O HOMEM QUE VEIO DE SANTA FÉ
Denver, capital do Colorado, ano de 1880. A cidade estava calma, o bar estava fechado por ordem de Christine Gasp, uma mulher de fibra e detentora de todo poder na cidade. Todos a respeitavam por ter se tornado a xerife em substituição ao antigo que resolveu se aposentar por conta da idade, pois já beirava os oitenta anos e a indicação dela por ele foi por mérito, no auge dos seus 65 anos, ainda vistosa e corajosa, pois já o ajudara em diversas ações para captura de bandidos e ladrões de cavalos. Nada temia e sempre teve muito êxito em suas investidas apesar de pouco tempo exercendo esse importante cargo numa cidade que aparentemente apresentava uma calma fora do normal, isso desde que Christine Gasp assumiu, há cerca de seis meses mais ou menos. Colocara tudo em ordem e os arruaceiros se mandaram com medo dela, a mulher era o cão chupando manga.
Fazia algum tempo, desde que assumiu o poder em Denver, que a xerife Christine Gasp não via o "Saloon" tão movimentado com a presença de clientes típicos da região, como comerciantes de pele, caubóis, soldados, garimpeiros, mineiros e jogadores. A bagunça era grande quando o antigo xerife detinha o poder e isso parecia incomodá-lo, porém ele não tinha coragem para acabar a bagunça e a idade estava pesando, motivo de requerer a aposentadoria e indicar a sua colaboradora destemida. Christine viu aquele movimentado comércio do "Saloon" crescer e o respeito que tinha dos freqüentadores, porém diante de fatos que fugiram do controle resolveu fechá-lo pelo menos por um dia e avaliar como se comportariam os clientes, ela tinha autonomia para isso. Não deu outra, a gritaria foi geral, mas tudo foi resolvido na base da conversa e no dia seguinte ela autorizaria a abertura do "Saloon" e todos se divertiriam obedecendo o regulamento.
Calhou de nesse começo de tarde chegar um forasteiro na cidade de Denver e apeando de seu cavalo na frente do "Saloon" estranhou vê-lo fechado. As ruas estavam praticamente desertas, via-se um ou outro caubói desfilando em seu cavalo e parando para olhar o estabelecimento fechado, lamentando a situação e aquilo era uma determinação da xerife Christine Gasp que não tolerava bagunça na sua cidade. O estranho então procurou informações ali por perto e se dirigiu para o único hotel do lugar onde se deparou com Nanadia Gonzalez, a dona em pessoa. Ele solicitou um quarto, no que foi atendido. Perguntando sobre o "Saloon" fechado, antes que Nanadia Gonzalez respondesse uma voz se ouviu por trás dele: "Fechado por conta de bagunça, mas amanhã será reaberto". O forasteiro virou-se rapidamente ao ouvir aquelas palavras femininas, instintivamente pondo a mão no coldre, estava pronto para pegar o revólver prateado que tanto admirava e ostentava quando necessário. A voz na sua retaguarda foi tão doce que não foi preciso se preocupar, abriu um largo sorriso para aquela dama e admirou-se com uma estrela em seu peito. Respeitosamente pegou a mão daquela senhora e beijou-a reconhecendo-a como a autoridade do lugar. Inquirido por ela infornou que chegara de Santa Fé, capital do Estado do Novo México e ouvia falar do famoso "Saloon" de Denver, onde fazia algum tempo que não visitava e até perguntou pelo velho xerife que conhecia de vista sem ter muita aproximação. Ficou surpreso com a desistência dele de prender malfeitores, principalmente ladrões de cavalos. Mo Rodriguez era o seu nome. Ao mesmo tempo encantou-se com a vistosa xerife e desejou-lhe sucesso nessa empreitada tão perigosa. Christine pousou a sua mão direita sobre o coldre acariciando a arma como a dizer "aqui quem manda agora sou eu". E Mo Rodriguez entendeu imediatamente o seu pensar. Após as apresentações ambos se despediram e o homem que veio de Santa Fé foi para seu quarto descansar, afinal a viagem fôra longa.
No dia seguinte o "Saloon" estava aberto logo cedo, os primeiros pinguços já abordavam o garçom para lhes servirem doses de whisky enquanto se divertiam em jogos de baralho. As moças dançarinas iniciavam seus trabalhos com o intuito de angariarem mais clientes e recompensarem o dia anterior perdido. Por volta das nove e pouca entra o forasteiro Mo Rodriguez em busca de algo para "molhar a goela". Os clientes da casa ficaram surpresos com aquela figura desconhecida, mas a platéia feminina suspirou. O homem adentrou o recinto e sentou em uma mesa próxima, uma dose de bebida lhe foi servida e logo uma "piriguete" se aproximou para tentar um papo legal. Mas logo reconheceu que não era o tipo de homem que se encantava facilmente com mulheres fáceis e logo "tirou o time". Nesse momento entra Christine Gasp, sua estrela brilhava no peito e, brincando, Mo Rodriguez disse que estava sendo encandeado pelo objeto símbolo do poder local. A xerife demorou-se pouco no "Saloon", apenas alertou o forasteiro de Santa Fé para tomar cuidado e não provocar situações embaraçosas ali ou na cidade. Logo após retirou-se para uma ronda pelas redondezas acompanhada de colaboradores fortemente armados.
Dois dias apenas Mo Rodriguez passou em Denver, aprovou as mudanças no lugar depois que a xerife assumiu o posto com muita determinação. Retornou para Santa Fé prometendo voltar o mais breve possível.