TOMA, COMPAÑERO! (Contra-contos #02)
“TOMA, COMPAÑERO”
A luta terminava em nossa frente. De todo o mundo haviam acorrido os voluntários para integrar a Brigada internacional que lutou na Guerra Civil Espanhola contra as forças representativas da opressão, anti-liberdade, supressão de direitos e sentimentos e manifestações que para nós eram o próprio oxigênio da vida, a vida digna de vivermos.
Muitos de nós éramos jovens, mas havia também os maduros, homens feitos, que por este ou aquele motivo, se tinham visto libertos de compromissos pessoais e familiares, e com clareza entrevisto a oportunidade de participar em luta na qual a vida se punha em jogo, mas os ideais a defender valiam mais que isso.
Vínhamos falando quase todas as línguas, muitos não se entendiam senão naquelas coisas mais elementares e comezinhas tais como fazer o gesto caraterístico de pedir um cigarro feito ou enrolado, pedir ao companheiro búlgaro e incomunicante na sua língua gutural e incompreensível para nos mostrar em aula prática como enrolar em pedaço de papel o fumo conseguido, a fim de fumar o cigarro desajeitado que fazíamos. Quantos não-fumantes passaram ali a fumar, por motivos tão humanos!
Nunca ouve propaganda tabagista, decantando as falsas excelências do fumo em qualquer de suas modalidades, capaz de chegar aos pés daquela estuante fraternidade humana que levou tantos e nós a pôr na boca, inalar, tragar e não tragar todos os tipos de cigarros.
O cigarro oferecido espontaneamente quando se sabia da dificuldade em obtê-lo, o cigarro pedido pelo olhar de quem não havia fumado, apenas como meio de se aproximar da criatura isolada e perdida na barreira da linguagem da nossa Brigada, o cigarro passado de boca em boca porque último, cada qual puxando uma tragada, como autêntico cachimbo da paz e irmandade entre pessoas que só podiam trocar entre si poucas palavras, pois um falava búlgaro, outro francês, aquele italiano, outro inglês, aquele o iídiche, o argentino que mal entendia seu vizinho brasileiro, era uma dessas coisas que embora causando mal a todos, - todo fumante sabe disso – compensava, mais que compensava tal hábito péssimo com o trazido em valores humanos em aproximação quase amorosa de homens de todos os tipos e feitios, unidos por um ideal -- a luta pela liberdade, pela dignidade do ser humano.
A Guerra Civil espanhola funcionou mais com fumaça de tabaco que de bombas, pólvora, TNT ou dinamite – quase me atrevo a afirmá-lo. Embora houvesse os não fumantes, estes eram tolerados por nós, tabagistas antigos e inveterados ou estreantes. Havia quem não fumava por motivos de saúde, por motivos religiosos, filosóficos. Mas estes sabiam: resistir ao vicio era difícil, dificílimo -- quem vai negar facilmente a oferta do cigarro estendido pelo desconhecido que, no entanto, e na raiz, no essencial, é um irmão?
A pluralidade de línguas nos mantinha ocupados, nos momentos de lazer e folga, na vigília e na espera – por quanto tempo esperamos, esperamos, esperamos isto ou aquilo! Importante ou sem importância, nosso tempo era gasto quase todo em esperar, esperar mais.
Esperar o ataque inimigo, esperar o raiar do dia, esperar curativo e atendimento para os feridos, esperar novas ordens, esperar a ordem ansiosamente aguardada, esperar abastecimentos, esperar as cartas vindas de todas partes do mundo, enviadas por parentes e amigos, esperar notícias pelo rádio, pelos poucos jornais e revistas misteriosamente chegados às nossas mãos e só em último caso servindo como papel sanitário, quando letras e palavras pareciam gastas de tão lidas, esmaeciam no papel e naquela umidade constante de um inverno ou outono friorentos, detestados, pondo em compasso de câmera lenta nossos movimentos, até pensamentos. Como o frio entorpece os homens desprotegidos!
Ainda mais na falta de alimentação aquecida, bebidas quentes, a distância de corpos vivos de nossos companheiros que poderiam, ao menos, estar mais próximos para podermos dormir melhor, encostados e dividindo fraternalmente o calor humano que nos defendia do enfraquecimento e da doença, do tempo final e infinitamente sutil da morte por enregelamento... Mas a masculinidade de sempre cobra seus preços e ali parecíamos timbrar em pagar esse preço.
Dizia que a pluralidade de línguas mantinha muito ocupado quem sabia falar duas ou mais. Assim, tínhamos franceses traduzindo/interpretando instruções ou simples dados comuns entre um árabe e um alemão, pondo no meio os meus próprios conhecimentos de ambas as línguas. Tínhamos ingleses do tipo mais insular e trancado, usando intérpretes portugueses para dizerem algo a um italiano, um genovês a traduzir/interpretar entre polonês e judeu do gueto que só falava iídiche -- era uma pluralidade de línguas que, por se limitarem a um contato pouco profundo no plano das palavras, tornava nosso convívio algo restrito ao essencial. Mas sentimental, emocionalmente, sabíamos ser irmãos entre nós, mais que nossos próprios irmãos nos países de origem.
