O Toque da Morte - Livro 01 - O Filho do Sol - Prólogo - Sobre Casamentos e Investigações

Faz alguns meses que voltamos da nossa frutífera missão em Rokushima Tayoo e conseguimos, com um pouco de sorte, voltar a tempo de assistir ao casamento de Lucianinho, desta vez verdadeiro sem sonhos nem maldições.

Pode-se dizer que evoluiu bastante desde aquele choque de realidade que Vareen fez com ele em Steadwall. De reles ladrão a oficial da guarda de Mordent. Temos muito orgulho dele.

Todos estavam felizes na igreja. Vareen e sua família cada vez mais próspera, Caleb contente com o casamento de seus filhos com nobres da Barovia e William muito contente por rever sua prima.

E eu, é claro, feliz por rever Charlotte bonita como sempre e Nicolas e Jeannette crescendo a olhos vistos.

Vi Nikolai bastante quieto sentado num dos bancos opostos da igreja. Devia estar pensando ou no filho com Duri ou no outro que acabou de nascer em Tayoo. Perguntei a ele sobre essa situação e o baroviano ficou muito reticente a respeito disso.

Congratulamos Lucianinho, agora promovido a sargento, e a festa foi varando pela madrugada com danças e diversões variadas.

Ao menos, não houve incidentes entre Charlotte e Vareen. Acho que agora o clérigo deve ter se aquietado um pouco depois do que aconteceu naquele outro baile.

Voltamos as nossas casas para um justíssimo sono e no dia seguinte, William nos convocou para uma reunião de emergência. Vi nele um semblante de extrema preocupação.

Não era para menos. As notícias eram alarmantes.

A KGT continuava agindo nas sombras e estavam atrás de informações a respeito de um certo mar de areia.

Será que isso tem a ver com a misteriosa múmia que Roberto Lazarento encontrou em suas, digamos, pesquisas científicas?

Attore havia capturado um dos espiões de Lady Kazandra durante uma briga de bar e depois de usar sua “persuasão”, conseguiu esta crucial informação.

William falou ainda da situação dos outros domínios. Soth estava deprimido depois de sua derrota na guerra e em Sithicus, o fluxo de refugiados diminuiu após Barovia anexar Gundarak.

Enquanto isso, Leclerc deverá mandar assassinos pra me matar e depois depor o lorde Dominic para que tomasse Dementlieu e tirá-lo do Pacto das Quatro Torres anexando-a a Falkovnia.

Típico de um traidor da pátria.

Voltando a reunião, chegamos a uma conclusão lógica. Teríamos que ajudar Attore a aprofundar sua investigação a respeito do tal mar de areia.

E o primeiro passo era fazer um pente fino nas docas em busca de informações.

Até fizemos isso com uma profundidade nunca vista, mas não encontramos nada de relevante.

Durante nossa busca, reencontramos nosso velho amigo Borg que nos contou sobre as últimas novidades a respeito de nossos “negócios”. O whiskey estava fazendo enorme sucesso nos domínios e em Dementlieu, todo o carregamento se esgotou em poucas horas. Tanto foi que o lorde Dominic solicitou novos carregamentos desta bebida maravilhosa.

Entregou ainda um tecido raro a Vareen e algumas moedas a Caleb pelos seus prósperos negócios. Contou sobre ilhas cheias de vulcões onde o clima era infernal e a comida era tão ruim que nem Strahd seria capaz de comê-la.

Até comeria, mas vomitaria tudo em segundos.

E terminou sua conversa falando de uma espécie de golens que habitavam uma das ilhas e blábláblá.

Assim que Caleb, Vareen e eu saímos do estabelecimento de Borg, ouvimos gritos de incentivo em um bar próximo.

Entramos e lá estava Aidan App Clean derrotando uns homens numa queda de braço.

Depois de deixar uns 13 com os braços doendo, Aidan nos pediu para que sentássemos numa mesa enquanto atualizava a situação.

O lobisomem nos falou sobre um livro que contava sobre um certo grupo lamordiano chamado de iídiches (que nome estranho para um povo!!) que tinha uma cultura própria e cultuavam um estranho deus chamado Adonai.

