O ataque a Yanpa Oinazin
Makawí e eu havíamos crescido juntos em Wicota, no norte, mas não éramos aparentados. Na adolescência, ela teve uma visão com o Wakínyan e transformou-se numa heyoka, e eu, segui o negócio da família, que era conjurar chuva, e me tornei um wovoka. Quando voltamos a nos ver, cerca de dez anos depois (em Tinton), Makawí já era uma figura conhecida - e controvertida. Particularmente por sua tática de combater fogo com fogo, que apregoava ser capaz de acabar muito mais rapidamente com grandes incêndios na pradaria, em vez da tradicional invocação de temporais, que às vezes levavam dias para se concretizar.
- Acho que você está querendo acabar com o meu negócio - brinquei, quando nos reencontramos.
- Você tem que reconhecer que sou melhor como heyoka do que você como wovoka - jactanciou-se ela, no mesmo tom.
- Pois eu quero ver irrigar uma plantação com colunas de fogo - provoquei. - Para debelar um incêndio, o seu método pode ser mais rápido, mas não resolve o problema da seca.
Makawí teve que reconhecer que meu argumento era fundamentado.
Pouco depois, ela seguiu para o leste, até as praias de Yanpa Oinazin, e mais de um ano se passou antes que tivesse notícias dela; e estas eram preocupantes.
- Makawí soube que os mniakichita estavam tentando desembarcar em Mniwanka e resolveu testar seus poderes contra eles - me disse Chaska, um colega wovoka que estava voltando do litoral. - A história não acabou bem.
Havia uma ordem expressa do Grande Conselho para que os mniakichita nunca fossem combatidos diretamente, mas sempre através dos mniwátu; isso daria aos invasores a impressão de que as nossas terras eram um território de monstros, algo que havia funcionado perfeitamente bem durante séculos. Aos dentre eles que eventualmente chegassem à praia, deveriam ser mortos por meios convencionais, jamais através do uso de magia como fizera Makawí.
- O que ela alegou para agir desse jeito? - Questionei.
Chaska esboçou um sorriso.
- Você a conhece melhor do que eu; que é uma heyoka, e portanto pode agir contra a natureza...
Ergui os sobrolhos; aquilo soava exatamente como a Makawí que eu conhecera em criança.
- Mas ao menos ela conseguiu destruir o inimigo? - Questionei.
- Sim, Hotah - assentiu. - Mas os mniakichita estão ficando espertos, e de uns tempos para cá seus wáta são feitos de ferro, não mais de madeira; nossos mniwátu têm tido trabalho para combatê-los.
- Ouvi falar disso - admiti. - Mas se acabou com o inimigo, por que disse que a história não acabou bem?
- Desta vez, havia um wáta diferente no grupo que atacou Yanpa Oinazin; não só por ser de ferro, mas por navegar debaixo da água. Ele se aproveitou da confusão e fugiu.
Fiz uma careta.
- Isso é péssimo. Enquanto eram só wáta de madeira, não havia grande problema que um ou outro escapasse, até para reforçar a história de em nossas terras só há monstros; mas esse wáta que viaja debaixo d'água me parece um mau sinal.
- O Grande Conselho chegou à mesma conclusão que você - ponderou Chaska. - Makawí foi proibida de se aproximar do litoral ou de combater os mniakichita por conta própria. Eu imagino que ela terá de se recolher a Tinton, até que a proibição seja levantada.
- Se é que vai ser - repliquei. - E é bom que fiquem de olho nela; não creio que irá se submeter passivamente à prisão domiciliar.
O que, como era de se esperar, foi precisamente o que aconteceu.
- [Continua]
- [10-08-2022]