Também os oficiais sargentos e cabos vinham de todas as nacionalidades imagináveis. Tínhamos um tenente chinês embora seus traços fisionômicos não o denúnciassem a primeira vista -- mestiço de português com chinesa, ao que alguém comentara, nunca pude verificar, porque Yang-Tso Cunha foi cortado em dois por metralha fascista em Algaroverde, estância onde perdemos centenas de companheiros numa contra ofensiva desastrada e condenada ao fracasso desde o início.
Coisas da guerra exatamente o fato de oficiais sargentos e cabos terem sido varridos desta existência pelos fascistas entrincheirados fazia sentir esse o fado da guerra -- nada de reclamar contra a falta de informações em que se baseara tal contra ofensiva malograda. Ninguém imaginaria uma trama sinistra por trás disso, fora apenas uma rodada favorável àqueles fascistas “maricones” porque tinham alimento, cigarros, bons agasalhos e mais munição.
Lembro-me do inglês que nos ensinou a limpar os canos de mosquetões e fuzis pelo simples expediente de fazer uma pequena trouxa de pano, amarrá-la a um cordão forte e então passar o cordão pelo cano da arma e puxar a trouxa, sob pressão, saindo do outro lado (pull–through, o inglês dissera diversas vezes), fazendo limpeza melhor do que qualquer outro recurso. os demais haviam prestado máxima atenção, logo passavam adiante a informação, era comum um de nós apresentar com orgulho aos demais sua própria trouxa pull–through e oferecê-la com cordão para limparem suas armas. Tornou-se comum cada um ter uma ou duas trouxinhas no bolso, os mais afortunados com fios finos de aço permitindo a limpeza mais rápida.
Quanta coisa o homem é capaz de improvisar nas mais variadas circunstâncias! Tais improvisações salvavam vidas faziam mais -- mantinham em pé um ânimo que se faltasse nos arrastaria a desastre íntimo e externo, concreto. Vi companheiros mal armados, armas desgastadas jogarem-nas a outros que não as tinham e se apropriarem da arma do outro companheiro tombado, mas somente depois de verificar se ele caíra e estava morto, pois jamais lhe tirariam a arma se o achassem capaz de sobreviver e lutar ainda. E aqueles que assim passavam a outros suas armas em boas condições por haverem adquirido outra nos lances de Batalha.
Há gestos naturais de nobreza que uma vez assistidos, embora em ambiente impróprio para assistentes, talvez nem tenha assistentes, marcam para sempre o ser humano e lhe confere aquele dom especial de se saber portar com dignidade na mais solitária das mortes, sem mesmo o inimigo a espreitá-lo ou saber do que se passa. Assisti ao final de mortes solitárias, eu a alguma distância, que comoveria um frade de pedra por se talvez -- pensamento absurdo? -- justificassem qualquer guerra, ainda mais por ser uma guerra dando a tantos a oportunidade de agirem com limpeza, nobreza, entregarem no altar do Deus cego e sanguissedento que as promovia ou permitia toda uma existência plena ou vazia, de valor ou insignificante aos olhos do possuidor ou de outros.
Como esquecer Marino Ortega, cigano andaluz moribundo e juntando as últimas forças para me estender os poucos cigarros que lhe restavam, a cartucheira quase vazia? Nunca antes me vira; sabia apenas no estertor da grande sombra que eu era um “compañero”. E que aqueles cigarros tinham tanto valor?
Como esquecer igual a oferta de cigarros e relógio -- artigo importante em nossa luta -- daquele que ia sendo carregado em maca improvisada para a linha detrás, talvez o hospital, após uma granada levar praticamente as pernas e parte da virilha, a mão estendida e o fio de voz chamando: “Who wants it? Take it! I won’t need it any more...”
E o cabo italiano que recolheu os objetos oferecidos levando-lhe algum alívio possibilitando-lhe o descanso em sua aflição final quanto a angústia da oferta e afinal beijando-lhe o rosto ensanguentado? E que ao se distanciar a maca com os padioleiros sentou-se no chão cabeça baixa soluçando como criança?
Em momentos assim nós sentimos tão mal que não percebemos serem eles os mais sublimes da vida, momentos que conferem a vida (estou chorando ao escrever) toda e qualquer base de valor irreal valor fora deste mundo -- ainda quando o mais ínfimo dos homens tem oportunidade de mostrar – a si mesmo e para sua maior espantosa surpresa -- que faz parte de uma humanidade fraterna, o que sempre negou com vergonha e pejo.