Me lembro agora de que quando estivemos naquele outro mundo depois de passarmos pelas brumas, numa daquelas estantes (a mesma que li sobre a história das aventuras de um muçulmano e seus amigos) vi um livro chamado Bíblia onde haviam escrito estas mesmas palavras em uma desconhecida língua para mim, a que os locais chamavam de hebraica.

Seria tipo um daqueles caminhos parecidos com o de Forlorn que nos levou até o fim dos tempos?

Depois de sairmos do bar, Vareen sentiu uma cutucada nas costas e ouvimos um barulho de apito.

Agentes da KGT nos surpreendendo?

Já estávamos prontos para revidar o ataque quando o homem se identificou.

Era Lucianinho.

E tinha informações importantes.

Umas boas, outras nem tanto.

* * *

Ele estava bem diferente de quando o encontramos pela primeira vez em Steadwall. Parece que o choque de Vareen fez remoçá-lo muito. Está mais confiante e seguro de suas capacidades.

Se alguém merece o prêmio de pessoa que mais evoluiu neste mundo, Lucianinho seria um forte candidato.

Galgou posições nos ramos militares com louvor e vê-lo com o uniforme da guarda real nos deixou muito felizes.

Todavia, é hora de deixar as coisas boas de lado pra ouvir as informações que trouxe.

As boas é que finalmente conseguiram descobrir o nome da tal ilha, Harakir.

Dizem que é uma terra escaldante cujos habitantes cultuam vários deuses. Falam que a água é o elemento mais importante da ilha e quem usasse cantis para enchê-la seria punido com a morte devido a raridade deste precioso líquido.

Existe ainda um vasto deserto de areias fofas, o tal “mar de areia” como chamam os locais e nisso notei que Lucianinho deu esta informação de modo bastante inconclusivo. Talvez tenhamos que resolver nós mesmos esta questão.

As más é que a KGT demonstrou muito interesse nessa estranha ilha, o que significa que há algo mais a descobrir. Pelo pouco que obtivemos, existe uma cidade chamada Muhar, provavelmente a capital de Harakir.

Tínhamos que chegar esta cidade antes destes malditos agentes que tanto nos infernizavam nestas últimas campanhas.

Mas havia outro problema. E Caleb já estava furioso porque sabia qual era.

Precisávamos pedir ajuda aos vistanis mais uma vez se quiséssemos partir o mais rápido possível.

Esses ciganos não facilitam muito as negociações e poderiam atrapalhar nossos planos.

E havia mais outra coisa com que se preocupar.

Era Caleb. Era notória sua ojeriza pelos vistanis.

Para tudo dar certo era necessário o paladino se acalmar.

* * *

A negociação foi bastante tensa. Apesar dos esforços de Vareen na tentativa de convencer os vistanis a pechinchar, o preço da viagem ainda era alto.

E pra aumentar mais ainda o problema, Caleb não cansava de aporrinhar os vistanis cobrando um preço ainda mais baixo que o de costume. Por pouco o paladino não saiu batendo em um dos vistanis mais exaltados e a confusão só não foi pior porque Dulcinat nos obrigou a pagar as moedas se quiséssemos a ajuda deles.

A negociação havia falhado e pra evitar que nossa expedição terminasse antes mesmo de começar, Vareen e eu resolvemos mesmo pagar as moedas que os vistanis queriam para desespero e revolta de nosso paladino que queria briga de qualquer modo.

É nesses momentos que lamento a ausência do nosso baroviano safado. Nikolai só precisaria usar o olho vermelho pra convencer os vistanis a nos ajudar nesta missão tão complexa.

Ele não iria conosco porque tinha seus próprios problemas a resolver na Baróvia além da situação incomum com seu cão Strahd.

Um cão que não era um cão. Era um ser humano.

Reunimos com nossas famílias para despedirmos e assim que chegamos no cais, adentramos o navio que nos levaria rumo a ilha desconhecida de nome exótico.

Harakir.

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 15/03/2023
Reeditado em 15/03/2023
Código do texto: T7740993
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