Pequenas histórias 285
Eduardo pegou a bicicleta
Eduardo pegou a bicicleta e do portão gritou:
- Estou saindo, mãe.
- Almoçou meu filho?
- Sim, mãe.
- Cuidado, viu? Vá com Deus.
- Assim seja, mãe.
Como sempre fazia todos os sábados, depois que deixava o serviço na torrefação de café, almoçava, pegava a bicicleta comprada há pouco tempo para que pudesse trabalhar, e ia se encontrar com os amigos. Essa era a sua rotina semanal.
Descia a rua sentindo no rosto o vento do meio dia arrebatado por uma euforia com que fez largar as mãos do guidão e abrindo os braços gritou com toda a força dos pulmões:
- Vida minha vida eu te amo.
Foi quando do meio do quarteirão viu os amigos a esperá-lo na outra quadra onde tinham marcado o encontro. Lá estava o Japonês, que ajudava o pai na quitanda; o Xavier, que trabalhava na Base Aérea da Aeronáutica de Pirassununga; e o Rafa, o Rafael, que na loja de moveis aprendia a carpintaria com o pai ajudando-o.
- Como sempre atrasado, gritou o Japonês.
- Vamos indo, ele nos alcança, berrou o Xavier.
- Cuidado com o semáforo, vociferou o Rafa.
- Hein, me esperem, suplicou Eduardo.
Mas os amigos não deram ouvidos a ele, se puseram a pedalar rua abaixo. Eduardo já estava no meio do cruzamento quando o amarelo mudou para o vermelho. A sua esquerda apareceu um carro. Pensando rápido, brecou a roda esquerda que, com isso, fez com derrapasse evitando o choque, e, ao mesmo tempo ficou lado com o motorista raivoso:
- Seu moleque quer morrer?
No instante ao perceber que conseguira evitar o atropelamento, soltou o breque, jogou a bicicleta para a direita, endireitou o guidão, e pedalou ligeiro ao encontro dos amigos que ao verem a peripécia que ele fizera, exclamaram todos aliviados.
- Seu maluco.
- Quer morrer doido.
- Vamos embora pessoal.
E assim, todos os quatros desceram a rua para mais uma aventura de fim de semana.