormenta, os ciganos falaram de algo a respeito de mar de areia e montanhas de pedra, mas com todo aquele calorão não consegui registrar nada digno de nota.

Aqui tivemos uma boa e uma má notícia. A boa é que chegamos a Harakir com os vistanis nos deixando em paz por um tempo.

Mas a má ficou ainda pior. O calor estava insuportável e nós não estávamos preparados o bastante pra encarar um clima tão hostil, já que nós viemos de domínios com temperaturas mais amenas.

E se não fosse Vareen e sua água oriunda da magia que possui, certamente morreríamos desidratados.

* * *

As andanças continuavam e tudo que enxergávamos era deserto e mais deserto. O vento soprando de sudoeste a noroeste só aumentava a sensação de abafamento. Mais uma vez nosso bom clérigo criou uma parede condicionada para nos proteger desse calor infernal.

Não posso dizer se foi sorte ou não, mas novamente encontramos com nossos “amigos” vistanis com sua líder usando uma espécie de turbante que cobria quase todo seu rosto.

Mal deu tempo pra Caleb cobrar explicações de Dulcinat ainda sobre o ocorrido quando algo se aproximava de nós com uma velocidade ameaçadora.

Era uma horrenda criatura que usava uma espécie de roupas de linho que estavam só o trapo e pronto pra fazer picadinho de William.

O Capitão deu um passo para trás e o zumbi caiu de forma súbita.

E para nossa surpresa, William examinou a criatura mais de perto descobrindo algo interessante.

Estava passando mal e pelo pouco que soube, a criatura era um dos servos de Rá, o Deus-Sol do local. Passou por um estranho procedimento cirúrgico que retirou seus órgãos e o corpo embalsamado ficou rezando por um milagre deste incomum deus.

Ali vi uma cena bizarra e tocante. William estava chorando pela morte da múmia e deu um estranho nome a ele, Neguinho.

Perguntei ao Capitão por que este nome tão exótico e ele respondeu-me devido a múmia ter sido exposta a muito tempo pelo sol, queimando-a no processo.

Fiquei meio desconfiado com a resposta de William, mas deixei pra lá e respeitei o gosto dele por criaturas exóticas.

Vai ver que está tentando fazer coleção deles pra mostrar a Sociedade Van Richten. Vai entender uma coisa dessas.

Isso não importa agora.

O que importa é que temos uma pista para resolvermos o mistério.

Que nos levaria a uma cidade pequena e incomum a todos nós.

Muhar.

* * *

Estávamos a dois dias de chegar a Muhar e já víamos de longe as muralhas da cidade. De comum acordo, decidimos parar para descansar e planejar nossos próximos passos. Vareen enterrou o cadáver de Neguinho, a múmia-zumbi de William trancando-o num caixão de pedra. Mais tarde descobrimos que este “Neguinho” tinha um nome: Tutsephat.

Sabe qual o problema de andar com dois velhos? É que sempre tem umas ideias malucas na cabeça e quem paga o pato sou eu.

Só porque sou jovem. Imagina se fosse o contrário. Gostaria que estivessem no meu lugar por apenas um dia e verão o quanto é cansativo fazer tudo sozinho. Se Nikolai ainda estivesse aqui, a ajuda seria bem-vinda. E William ainda estava vertendo lágrimas pela múmia-zumbi sem condições psicológicas pra me ajudar.

E desta vez meu querido paladino se superou. Ele simplesmente SOLTOU a múmia-zumbi do seu caixão porque estava entediado com o deserto e queria um pouco de ação.

Não sei o que se passava na cabeça de Caleb quando arquitetou esse plano ridículo. Lógico que a múmia-zumbi atacou primeiro quem o soltou, obviamente nosso estimado paladino. Para nossa sorte, os zumbis cometem erros e acabou pagando caro na forma de um belo soco na cara já deformada.

William terminou de consertar a mancada de Caleb dando uma bela bronca no paladino com o sermão de profanar os mortos por pura diversão e que poderia terminar em uma desnecessária tragédia.

Depois desse incidente bizarro, retomamos nossa caminhada tendo o sol e a areia infinita como macabros companheiros de viagem.

Felizmente, já estava entardecendo e o pôr-do-sol é tão bonito como em Rokushima Tayoo, mas o clima seguia pesado com um frio de rachar até pensamento.

Já víamos as primeiras luzes de Muhar e William usou seus poderes para nos levar até as muralhas da cidade onde fiquei impressionado com o tamanho deles.

30 metros de altura pra ser mais exato. Sem dúvida, bom o suficiente pra aguentar um ataque frontal maciço.

Tudo que queríamos, no entanto, era duas coisas muito comuns nos nossos domínios.

Um bom banho e uma cama bem quentinha.

Mas aqui isso era impossível.

Porque tínhamos que parar uma guerra muito pior que a de Rokushima Tayoo.

Lá era irmão contra irmão.

Aqui a coisa em comum entre eles é completamente diferente e perigosa.

Religião.

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 02/06/2023
Reeditado em 02/06/2023
Código do texto: T7803834
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