Quero crer que muitos ex combatentes voltados a sua vida pacífica de sua terra e tidos por neuróticos de guerra são apenas homens que tendo aprendido na guerra o real valor das coisas, regressando ao meio artificial da paz percebem ter vivido antes em fantasia, seus valores de antes nada significam, e obrigados retomá-los não mais conseguem manter o rumo de seu equilíbrio, e quando prosseguem numa guerra mai.s cruenta e selvagem ainda. Não podem lutar estão contra aquele conjunto de valores que foram defender e agora sabem nada ou pouco representar. Sua guerra interna se torna então verdadeiramente diabólica
Como descrever o indescritível? Como pôr em palavras o que simplesmente não cabe em palavras imagens de televisão, cinema, fotografia? Como registrar um odor, sabor, estado de espírito que nem mesmo nós, por eles atingidos percebemos conscientemente?
E a alegria simples e cândida nascida por uma carta, alegria que logo aprendíamos a não guardar egoistamente pois de perto ou de longe víamos os olhares daqueles para quem o correio não trouxera uma só linha um só pedaço de papel? Logo aprendi a receber uma carta, lê-la diante dos olhos próximos ou distantes de companheiros conhecidos de vista, com quem havia trocado qualquer sinal de camaradagem ou então companheiros inteiramente desconhecidos e olhando ao redor ou se fixando em algum ponto distante, ou ainda procurando ocupar se com qualquer tolice, nenhuma carta lhes chegara. E aqueles a quem ninguém escrevia?
Logo aprendi a ler e a explorar e exaltar ao máximo qualquer notícia vinda de minha terra, proclamá-la em voz alta, andando de um para outro lado, pondo a mão no ombro, na face, puxando a barba deste ou daquele que estava triste, nada recebera. Eles então rian, podiam participar na minha alegria, vivenciar intimamente nas notícias que não haviam recebido -- talvez por não lhes restar parente ou amigo algum no mundo -- talvez nunca os houvessem tido. Naqueles instantes participavam um pouco de um sentimento familiar ou amistoso que tão raramente nos podia ligar ao mundo “lá fora”. Até as pessoas desconhecidas,. mostrar retratos dos parentes, das mulheres e mães é irmãs, dos filhos, era algo que punha a chorar os homens mais rijos e capazes -- mas chorar por dentro, ou em algum canto escondido.
Acredito que para alguns de nós a convivência na guerra foi a primeira vivência familiar em suas vidas. Uma lufada, mesmo rápida e mal aplicada, de milagroso oxigênio, lufada curta ou não, permitindo inalar e prosseguir vivendo como ser humano por mais algum tempo. Hoje assisto a todo o tipo de invenções destinadas a levar tais sentimentos a todos que queiram ler, assistir as telas ouvir -- quanta baboseira! Quanta tolice mal disfarçada, envenenando os homens em vez de e levá-los!
Como esquecer o que me disse Cartilán Sobrega, o madrilenho que deixara mulher é filhos e não media palavras ao explicar os motivos?
-- Oye, eu não aguentava mais aquela rotina estúpida de sair de casa para trabalhar e voltar para ouvir que os meninos tinham feito isso e aquilo, que era preciso castigá-los. Já me tornava um verdugo que voltava a casa para espancá-los, a mulherzinha dos demônios sempre a me dizer que faltava isso e aquilo que a comida se punha rara porque faltava, não porque era boa.
E as crianças cada vez mais raivosas ou zangadas comigo... Quando estourou a guerra mandei tudo ao demônio. Viveriam melhor sem mim; o vizinho de quem ela tanto gostava e tanto admirava, que cuidasse da casa; eu não tinha mais casa em mi casa, tinha um verdadeiro inferno em casa. Ia a lutar pela oportunidade de sair daquela prisão pela oportunidade de destruir todos aqueles malditos fascistas de cara piedosa e coração de gelo. O fascista que era meu patrão, o fascista que era o policial a fascista que era aquela mulher!
Coração aberto, tornara-se anarquista ao se perceber situado em péssima equação matrimonial e paternal -- teria mesmo de desembocar na facção que lutava contra a opressão, pela liberdade de viver, pensar, agir! Sua fuga do presídio, denunciado pela mulher e o tal vizinho policial, fora rocambolesca – tivera que matar pela primeira vez, o que ainda o fazia tremer. Acredito que houvesse morto com as próprias mãos o guarda republicano, vestindo-lhe depois o uniforme e batendo continência para todos os uniformes que encontrava até apoderar-se de um carro cheio de presos, tomando o volante e seguindo diretamente para as linhas inimigas -- o lado libertário. Soltara os presos ali, diversos haviam ingressado em nossas hostes. Diziam que o carro servia até agora, fora transformado em ambulância.
