Sexta-Feira Muito Louca
Sexta a noite. Meus colegas de trabalho vão correndo para o bar. Outras pessoas gostam e contam as horas da semana para chegar o "sextou" e ir "baladear". Eu não. Eu tambem conto as horas, é claro, mas é para sair do escritório, pegar meu onibus cheio e ir para minha casa. Minha balada é em casa. Só eu mesmo e meu Deus. Uns comes, uns bebes e meu PC. O que vou fazer? Bem, não sei, o leque de opções é grande. Tem jogos, filmes, séries, livros, estudos e até um treininho light se eu quiser.
Deu tudo certo. Saí as 17:10. O elevador já estava no andar. Ô glória. As 17:45 cheguei no ponto e pasmem, meu onibus não demorou, mas estava cheio e eu fui em pé a viagem toda. Pelo menos, como era sexta-feira, as ruas estavam mais vazias e não enfrentamos um grande trânsito. Tudo ainda estava dando certo. Soltei no meu ponto e fui no mercado. Comprei duas garrafas de energético e dois pacotões de Doritos. Não enfrentei fila e fui para casa. O que poderia dar errado?
Cheguei em casa. Cumprimentei minha mãe. Tomei um banho e me preparei para o grande momento. Enquanto muitos estavam sentados no bar ou dançando em alguma balada, eu sentei na frente do meu PC e me preparei para a noitada. Esfreguei as mãos e liguei o meu amado filho. Sempre acreditei no equilíbrio do universo. Quando tudo vai muito bem ou da muito certo, pode ter certeza, que algo ruim vai acontecer e, ou, vice e versa. Foi o que aconteceu. Meu teclado apresentou um defeito. Olhei o relógio e ainda dava tempo de ir no shopping comprar um novo.
Me arrumei como um relâmpago, nada fora do meu comum: Bermuda jeans, tênis e camisa gola V branca. Peguei o dinheiro da passagem e parti rumo ao shopping. O onibus demorou, mas veio vazio. Soltei na porta do shopping e caminhei com passos rápidos para seu interior. Driblei as pessoas e como todo homem, eu acho, fui direto na loja de minha missão. Nem procurei preço. Entrei na primeira loja que vi, comprei o teclado e saí. Tudo voltou a dar certo.
Na saída é que a coisa complicou. Encontrei um amigo da rua em que eu morava. Ele estava esperando uns amigos na porta da praça de alimentação, que dava para a saída do shopping. Pereira me parou e puxou assunto. Eu entrei no piloto automático e fiquei só no "aham. é. cláro. pode crer." Os amigos dele chegaram. Todos arrumados e prontos para uma noitada. Gustavo, André e Rebecca. Eu só queria ir para casa. Pereira me perturbou para que eu fosse com eles. Eu relutei, inventei N desculpas, mas foi em vão, eles me venceram no cansaço.
Lá fui eu para o carro de um estranho. Entramos. Eu estava catatônico, sem acreditar que eu estava entrando naquele carro. Soltamos em um bar na Penha, zona norte do RJ. Snookeria Bar era o nome. Saímos do carro e entramos. O bar era cheio de mesas de sinuca e tocava rock and roll. Sentamos e pedimos um balde de cerveja. Eu estava lá, caladão, só ouvindo o assunto das ocorrências da faculdade deles. Não bebo e pedi uma água tônica, eu amo. Joguei uma partida contra Rebecca e conversamos um pouco. Ela não era feia, tinha no máximo 1,65, meio gordinha, cabelos ruivos, algumas tatoos e gostava de The Smith's.
Ficamos algumas horas naquele bar e eles resolveram sair. Olhei no relógio e já era meia-noite e cinco. Meus planos de sexta a noite foram para o buraco, assim como as bolas da mesa de sinuca. Mas pelo incrível que pareça eu gostei do passeio. Entramos no carro e o Gustavo, o motorista perguntou para onde eles iam agora. Eu pedi para me deixarem em casa ou perto dela. Pereira não deixou. Fiquei com raiva, mas aceitei permanecer com eles. Meu livrinho de desculpas estava meio apagado naquele dia.
Dessa vez paramos em outro bar, agora em Vista Alegre, também na zona norte. Entramos, sentamos, pedimos uns petiscos e outro balde de cerveja. Eu fiquei no energético. Dessa vez conversei mais com eles. Nossos mundos eram diferentes, eles eram playboys e eu passava longe disso. Falamos de mulheres, sexo, futebol, lutas e musculação. A Rebecca só foi mais ativa nos assuntos sexo, futebol e politica. Esse ultimo fiquei mais na minha, pois nitidamente a posição deles era divergente. Comemos, bebemos, rimos e conversamos. Por volta de 2 da manhã Rebecca partiu com André, todos sabíamos o porque. Eu, Pereira e Gustavo ficamos na mesa.
Gustavo era um cara mais atirado, confiante e cheio de si. Ele não se contentou em ficar no zero naquela noite. Pereira só queria beber e rir. Eu só queria ir pra minha casa. Na mesa do lado havia um trio de moças. Não eram grandes coisas, mas eram moças. Gustavo levantou, foi até lá e as convenceu de juntar as mesas. Manuela, Isabel e Janete. Gustavo colou na Manu, uma morena, de cabelos longos, bem magrinha, cheia de tatoos e piergings. Pereira, já meio alterado pelo álcool, investiu pesado em Janete, que era ruiva, branca e tinha um corpo legal. Eu fiquei na minha. Foi a Isabel que puxou assunto. Fizemos uma espécie de jogo da verdade, onde ela perguntava, eu respondia e ela retrucava. Isabel tinha um corpo atraente dividido em 1,70 de altura, cabelos negros, pele meio morena e 36 anos, mãe de 2 filhos e trabalhava em uma loteria. Conversamos sobre nossos hobbies, livros, filmes e academia.
Deu 3 horas da manhã. Gustavo já havia misturado saliva com Manu. Pereira havia desistido de Janete e bebeu mais. Eu e Isabel estávamos quase lá, ela estava esperando minha ação e eu estava cheio de receios. Gustavo levantou com Manu, colocou a parte dele sobre a mesa e se despediu da gente. Janete colocou o dinheiro na mesa e aproveitou a carona. Como estávamos perto de casa, eu e Pereira, por motivações diferentes, resolvemos ficar um pouco mais. Restaram na mesa Pereira, eu e Isabel.
Conversamos mais um pouco e por volta das 4 horas resolvemos ir embora. Pedi um carro pelo aplicativo, pois teria que levar o Pereira em casa, já que o cara estava mais torto que arco de criança. Ele pagou a nossa parte no cartão e saímos do bar. Senti a obrigação de levar Isabel em casa também. No inicio ela relutou e negou, mas por fim aceitou. Deixei o Pereira em casa e voltou para dentro do carro. Próxima parada era a casa de Isabel em Irajá, era. A gente se pegou dentro do carro. O motorista riu e parecia orgulhoso. Achei estranho, mas continuei embalado. A gente chegou. Eu a levei até a porta, a beijei e me despedi, mas ela não aceitou o meu adeus e me puxou para dentro da casa.
Saí de lá as 8 da manhã. Sem teclado, pois havia ficado no carro de Gustavo. Não vi um filme, não vi uma série, não joguei e não li. Tudo que eu planejei a semana inteira falhou. E se você acha que pelo menos eu cheguei a vias de fato com Isabel, desculpe informar que não aconteceu. Os filhos dela acordaram e puseram tudo a perder. Pelo menos peguei o zap dela, vai que rola algo no futuro, nada sério só uns lances.