UM MOMENTO ESPECIAL
Há trinta e cinco anos, um jovem viajou a Brasília a serviço. Lá foi incumbido de levar o chefe a um encontro na Bahia, onde permaneceram por três. Na ocasião, conheceu uma jovem com que compartilhou excelentes momentos. Disse-lhe o nome e que era de Porto Alegre/RS, nada mais. O soneto de Alceu de Freitas Wamosy, se o eu lírico for colocado no masculino, retrata a história desse casal. Duas Almas - Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansado, / entra, e, sob este teto encontrarás carinho: / Eu nunca fui amada, e vivo tão sozinha, / vives sozinho sempre, e nunca foste amado... / A “vida” anda a branquear, lividamente, a estrada,/ e a minha alcova tem a tepidez de um ninho. / Entra, ao menos até que as curvas do caminho / se banhem no esplendor nascente da alvorada. / E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa, / essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua, / podes partir de novo, ó nômade formoso! / Já não serei tão só, nem irás tão sozinho: / Há de ficar comigo uma saudade tua... / Hás de levar contigo uma saudade minha...
Há catorze anos, estava ele, no Orkut, quando uma jovem entrou e lhe boa noite.
– Tu me conheces?
– É!... Minha mãe diz que temos muito em comum.
– Quem é a tua mãe?
– A Lisiane Porto.
– Da onde ela me conhece?
– Há alguns anos, o senhor esteve aqui a trabalho. E vocês, minha mãe e o senhor, viveram três lindos dias de amor.
– Lembrei...Lembrei! mas o que tem a ver isso com nós?
– Segundo minha mãe, temos muito em comum.
– O quê?
– O senhor é o meu pai!
– Ah! Chama a tua mãe!
– Lisiane, o que está menina está dizendo é verdade?
– Sim!
– Por que não me procuraste?
– Grávida de Mariana, conheci um rapaz com quem me cansei. Ele a assumiu... Depois de dois anos, tivemos o nosso bebê.
– Se organizem que vou comprar passagens para virem a Porto Alegre. Quero conhecê-la pessoalmente.
Dias depois, no saguão do Aeroporto Salgado Filho, um encontro repleto de lágrimas e de emoções. Tão logo, viram-se, correram ao encontro um do outro. Dez dias de descobertas e total empatia. Na hora do embarque, a menina falou:
– Pai, quero vir morar contigo. Posso?
Devo estar sonhado!? É muita felicidade!
– Pode sim! Venha quando quiser!
– Vou providenciar a minha transferência da PUC de lá para a daqui.
Beijaram com a promessa de se reencontrarem em breve.
Duas semanas depois, Mariana retorna a Porto Alegre. Nesse meio tempo, Pietro procurou um advogado para encaminhar a documentação para reconhecer a menina como filha.
Hoje, o amor que os unem, ameniza a lacuna dos anos que não se conheciam. Recentemente, Mariana, que já está formada e trabalhado num escritório de advogacia, informou ao pai que havia alugado um apartamento próximo ao dele. Está namorando, mas cada um irá viver no seu cantinho.
Pietro nunca se casou. Seu orgulho é a filha!