Era o mais hábil volteador das patrulhas, volta e meia saía rastejando pelo terreno e voltava com alguma coisa -- armas, munição, comida, cigarros fascistas que transformávamos em fumaça assim que lhes púnhamos as mãos em meio aos maiores palavrões e pragas rogadas às hostes inimigas. E foi o mais hábil volteador até o dia em que o levaram para a retaguarda, inteiramente cego inteiramente louco -- uma granada ou atingira e ele gemia os nomes dos filhos da “maldita mulherzinha” a quem abandonara, cobria os de maldições.
Não sei se é dada há muitos a sensação de avançar sobre uma metralhadora alemã cuspindo fogo e morte só pela raiva e vontade de agarrá-la a unha porque matou o adolescente irlandês que ninguém entendia e todos amavam secretamente, vendo nele o irmão mais novo, o filho querido.
Vi homens calmos e experientes atirando-se em cima do maldito ninho de metralhadoras, gritando e desprezando qualquer cobertura, correndo o mais possível, caindo nas posses mais estranhas quando atingidos, alguns gritando sem parar, já no chão, arrastando-se ainda contra o inimigo, um deles sem forças para atirar a granada que conseguira preparar, o braço dele segurando-a tempo demais e ela explodindo em sua mão, terminando-lhe os segundos na Terra.
Aquele maldito ninho de metralhadoras! Como pode um homem odiar de tal maneira homens outros que nunca vimos, nunca soubemos quem eram! E, no entanto, estavam igualmente empenhados numa luta cega, surda – o pavor que nossa arrancada louca lhes causara não interferira na mira certeira do metralhador – devia ser professional.
Tínhamos recuado, chorando, amaldiçoado, prometendo vingança -- que bem extraordinário tais sentimentos nos proporcionam, como nós esvaziam do fel acumulado no correr dos anos sem o percebermos! Aquele ninho de metralhadoras era a própria corporificação entrincheirada do Mal, do inimigo, do demônio para quem fosse religioso de tal orientação, do desconhecido, temido, odiado para quem não o fosse.
Nunca o tomamos, jamais tivemos a satisfação de saber que seus ocupantes só podiam ser filhos do inimigo, corporificações metralhantes do veneno do mundo, haviam sido punidos, estraçalhados, torturados como certamente seriam se lhes vencêssemos as mãos em cima. O cadáver de Tim O’Leary lá ficou, nem sabemos se lhe deram sepultura -- cães fascistas! Um companheiro ainda o quis recolher, colocá-lo no ombro e o trazia quando nova rajada vinda dos filhos do inimigo o abateu também. Só os gritos de alguns companheiros evitaram e impediram que todos nos lançássemos novamente sobre as metralhadoras -- e a morte certa.
Imagino hoje como podia ser o maldito infeliz a disparar essa rajada maligna, não a que matou O’Leary e os demais companheiros – isso era a guerra. Mas a que disparou contra o companheiro – mais tarde soube que fora O’Banion, outro irlandês -- procurando recuperar o corpo do menino a quem todos amavam. Não podia ignorar que era um homem sozinho, procurando retirar o cadáver do companheiro, não podia imaginar novo ataque – por que atirar sobre quem apenas procurava levar de volta um morto? Por julgá-lo cadáver de oficial, com informações valiosas? Por estar com dedo tremendo e aflito no gatilho?
Hoje vejo, aquele metralhador desatinado – e tão certeiro – devia achar-se apavorado, preso do medo a lhe gritar ensurdecedoramente aos ouvidos internos: “Atira atira...! Aquele é o inimigo demoníaco ou divino, deves matá-lo, matá-lo, matá-lo, matá-lo...!” E imagino se esse metralhador sobreviveu à guerra, como se sente hoje, porque certamente não terá esquecido a rajada final – nem como encarnação de um ser vindo de um mundo mais gélido conseguiria esquecer.
Mas não creio que estando vivo seja um ser humano capaz de sorrir. Nunca mais.
Sei que a vida comum e de paz – triste paz a nossa... -- os gestos mais humanos tornam-se ridículos e deslocados. O tremendo valor de uma meia seca naquela miséria humana é riqueza... humana de tais frentes de luta encontra, junto a rapazes e maridos, quando as acham em gavetas de cômodas e elegantes guarda-roupas ou gaveteiras, a total falta de valor com que as usam, escolhendo entre as cores, criticando o pequeno furo numa ou noutra, por estarem furadas não as calçarão. Sei do prato fumegante e bem preparado, posto diante de crianças, adolescentes ou mesmo adultos e deparando com o semblante entre enfadado e contrariado porque “é sopa outra vez?”
Sei de sair e comprar o que se quer em cigarros na esquina, um maço, dez, cem, perfeitamente possível e fácil, dependendo apenas de pagar – o cigarro bruto feito de palha e enrolado em papel qualquer, correndo de boca em boca em meio da noite e ao frio sem luar e cheio de lama tornava-se verdadeiro jato de ânimo para todos os que participavam com uma só tragada...
