FESTEJOS DO PADROEIRO SÃO SEBASTIÃO (Distrito de Laranjeiras).
A SAGA DA FAMÍLIA NOBRE
Episódio 21
Geminiano Correia Nobre meu avô paterno, viveu todo a sua vida em Laranjeiras, onde negociava , era funcionário dos Correios, chegando ao ponto de se tornar um líder nato na sua comunidade.
Era filho de João Vaqueiro e proprietário da Fazenda Talismã, com suas terras abrangendo todo o distrito de Laranjeiras, com entrância no Rio Banabuiú, com várias vazantes.
Muito católico, anualmente promovia, as festividades do padroeiro São Sebastião (20 de janeiro) e de nossa Senhora das Dores (dia 15 de setembro).
Para os festejos meu avô Geminiano, convidava os comerciantes de Quixadá, Banabuiu, fazendeiros e políticos da região com quem tinha bom relacionamento.
Era uma festa típica do interior nordestino, onde os convidados fazendeiros chegavam a cavalos, todos numa elegância, vestidos de paletó na maioria branco, e eram recebidos por meu avô Geminiano como autoridades.
Eram levados para sua casa, onde ali servia-se um café a moda nordestino com tapioca e cuscuz.
Depois meu avô Geminiano os acompanhava até o patamar da igreja, onde estava acontecendo os festejos e após a missa, todos ficavam nas barracas de comidas típicas e ao som do safoneiro Zé da Gaita, que animava a festa participavam dos festejos e do leilão.
Segundo meu pai Zuca Nobre, que era o Delegado nomeado do distrito na época, toda renda arrecadada com o leilão era entregues ao vigário para as obras sóciais da igreja.
Lembra Zuca Nobre que certa vez em uma dessas festas, houve uma disputa quem arrematava no leilão um touro zebu, que foi doado por seu avô João Vaqueiro.
Essa disputa entre dois fazendeiros um de Morada Nova-CE, e o outro de Quixadá-CE , quem pagava mais rompeu a madrugada e não saiu vencedor, devido um fato interessante haver acontecido. Um dos fazendeiros deu 200 cruzeiros para arrematar o touro, enquanto que o outro fazendeiro, deu o mesmo valor e o martelo, foi batido por engano, saindo com os dois vencedores.
Esse dia, ou seja 20 de janeiro de 1955, foi uma data que ficou na memória dos moradores do distrito, pelo fato acontecido ter tido repercussão em virtude desses dois fazendeiros serem rivais e não se falavam.
Meu avô Geminiano, já sabendo disso aproveitou a ocasião e fez com que os mesmos se falassem e se tornassem amigos.
Foi tanta cervejas e cachaça nesse dia que foi preciso ir atrás de outro sanfoneiro para substituir Zé da Gaita, que se embriagou.
Meu avô o Cel. Geminiano como era conhecido era muito querido pelos moradores do distrito e da vizinhança, destacou-se como lider do distrito de Laranjeiras, sendo, portanto, o indicado para disputar uma cadeira de vereador à Câmara Municipal de Quixadá e, em não aceitando, indicou para substituí-lo , seu filho Jeremias Sá Nobre .
Empolgado com essa indicação no último dia de festa do padroeiro, meu pai ZUCA NOBRE, resolveu lançar a candidatura do irmão Jeremias.
Depois dele tomar umas cervejas, reuniu alguns moradores na praça em frente a igreja, chamou o sanfoneiro para tocar e em poucos minutos aglomerou-se várias pessoas no local para ouviu-los.
Foi nesta ocasião, que Zuca Nobre , pegou um tamborete e ficou em pé em cima do mesmo, passando a fazer a apresentação do candidato, enquanto os ouvintes aplaudia:
Por várias vezes meu pai Zuca Nobre contou essa História e eu notava que ele gostava e fazia questão de relembrar a maneira como ele dizia:
"Eu começava a apresentação do candidato assim:
"Quisera eu neste momento possuir telectualidade suficiente para expressar muitas palavras que deveriam ser expressadas…"
E começava a falar do candidato e o porque de sua indicação a vereador...
Segundo relato de meu pai, nesse dia na praça falou por uma meia hora e certo momento percebeu um esvaziamento de pessoas, que saiam do local, contudo não parava de falar.
Realmete eu tinha exagerado na bebida, afirma ele e confesso que falei demais naquele dia.
Quando estava para terminar o discurso, só havia meia dúzia de pessoa no local, estando elas um pouco afastadas, porém só estava bem próximo de mim um menino, que de olhos arregalados admirado do meu jeito de falar.
Relata Zuca Nobre, que chamou o menino o qual ouvia atentamente seu discurso e como gratidão tirou do bolso uma cédula de cruzeiros e deu para o garoto, dizendo: "toma vai comprar bolo e aluá pra você".
O menino olhou para o meu pai assustado e disse:
"Eu não quero não, eu só estou aqui
esperando que o senhor saia de cima do meu banquinho para eu ir embora".
Depois o menino pegou o banquinho e foi embora, enquanto meu pai Zuca Nobre , foi para as barracas de comidas tipicas tomar mais uma cerveja.
Todas as vezes que meu pai Zuca Nobre, contava essa história, minha mãe Fransquinha ficava dando gargalhadas e certa vez eu perguntei porque, ela ironizou e respondeu ela: "pra ele deixar de ser besta".
MORAL DA HISTÓRIA
A riqueza cultural da região nordeste é visível para além de suas manifestações folclóricas e populares.
A festa do padroeiro também tem suas peculiaridades.
Uma delas é o tradicional leilão para arrecadar fundos para as obras sociais da igreja.
No ano de 2005, fui conhecer acompanhado de meus irmãos e primos a nossa cidade natal (Laranjeiras).
Foi no mês dos festejos do padroeiro São Sebastião e tive o prazer de conhecer de perto essa riqueza cultural.
Participei inclusive do leilão, arrematando não um boi zebu, mas um frago assado.
Foi um dia inesquecível, porque relembrei das histórias que meu saudoso pai contava.
CONTO de Edilberto Nobre baseado em fatos reais.
15.04.2022.