FILÓSOFO, MEU PEIXINHO
UMA NOITE AO CHEGAR EM CASA, ME DEPAREI COM UM AQUÁRIO, BONITO E UM PEIXINHO BETTA, VERMELHO E LINDO DEMAIS. DIZEM AQUI EM CASA QUE COMPRARAM PARA O MEU NETO. COMO SEI QUE AQUI EM CASA É CHEIO DE PESSOAS ENTUSIASTAS, TRATEI LOGO DE SABER ONDE GUARDAVAM A RAÇÃO PARA O PEIXINHO, SABIA QUE IRIA SOBRAR PARA MIM.
SEMPRE ANTES DE COLOCAR A RAÇÃO COMECEI A OBSERVAR O PEIXINHO DE PERTO. CONVERSAVA COM ELE, COMO SÓ EU TRATAVA DELE, LOGO SE ACOSTUMOU COM MINHA CARA SOBRE A SUA CASA. FOI TÃO BOM. LOGO NOS TORNAMOS AMIGOS E, COMO TODO AMIGO PRECISA DE UM NOME PASSEI A CHAMÁ-LO DE FILÓSOFO, POIS ACHAVA O SEU JEITO DE VIVER UMA VERDADEIRA FILOSOFIA, NÃO FALAVA, MAS SEUS GESTOS E AQUELE MODO DE VIVER SOLITÁRIO ME CONVIDARAM A ESTUDAR ESSA FILOSOFIA. REALMENTE ELE VIVIA TRANQUILO EM SUA SOLIDÃO.
FILÓSOFO SUBIA E DESCIA NA ÁGUA LIMPA DO AQUÁRIO SE MISTURANDO AOS ENFEITES DO AQUÁRIO, NOUTRAS VEZES SE ESCONDIA ATRÁS DE OBJETOS PRÓXIMOS AO SEU LAR, PENSO QUE ERA PARA FUGIR DA LUMINOSIDADE.
A RAÇÃO ERA UMAS BOLINHAS EXTREMAMENTE PEQUENAS. NO COMEÇO NÃO ACREDITEI QUE FILÓSOFO SE SUSTENTASSE COM CINCO BOLINHAS POR DIA, PENSEI COMIGO , VOU COLOCAR LOGO UMAS DEZ BOLINHAS DE RAÇÃO. COMO ME ENGANEI, FILÓSOFO NÃO É IGUAL A NÓS SERES HUMANOS, ELE COMEU EXATAMENTE CINCO BOLINHAS DA RAÇÃO E O RESTANTE SE AFUNDARAM E SE ASSENTARAM ENTRE AS PEDRAS COLORIDAS NO FUNDO DO AQUÁRIO.
NESTE DIA, FILÓSOFO ME LEVOU A REPENSAR MEUS HÁBITOS ALIMENTARES, MINHA GULA. APRENDI NA INTERNET E COMECEI ALGUNS ADESTRAMENTO QUE ERAM ENSINADOS PARA ESSE TIPO DE PEIXE. BRINCAVA COM FILÓSOFO, COM O DEDO DENTRO DA ÁGUA OU AS VEZES POR FORA SOBRE O VIDRO DO AQUÁRIO, ELE ERA MUITO INTELIGENTE E LOGO NASCEU ENTRE NÓS UM GRANDE LAÇO DE AMIZADE.
QUANDO CHEGAVA EM CASA IA ENCONTRÁ-LO E LOGO ELE ME RESPONDIA COM AQUELE NADAR ELEGANTE E COM A BOQUINHA FAZIA BORBULHAS NA SUPERFÍCIE DA ÁGUA. NASCEU EM MIM ESSE OLHAR INFANTIL PARA NÃO SÓ OLHÁ-LO, MAS PARA VER TUDO QUE FILÓSOFO TINHA DE BOM.
NÃO ME LEMBRAVA A QUANTO TEMPO FILÓSOFO ESTAVA MORANDO EM NOSSA CASA, FIZ UMA PESQUISA NO GOOGLE SOBRE O TEMPO DE VIDA DESSES PEIXINHOS, DESCOBRI QUE EM CATIVEIRO PODEM VIVER ATÉ CINCO ANOS. ENTÃO COMECEI A FILOSOFAR, CINCO ANOS É POUCO OU MUITO ? ENTÃO COMECEI A PENSAR, SE MEU NETO TEM CINCO ANOS, SE FILÓSOFO VIVER CINCO ANOS, VAI VER MEU NETO COM DEZ ANOS. ENTÃO É MUITO TEMPO. MAS VIVER SOZINHO EM UM PEQUENO AQUÁRIO É MUITO TEMPO. ESSA FILOSOFIA DO TEMPO SEMPRE ME SEDUZIU. MAS ESQUEÇAMOS ISSO E VAMOS VOLTAR E CURTIR AS AVENTURAS DE FILÓSOFO.
OS DIAS PASSAVAM, PARES E ÍMPARES NA FOLHINHA, MAS NOSSA AMIZADE CONTINUAVA.