Por isso não entendo os pacifistas. Eles parecem crer que a vida pode ser um sempiterno mar de rosas, todos a se entenderem muito comportados em torno da mesa de casa ou da conferência, ouvindo argumentos dos mais ocos e irreais nas mesas redondas e debates em televisão e meneando as cabeças, tomando partidos.
Tudo está assegurado, garantido, as leis funcionam o bastante para não ser preciso tomar armas e enfrentar o Desconhecido da guerra, isso se torna atitude descabida e incompreensível, senão selvagem e estúpida. Um concerto de leis, regulamentos, normas e determinações, entre eles os hábitos e costumes “civilizados”, impede as questões surgidas (elas nem mais surgem!) de serem decididas de outra maneira, uma verificação de quantos se apresentam em ambos lados de uma disputa qualquer, dispostos a darem as vidas por sua opinião, aproveitando a ensancha rara e hoje inexistente de se bater por uma ideia.
O que temos mais parecido a isso é a “luta” nos esportes, onde não se defendem pontos de vista opostos – todos unânimes numa “vitória”, mas sem significado maior.
Hoje vemos mulheres emitindo opiniões em todos os momentos e sobre todas as questões, arvoradas em provedoras de lares onde trabalham ou dos quais se ausentam diariamente para trabalhar a fim de poder desfrutar um padrão de vida cada vez mais elevado onde tudo se torna cada vez mais necessário e logo passa a indispensável.
Quando contávamos com qualquer coisa gelada em geladeira em nossa luta espanhola, quando ao contrário nossa dificuldade maior era aquecer um pouco o que comer ou beber?
Quando se podiam escolher meias, cuecas, calças ou roupa em gaveteiro se mal tínhamos peças maltratadas, sujas e grudadas nos corpos maltratados pelo frio e que o calor vinha maltratar também?
Não se tinha a possibilidade de tirar o agasalho embarrado e guardá-lo em qualquer lugar para não sufocar no calor – quem o despisse estaria com a mão ocupada, seria volume na mochila, e sabia que tal agasalho seria a salvação ao voltar o frio.
Vejo estes seres humanos bem vestidos, bem nutridos, fumando à vontade e se divertindo com jornais, revistas, livros, rádios e televisão, cinema, teatro e tudo o mais, imagino o tipo de distração dado àqueles que, pelo que sentiam e faziam, por sua crença e atitude e ação, valiam imensamente mais do que qualquer desses janotas e folgadões desfilando nas praias e que nada mais fizeram para conquistar e assegurar tais direitos do que apenas nascerem.
Imagino um tipo de “direitos” assistir essa gente despreocupada que tanto aprecia preocupar-se com frioleiras de sua própria invenção e próprias do seu tipo de vida diante da emergência na qual tivesse que se lançar a luta para asegurar não tais direitos mas a pura e simples sobrevivência.
Aquele cidadão em carro dirigido por motorista particular teria a capacidade de andar a pé 60 km em um dia? Seu motorista saberia dirigir tão bem um caminhão em frangalhos encarregado de tirar da frente de luta uma dezena de feridos em meio a granadas explodindo, estrada minada e esburacada, tendo de passar de qualquer maneira? seria capaz de; parada ambulância ou caminhão adaptado em tal, por estilhaço que lhe arrebentasse o motor, ir consolar e fazer companhia aos feridos que transportava, providenciar o meio de levá-los a seu destino, hospital onde sofrimento maior os esperava em operações improvisadas, falta total de recursos?
Que tipo de vida teria aquele grupo de crianças uniformizadas frequentando o colégio e fazendo o ginásio? que tipo de vida teria se a cidade se achasse sob bombardeio, sitiada, com falta de água, comida e sobra excessiva de medo, pavor, gritos, destruição, morte, feridos, ratos famintos e cachorros enlouquecidos?
Oscilo sei, com tais imagens, as de agora e aquelas que não dá para esquecer, parto de um extremo a outro. Mas nem um nem outro, são extremos, na realidade, pois a realidade pode ser ainda mais cruenta a um lado e mais asquerosamente sibarita e parasitaria de outro.
Como esquecer o judeuzinho que em Salamanca tomara sozinho um ninhho de morteiros inimigo, perdendo dois dedos da mão esquerda, exatamente aquela de manejar com maestria seu violoncelo em Cracóvia? Lutava para os filhos poderem ter liberdade e oportunidade de seguir estudando música no conservatório de Lisboa.
Como esquecer a imagem de Alfonso López Tupanqui porque na Guerra Civil da Espanha sabia encontrar-se a primeira linha do Front Nacional de sua pátria sul-americana e se apresentar disposto a aprender e voltar um dia à pátria de bananeiras e mágico luar, mais capaz de lutar por sua independência? Lopez se apresentava e invariavelmente a qualquer missão de voluntários, fora visto pela última vez em corpo a corpo de arma branca com três fascistas de baioneta calada brandindo o fuzil sem munição e transformado em porrete, podendo fugir e negando-se a isso, jamais se entregaria. e cujo último grito fora “Viva Paraguai Libre!”?
