O PISTOLEIRO QUE DESAFIOU CHRISTINE GASP
A cidade de Denver ficou em polvorosa quando uma mensagem via telégrafo chegou na agência dos Correios e deixou Marth Mary preocupada com o que poderia acontecer nos próximos dias. Ela, que fôra colocada ali como Telegrafista por indicação da xerife Christine Gasp, que valorizava o trabalho feminino onde quer que coubesse a capacidade da mulher, se viu no dever de comunicar em primeira mão a sua amiga. A mensagem realmente foi entregue com rapidez e logo após a defensora da lei deixou vazar o conteúdo da informação recebida para que a população tomasse conhecimento do fato. A preocupação foi geral, os mais chegados amigos da xerife logo se dirigiram para a sala onde ela trabalhava, alguns presos aguardavam julgamento por um juiz federal e ela estava bastante ocupada, mas mesmo assim deu atenção aos cidadãos preocupados com a sua segurança. Christine retirou da gaveta o seu Colt 45, olhou-o com carinho, colocou-o no coldre e sorriu sarcarticamente para todos que a inquiriam sobre o que iria fazer.
- Aguardem e verão - disse ela.
O leitor ainda não sabe o teor da mensagem recebida pela Telegrafista Marth Mary, mas vai ficar sabendo a partir de agora. No texto um sujeito que se auto proclamava pistoleiro desafiava a xerife para um duelo, isso mesmo, o desconhecido avisava para que a agente da lei de Denver se preparasse para um confronto homem/mulher, pois entendia que a figura de um xerife não tinha sexo. Dizia ainda não estar de acordo com as medidas tomadas por ela e que em dia e hora a serem marcados ele chegaria na cidade já pronto para o embate.
Dois dias se passaram e nada do acerto do pistoleiro ser concretizado, as pessoas nas ruas vigiavam as entradas da cidade como a esperarem a chegada do suposto pistoleiro que teve a audácia de desafiar uma xerife com a capacidade de Christine Gasp para matá-la. Isso era inadmissível, pois ela vinha fazendo um trabalho excelente no combate a criminalidade nesse território do Velho Oeste. No "Saloon" o comentário não era outro senão o duelo que iria acontecer entre a xerife e o desconhecido que todos achavam ser um maluco, pois com certeza teria sua vida ceifada num piscar de olhos e se ela não fizesse isso a população revoltada iria fazê-lo, ou seja, de Denver ele não sairia vivo. Mas tinham certeza que tendo início o duelo uma única bala acertaria o pistoleiro e seu corpo seria arrastado pelas ruas empoeiradas da cidade e sua cabeça seria cortada e exibida como um troféu pela sua indelicadeza com uma mulher com o caráter de Christine. Muitos forasteiros de outras regiões tomaram conhecimento do fato, as notícias do duelo correram mundo afora e chegaram em caravanas para se hospedarem no único hotel da cidade que pertencia a Nanadia Gonzalez, que começou a faturar muitos dólares além do normal. Denver se tornou um centro de atenções de visitantes, muitos armaram tendas em locais próximos da entrada principal da cidade com o intuito de verem a cena, pois faltava espaço no hotel para acolher tanta gente.
Finalmente a Telegrafista Marth Mary recebeu a confirmação na agência dos Correios, via teléfrafo, do pistoleiro que não quis se identificar, disse apenas que o deixassem entrar em paz na cidade porque antes do duelo queria ter uma conversa com a xerife. Christine Gasp recebeu o papel das mãos de Marth Mary, calmamente leu e olhou para o horizonte com um ar sereno. Acariciou o coldre junto com seu Colt 45 e sorriu discretamente. A funcionária dos Correios deixava transparecer um ar de tristeza, Marth temia pela vida da amiga, mas foi abraçada pela xerife que disse para não se preocupar. O dia e a hora já estavam a disposição de Christine, caberia a ela aceitar ou não o duelo. Seria no dia seguinte às nove em ponto da manhã. Ele chegaria montado em um cavalo preto e vestindo uma capa de couro usando um chapéu preto e seu rosto estaria coberto com um lenço. O duelo estava aceito, a digna agente da lei não iria fracassar num momento desse.
Chegou o dia tão esperado, a manhã estava linda com um sol escaldante, próprio do Velho Oeste. A cidade estava em festa, as ruas movimentadas, o "Sallon" aberto desde cedo e todo mundo bebendo e dançando ao som das músicas típicas da região. Na hora combinada todos deveriam se afastar da rua principal e dar entrada para o visitante desafiador. Sua exigência seria satisfeita com o aval da xerife, assim ela ordenou e todos deveriam obedecer. Faltavam cinco minutos para as nove horas quando se avistou uma poeira no horizonte, um cavaleiro se aproximava, era evidente que se tratava do indivíduo que ousou duelar com a corajosa xerife. Christine Gasp já estava a postos, bem tranqüila, pronta para o duelo, mas esperaria para saber o que ele queria conversar antes de levar um tiro pela frente, de preferência no peito. Conforme determinação da xerife todos se afastaram e procuraram lugar seguro para presenciarem a cena, todos apostavam nela, nessa mulher determinada que daria a sua vida pela vida dos pacatos cidadãos de Denver. As janelas dos prédios estavam apinhadas de gente, no hotel de Nanadia Gonzalez não existia mais espaço nas janelas para observarem o duelo. As esquinas estavam repletas de caubóis, comerciantes e forasteiros interessados em verem uma cena inusitada. Toda aquela algazarra acabou e um silêncio sepulcral se instalou ali. O homem montado em seu cavalo preto adentrou a rua princilal do povoado, os olhares se concentraram nele mesmo sem seu rosto estar exposto. Parou em determinado trecho da empoeirada rua e olhou para todos os lados, calmamente desceu do animal e olhou para o final da extensa rua. Milhares de pares de olhos observam a cena que poderia mudar a história de Denver. O silêncio permaneceu por mais alguns minutos e só foi quebrado quando o forasteiro desconhecido, após andar alguns passos, gritou o nome da xerife. Christine Gasp teve um sobressalto, aquela voz, aquele sotaque, lhe veio na mente que não era estranha, mesmo assim permaneceu com sua mão direita próxima da arma, sacaria quando fosse necessário. O homem parecia não se intimidar, porém levantou as mãos, afastou o lenço que lhe cobria o rosto e em seguida jogou o chapéu para o alto. A xerife, surpresa, esboçou um sorriso e quando o homem se aproximou mais ela o reconheceu. Era Mo Rodriguez que acabava de chegar de Santa Fé para lhe pregar uma peça e rever a xerife para lhe abraçar e felicitar pelo seu trabalho maravilhoso em defesa dos habitantes de Denver. Os dois abriram os braços e se abraçaram como amigos, pois já se conheciam. Esse suposto duelo serviu para fazer a cidade faturar alto com uma suposta cena que poderia trazer tranqüilidade para todos, mas foi exatamente o contrário o que ocorreu e a algazarra reiniciou quando a xerife acenou para os populares presentes informando que estava tudo bem. Em tom de brincadeira disse que ia por Mo Rodriguez na cadeia para aprender a tratar bem uma dama. Nunca havia entrado tantos dólares nos estabelecimentos como nesses últimos dias, todo mundo faturou alto, Nanadia Gonzalez ganhou o suficiente para dar início a construção de um novo hotel, o "Saloon" seria ampliado e modernizado para acolher mais clientes, enfim os bares encheram seus cofres com cédulas verdinhas como nunca. Mo Rodriguez disse que ficaria em Denver por alguns dias e prometera voltar novamente em outra época.