JULIETA
Depois de muita luta Julieta consegue sua moradia doada pela prefeitura, lugar conhecido como turrão de dois.
Ao chegar à casa nova Julieta ouve vozes e risos, se assusta:
_ Será que tem fantasma.
Mas não, era só voz de criança brincando.
_ Nossa, pensei que era igual aonde morava debaixo daquele papelão, uma bagunça, era vizinhos brigando logo cedo, quase todos os dias apareciam uma de nós morta, esmagada, ainda bem que agora eu tenho minha casa, mesa farta, migalhas de pão, bolo e doces tem de montão deixado cair pelas crianças, depois de arrumar minhas malas, vou dar uma volta para conhecer a vizinhança.
Julieta se arruma toda e sai, vai cantinho por cantinho da vila conhecendo seus novos vizinhos, depois de conhecer toda a vila volta para casa cansada, pois já era tarde, toma banho, coloca suas pantufas, pega um café e vai assistir à novela preferida, acaba cochilando e dormindo no sofá. De manhã, Julieta acorda com o barulho do telefone tocando.
_ Trim - trim.
_ Quem será esta hora?
_ Alou, quem é?
_ Oi pai, o senhor e a mãe vão bem?
_ Sim minha filha.
_ Vocês vão vir almoçar aqui em casa?
_ Sim querida, vamos comemorar sua casa nova.
_ Tudo bem, estou esperando vocês, tchau beijo.
Chega à hora do almoço, a campainha toca Julieta vai atender, são seus pais.
_ Oi pai, oi mãe, entrem, está tudo bem com vocês?
_ Tudo bem Julieta, viemos te dar os parabéns para você pela casa nova, é muito bonita.
_ Obrigada mãe, mas agora vamos almoçar, a comida já está na mesa e pode esfriar.
_ Julieta que bela mesa.
_ Senta pai, senta mãe, vamos almoçar.
_ Filha me conte, você já conheceu seus novos vizinhos?
_ Não, de vez em quando escuto uns gritos, parece ser da mãe das crianças, mas ela eu nunca vi.
_ Filha deve ser bons vizinhos.
_ Não sei não mãe, mas deixa isso para lá.
_ Pai o senhor gostou do almoço?
_ Sim minha filha, estava muito gostoso, mas eu e tua mãe não podemos demorar, prometemos para seus avós que íamos dar uma passadinha por lá, eles estão meio adoentados, outro dia viremos com mais tempo.
_ Mãe, pai, mande um beijo para o vovô e outro para a vovó e estima melhoras.
_ Tchau! Um abraço Julieta, vê se cuida.
_ Pai, mãe, um beijo vê se voltam logo, já estou com saudade.
As semanas foram passando, Julieta via às crianças chorando quase todos os dias e escutava elas pedindo para sua mãe não bater, mas ela não estava nem ai e batia mais. Quanto o pai chegava em casa às crianças o viam e o abraçava e contavam que tinha apanhado de novo da mãe. O pai das crianças ia perguntar para mãe:
_ Joana, por que você bateu de novo nas crianças?
_ Joaquim, eu bati porque elas estavam bagunçando.
_ Mas Joana, todos os dias você bate no Bruno e no Lucas.
E foi assim que Julieta descobriu que os pais dos meninos se chamavam Joaquim e Joana.
No dia seguinte, depois de brigar com o Bruno e com o Lucas por terem falado para seu pai que tinham apanhado, dona Joana deixou cair o chinelo, que quase acertou Julieta que observava.
Dona Joana era uma mulher muito brava, por tudo ela brigava, seu Joaquim era o contrário, muito calmo.
Julieta muitas das vezes via dona Joana ir para cima do senhor Joaquim para bater, ele deixava e ainda ficava dando risada, ela cansava e saia.
Passam-se os meses e a dona Joana nada de mudar, além de bater nos meninos ia para cima de Joaquim que tomava porrada e nada falava.
Julieta já estava cansada de viver escondida, resolveu sair e dar uma volta, de mansinho passando pelos cantos da parede para que a dona Joana não lhe vice, não teve sorte, o menino mais velho o Bruno gritou:
_ Mamãe! Mamãe! Olha a barata, mata.
Julieta não sabia o que fazer, olhou para um lado, para o outro e saiu correndo com Bruno atrás gritando:
_ Pega, mata mãe.
Dona Joana parou o que estava fazendo e foi ver se era verdade que o Bruno estava falando, quando viu a barata Julieta correndo pela casa começou a gritar, chamando pelo seu Joaquim.
_ Tem uma barata aqui, mata tenho medo.
Seu Joaquim lá na sala finge que não estava escutando, pensou:
_ É agora vou me vingar, posso depois até apanhar, mas hoje vou a forra.
Dona Joana gritando, gritando pelo seu Joaquim que não está nem ai. Joaquim lá da sala grita:
_ Velha rabugenta, grita se esgoela.
Depois de muito tempo seu Joaquim vai socorrer dona Joana, fingindo arrumar as calças chegou correndo na cozinha.
_ O que foi Joana?
_ Onde você estava todo este tempo Joaquim?
_ Estava no banheiro.
_ Joaquim você não esta vendo a barata?
_ Estou Joana.
_ Então mata ela Joaquim.
Joaquim sai correndo, pega o spray e corre atrás da barata. Julieta corre de um lado para o outro e dona Joana gritando:
_ Mata, mata Joaquim esta barata.
Lucas o menor correndo atrás grita:
_ Pega, mata papai.
Até que Joaquim encurrala Julieta no canto da parede. Julieta se ajoelha, faz o sinal da cruz e começa se a lembrar de seus pais, de sua casa e também da antiga casa de papelão, onde ela via outras que nem ela, morta.
Julieta olha para seu Joaquim e começa a chorar. Joaquim mira o spray e aperta, no meio da fumaça Julieta desaparece, minutos depois a fumaça some, Julieta reaparece tonta da borrifada do veneno, levanta-se com dificuldade, toda alegre por ter sobrevivido. Julieta agradece sua mãe por ter dado uma boa alimentação quando criança, se não ela teria aguentado o cheiro do veneno. Joaquim nada contente fala:
_ Esta barata parece Joana, dura na queda.
_ Joaquim você está me comparando com uma barata, toma esta panelada na cabeça, para você não ficar me comparando, ainda mais com uma barata.
Joaquim pega o chinelo depois de ter tomado uma panelada na cabeça e sai correndo atrás da barata Julieta e arremessa. Julieta consegue se desviar dando uma cambalhota, mas não teve jeito, novamente outra chinelada, que quebra uma de suas patas, não tendo mais para onde correr e cansada Julieta fecha os olhos, ergue as patinhas e fica esperando a chinelada final. Joaquim ergue o braço e bati.
_ Joaquim você matou a barata?
_ Sim Joana.
_ Agora Joaquim limpa a cozinha, se não quiser apanhar.
Joaquim pega a chinela, olha a barata estampada na sola, segura as duas anteninhas, puxa e joga no lixo.
Para a barata Julieta será a sua ultima moradia.
Paulo Pereira
Frase
Na casa de mulher brava e marido frouxo, nada melhor do que um chinelo novo.