Ao meu lado, Carlos o judeu mais mentiroso que conheci, aponta alguém, finalmente fala alguma coisa, devia estar como eu, imerso na contemplação de tanta falsa prosperidade, segurança e harmonia humanas, nessa praia balneária onde nos três temos que passar uma semana.
-- Lembras Oviedo?
Se lembro... Foi onde nos batemos a última vez, nós que éramos dois dos três únicos sobreviventes de nosso batalhão, fugidos do hospital de prisioneiros, ao final da guerra e perdida nossa última batalha.
Ele ferido e tombado, gemia, e eu, mosquete ou o que restava dele, sem munição, aprestava-me para correr também diante dos inimigos em gritaria com seus “vivas” republicanos então malditos. Como os ouviria hoje, com que alegria!
Oviedo fora nossa última batalha, sim. Diante de situação cada vez mais confusa e pressaga para nossa Brigada Internacional, faltando-nos praticamente tudo, havíamos reunido os últimos companheiros em depressão do terreno, frente de batalha.
O inimigo se aproximava, deveria chegar questão de meia hora e um sentimento indescritível se apoderava de todos. Sabíamos que o fim se aproximava também, podíamos fugir pelas serras, tentar sobreviver isoladamente ou em grupos menores. Mas quem arredava pé?
Até que um pequeno grupo de alemães e austríacos, nossos companheiros germânicos contra Hitler, se formara no centro da depressão do terreno e começara a cantar.
Vozes firmes, claras, algumas roufenhas, porque vozes de homens com idade mais avançada.
Algumas canções conhecidas, mas iniciaram com o hino nacional imperial, “Deutshland über alles”, canção nunca entoada por eles, que pudéssemos ouvir antes. A ocasião permitia.
Logo outras vozes se tinham feito ouvir, outros chegavam ao grupo e os abraçavam. Como por acordo, vozes inglesas se alçavam, era o “God Save the King”, ouvido em silêncio por todos os demais, arrastados àquele ponto da depressão, vindos de todas as direções.
Em seguida surgia um coro maior, o hino espanhol se fazia ouvir forte, vinha logo a “Marselhesa”, entoada por não sei quantas vozes, em francês correto ou estropiado. Sempre vibrante, sempre libertária e heroica. Poucas vezes tão heroicas como ali.
O dia da canção de despedida... Muitos choravam quando um irlandês, o único irlandês restante, entoou sozinho em sua misteriosa língua uma canção, que só podia ser a da sua pátria, seria a desejá-la livre e acolhedora para os filhos dignos dela.
E finalmente todos ouvimos a “Internacional’, mesmo os que não éramos comunistas nem socialistas. Nunca alguém poderia explicar como as canções essencialmente nacionais de cada país, podiam desembocar em seus acordes.
Um companheiro queria falar, logo dois outros o levantavam e colocavam sobre os ombros.
Falava francês entrecortado, usava a língua mais compreensível para todos, ainda assim, quem sabia diversos idiomas traduzia para quem não entendia.
--Mês amis... écoutez moi!...-- Nous sommes ici... pour nous battre... pour notres... notres ideals!
(--Meus amigos... me escutem!...-- Estamos aqui... para lutar... por nossos... nossos ideais!)
Errava no francês falho e fraco, mas quem não entendeu uma só palavra, naquela fala espaçada que dava tempo para traduzir e entender, até pelo sentido?
Às vezes faltava a palavra, alguém a dizia por perto e ele a tomava, então, lançava ao ar em voz rouca, quase gritada para todos ouvirem.
--Nous n’avons pas peur... de mourir... parce que la vie... ne tient pas valeur aucun... pous nous que sommes venus... de toutes les coins do monde... pour nous battre... contre... la tyrannie... pour la Liberté.
(--Não temos medo... de morrer... porque a vida... não tem valor... para nós que viemos... de todos os cantos do mundo... para nós lutar... contra. ..tirania... para a liberdade.)
Enxugava os olhos, prosseguia, os demais parados e ouvindo uma oração real, vibrante, dava-nos calafrios, aquecia-nos sangue e ossos naquela tarde gelada.
--Il faut que nous nous battons... contre l’enemi... avec tout que reste... de notre vie et de noutre pouvoir.
(--Devemos lutar... contra o inimigo... com tudo o que resta... de nossa vida e nosso poder.)
Pausava bastante para choisir (escolher) as palavras, em sua língua pensava, depois tentava enunciá-las nesse francês capenga, entendido por todos, murmúrios traduziam para búlgaros, ingleses, alemães, sul-americanos, americanos do norte, russos, todos enfim. O que dizia era repetido em todas as línguas dos presentes, nos intervalos de suas frases curtas e entrecortadas.