ERA SEMPRE O MESMO RITUAL, CINCO BOLINHAS DE RAÇÃO PELA MANHÃ, A NOITE AQUELE BATE-PAPO. AOS SÁBADOS MINHA ESPOSA LAVAVA O AQUÁRIO. EU TINHA UMA DÓ, FILÓSOFO FICAVA TEMPORARIAMENTE EM UMA PEQUENA VASILHA ENQUANTO SUA MORADIA ERA HIGIENIZADA.
ALGUNS DIAS DEPOIS, LEVANTAVA CEDO E TOMAVA CAFÉ ANTE DE IR PARA MEU SERVIÇO, JOGUEI A BOLINHAS DE RAÇÃO PARA FILÓSOFO, ELE NÃO COMEU. ESTRANHEI TANTO. IMAGINEI, É TALVEZ NÃO ESTEJA COM FOME AGORA CEDO, CERTAMENTE MAIS TARDE SE ALIMENTARÁ. MAS ISSO NÃO ACONTECEU, FILÓSOFO ESTARIA FAZENDO GREVE DE FOME? BUSQUEI INFORMAÇÕES COM UM VETERINÁRIO CONHECIDO. ELE ME DISSE QUE QUANDO O PEIXE REJEITA A RAÇÃO , TEMOS QUE MUDAR, QUE EU DEVERIA COMPRAR OUTRO TIPO DE RAÇÃO, COMPREI LOGO DOIS TIPOS DIFERENTE DE RAÇÃO, MAS NÃO ADIANTOU, FILÓSOFO SE NEGAVA A COMER. DÁI FUI ORIENTADO A APANHAR PEQUENOS INSETOS E ATÉ FORMIGAS POIS ELE ERA CARNÍVORO. JUNTEI UM PACOTE DE FORMIGAS E INSETOS, TEMPO PERDIDO, PARECE QUE O QUE EU NÃO QUERIA ESTAVA SE CONSUMANDO.
FILÓSOFO FICOU FIXO EM UM PONTO DO AQUÁRIO, BALANÇAVA AS NADADEIRA QUANDO ME VIA, MAS COMEÇOU A MUDAR DE COR, PERDER AQUELE VERMELHO MARAVILHOSO E COMEÇAR A MOSTRAR UMA COR ESBRANQUIÇADA. FOI MENOS DE UMA SEMANA E FILÓSOFO AMANHECEU BOIANDO NA ÁGUA DO AQUÁRIO.
UM SUSTO, FILÓSOFO SEM VIDA SOBRE AQUELA ÁGUA LIMPA DO AQUÁRIO. MEU CORAÇÃO NÃO TINHA NENHUMA PERGUNTA A FAZER, MAS MINHA CABEÇA INCONFORMADA PERGUNTOU POR QUÊ ? MEUS OLHOS NÃO ACREDITAVAM, FILÓSOFO FINDARA SEU CICLO. UM CICLO TÃO CURTO. ME CULPEI POR EXCESSO DE ALIMENTOS, POR NÃO TER OBSERVADO MELHOR ESSAS MUDANÇAS REPENTINAS.
LEVEI A MÃO DENTRO DO AQUÁRIO E SEGUREI FILÓSOFO ENTRE EM MEUS DEDOS, ERA MUITO LEVE, SEM AS BARBATANAS ERA MUITO PEQUENO. SERÁ QUE SENTIU DOR ? QUAL A RAZÃO PARA MORRER ? SE É QUE PRECISAMOS DE RAZÃO PARA MORRER. TENTAR EXPLICAR O QUE NÃO TEM EXPLICAÇÃO.
SENTEI-ME NUMA POLTRONA AO LADO DO AQUÁRIO, AGORA RODEADO PELA FAMÍLIA CHOROSA, VEI EM MIM A REFLEXÃO. SURGIRAM PERGUNTAS MIL EM MINHA MENTE, FILÓSOFO ME ENSINOU TANTO. O QUE ANIMAVA FILÓSOFO E LHE DAVA A VIDA? FILÓSOFO MORREU, OU APENAS DEIXOU AQUELE CORPINHO INERTE ? O QUE SIGNIFICAVA UMA VIDA CURTA, VAZIA SEM SABER PORQUE ESTAVA AQUI? OLHEI FILÓSOFO COM OLHOS DE ÁGUIA, NAMOREI CADA DETRALHE DAQUELE CORPINHO FUSIFORME.
QUANDO PESSOAS MORREM AFOGADAS GERALMENTE ELAS AFUNDAM, E OS PEIXES BOIAM, POR QUÊ ? MAS NAQUELE INSTANTE CONCLUI MINHAS REFLEXÓES, FILÓSOFO VEIO COM NADA, PASSOU A VIDA NADANDO E NÃO LEVOU NADA CONSIGO. FILÓSOFO FOI DISCIPLINADO ATÉ PARA MORRER.
TIÃO NEIVA