--La mort... c’est notre libération finale... nous savons que nous seront morts... maintenant ou plus tard. Mais il faut que nous prenons jusque a la fin ( tornava-se mais fluente às vezes) cet que nos avons... prefere de faire de notres vies. C’est la fin de la soufrance... mais tu sais ... toi... toi... toi... (e se voltava em todas as direções, apontava, indiscrimnadamente este ou aquele em volta, mais próximos ou mais distantes ) que nous sommes les freres et les fils de la liberté... de la courage... de l’honnêteté.
(---Morte...é a nossa libertação final...sabemos que estaremos mortos...agora ou mais tarde. Mas temos que levar até o fim o que temos... preferido fazer da vida. É o fim do sofrimento... mas você sabe... você... você... você... que somos irmãos e filhos da liberdade... da coragem.. .honestidade.)
Leves murmúrios surgiram, avolumavam-se em sentimento de fraternidade que jamais nos abandonara.
--Je vous aime, à tous!... je t’aime à toi... toi... toi... et a toi!...Je vous aime a tous!... Nous sommes un seul corps. Je vous embrasse... j’embrasse a toi... toi et a toi, a tous!...
O murmúrio se avolumava, ele parava para prosseguir, recuperando o fôlego.
--Nous pouvons fuir!... (Proclamava agora com sombra de riso)... Nous pouvons courir, chercher un abri quelconque (murmurava uma palavra perdido, alguém lhe dizia o que procurava)...ailleurs!... Mais nous pouvons rester, ici... ici... ici! (gesticulava, apontando para a depressaõ onde nos encontrávamos, agora solidamente agrupados, todos os postos abandonados, havia tempo de voltar a eles), Nous pouvons rester ici... et nous battle comme del lions!
La vie est courte, mês amis, mês frères, mês fils! Porquoi courir? Pour mourir comme un prisioner, comme un chien?
Dava tempo para respirar, gritava agora e o esforço lhe custava fôlego, não era jovem. Eu o vira zelando pelos outros, falando ou tentando falar aos mais jovens, atendia a todos, tinha gestos os mais fraternos de camaradagem quando achava um de nós abatido. Seu sorriso, seus tapas nas costas, puxadas de barba, oferta de cigarros eram conhecidos de todos nós.
Os murmúrios se avolumavam nos intervalos. E ele encerrava:
--Je vous aime!... Je resterai ici, je m’en vais battre comme un lion! Nous pouvons faire quelque chose pour nous mêmes et nous le pouvons faire exactement ici! Noutres femmes, pour ceux que leur tiennent nos fils et nos amis par tout le monde ont leur yeux... posés en nous... même s’ils n’etaient pas ici, nous pouvons nous battre! Je vous remercie, mês amis, mês fils, mês freres. J’y suis, j’y reste!...-- terminava gargalhando, vibrante, firme.
Será dada a um homem ou mais de um homem, no futuro cheio de garantias de paz e segurança, outra oportunidade de alguém de tal maneira se proclamar, diante de forças maiores, inimigas, e de assim proclamar a independência real ou desejada do espírito humano?
A aclamação fora ensurdecedora. Não houve como deixar de nos abraçarmos uns aos outros, sem reservas, sabendo que poucos ou nenhum restaria vivo se ficássemos e lutássemos. Aquele abraço, o beijo na face que logo surgia, era declaração final de princípios, força, saúde, confirmação de nosso voluntariado para aquela guerra. Declaração final de vidda, sim, de vida! E só mais tarde o percebi, bem mais tarde.
Voltamos céleres aos postos após as despedidas de todos a todos, os preparativos feitos, nunca se fumou tanto, seriam as últimas baforadas, ninguém mais guardava ou economizava para o dia seguinte -- lançar fora a última ponta de cigarro era o mesmo que despedir-se da vida. Cantávamos, assobiávamos, de olho na planície em frente por onde vinham os fascistas, coluna distante a dois quilômetros, desembarcavam os fantoches, formavam colunas e vinham a pé.
--Venez vite, mon tabac va finir! -- gritou um de nós, a gargalhada foi geral.
E logo, a impulso vindo não sei de onde, deixávamos nossas posições e descíamos o contraforte, em direção aos amaldiçoados inimigos.
Formamos linha tênue, estendendo-se de frente para o exército que avançava sobre nós.
A trescentos metros ninguém disparava, percebiamos o inimigo calado baionetas ordenadamente – como eram ordenados os bonecos! -- Nós os xingávamos de todos os nomes existentes no calendário de São Porcolino, o único santo de nossa devoção -- e em todas as línguas mostrávamos-lhes os fundos, os membros.
Trocávamos palavras, gritos, imprecações...
O primeiro disparo modificou tudo. Nossa gente desobediente aos mais elementares princípios da arte militar se transformou. Tornamo-nos homens alertas e prontos a tudo. Gritos surgiram de novo, tiros espoucaram, granadas estouravam entre nós, os morteiros do inimigo começavam a agir.
Quando a distância permitia o tiro de fuzil, mosquetões, metralhadoras carregadas nos braços, a avançada tornou-se marcha picada, logo corríamos. Tive a glória de perceber hesitação entre os inimigos, alguns recuavam em carreira. Mas os profissionais deles mantiveram posição, alguns paravam para abrir fogo, outros se lançavam à frente, baionetas caladas. Luta de homem para homem, que meio mais belo de morrer existe?
Na embriaguez da luta cheguei com alguns companheiros ao corpo-a-corpo, varei un fascista com o sabre, tive tempo de brandir o mosquetão antigo, e atingir dois fascistas, um deles pouco mais que criança -- criança do demônio! O’Leary estava vingado, naqueles momentos eu mataria a Virgem Maria, Jesus e o Papa, se me aparecerem em uniformes fascistas!
No peito, e estendendo-se pelo corpo, pelo sangue, sentia o rugir de um leão desatinado, urrando: Mata! Mata!
Nem sei como parei, tudo se perdeu na voragem poeirenta daquele lugar.
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Voltei a mim em hospital, levei dias para começar a perceber o acontecido, que não morrera.
Na cama ao lado estava Carlos, o judeuzinho mais mentiroso que conheci e que também ao meu lado lutara como leão na planície final.
Achava-se lúcido e pôde me explicar, à medida que meu cérebro permitia e voltava à tona: tínhamos sido derrubados a coronhadas, ele primeiro, eu continuara lutando. Ele fora ferido a tiros e baioneta em diversas partes, eu me achava enfaixado em todo o corpo, da cabeça apenas olhos, nariz e boca haviam ficado descobertos, parecia uma múmia. Até hoje ele me chama de “reverendíssimo faraó”, já parei de mandá-lo ao inferno por isso.
Nosso regimento destroçado, restavam três homens vivos -- ele, eu e o irlandês que entoara a canção no “Dia das canções”. Os demais haviam morrido em batalha ou posteriormente no hospital.
A guerra estava perdida e à intervenção da imprensa internacional entrara em cena, os feridos eram tratados com a maior magnanimidade e eficiência pelos melhores médicos espanhóis e de todo o mundo.
Em breve nos mandariam para Londres, por intervenção do consulado inglês, já que ele, Carlos, convencera o irlandês sobrevivente, na cama do outro lado, a aceitar a generosa oferta do leão britânico.
Ele aceitara praguejando, amaldiçoando e cuspindo para o lado, mas Carlos lhe dissera: “Remember, we are the last ones. There is a lot we can do, we were chosen to survive our friends”(“Lembre-se, nós somos os últimos. Há muito que podemos fazer, fomos escolhidos para sobreviver aos nossos amigos”).
Carlos falava bem o inglês e o fato de não termos documentos, e sermos prisioneiros feitos junto àquela parte da Brigada Internacional levara nossos captores a nos tomar por cidadãos britânicos e irlandês -- para eles dava no mesmo.
Assim conseguimos escapar aos malditos médicos fascistas, jornalistas fascistas e militares fascistas.
Só não os amaldiçoamos -- eu me mantinha calado para não transparecer minha real nacionalidade -- a pequenina enfermeira destacada para cuidar dos três, verdadeira menina vinda das montanhas de Andaluzia. Nossa santa padroeira, a verdadeira santa padroeira, por nós fazia tudo o que podia, e muito mais ela fazia embora vedado, proibido e barrado pelos malditos militares fascistas, médicos fascistas, jornalistas fascistas.
Seguiu conosco de avião para Londres, e lá pediu asilo político -- era anarquista espanhola, servira aos fascistas como enfermeira exatamente para ajudar os prisioneiros feridos, procurara por todo o tempo o pai, un cigano andaluz.
Só então soubemos seu verdadeiro nome: Ángela Ortega.
Filha de Marino Ortega, que morrendo me ofertara os últimos cigarros e a cartucheira com alguma munição. Que m’os ofertara com o resto de voz e de sorriso cheio de dor, chamando-me “compañero!”.
Quando percebi e soube com certeza, olhei-a de modo tão penetrante, logo as lágrimas a cobriram e esmaeciam em contornos difusos, ela veio a ter comigo adivinhando tudo.
Casamo-nos, com toda a diferença de idade.
Sentada conosco neste balneário, tantos anos decorridos, entre Carlos e mim ela vê o desfile dessa gente, os automóveis, a praia linda e bem cuidada, crianças aos gritos e mães a outros gritinhos…
E me diz mais uma vez:
--Se essa gente soubesse…
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861016-790719 Valpii.
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TOMA, COMPAÑERO!
Forma parte da Coletânea CONTRA-CONTOS,
de Affonso Blacheyre, (1928-1997),
cuja biografia está publicada no RECANTO..
Trata-se do segundo dos contos da coletânea,.
(editado por Gabriel Solís)
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