LEMBRANÇAS DE CRIANÇAS

CONTO A SAGA DA FAMÍLIA NOBRE

Episódio 22

LEMBRANÇAS DE CRIANÇAS.

(O Relógio que marcou não as horas, mas a história da minha infância)

A gente nunca esquece de uma passagem engraçada ou interessante, que marcou a nossa vida ou até mesmo de quando éramos crianças.

Aquele picolé derretido, aquele pipper de hortelã gostoso o algodão doce, sem fala no homem que vendia chegadinho, com aquele barulho do triângulo que endoidava a qualquer pai.

Quem não se lembra do colo da vovó de seus carinhos até dos seus cafuné.

Ah, que saudades daquela infância da juventude sem problemas, só alegrias de quando chegava da escola, tomava o banho e o café, para sair correndo e ir brincar na rua de bila

(bola de gude)e as meninas de casinhas de bonecas.

Velhos tempos belo dias como diz a música, que encanta nossa mente e floresce o nosso passado de encantos e magia.

Foi nesse ritmo que eu lembro de algumas passagens da minha infância ou mesmo quando crianças.

Tudo aconteceu na década de 60, morávamos no Município de Banabuiu, meu pai Zuca Nobre e meu dois irmãos mais velho Erivaldo e Evaristo, trabalhavam na construção do Açude do Banabuiu.

Eu com meus 05 aninhos pouco recordo dos acontecimentos a não ser aqueles fatos que me chavam atenção e que marca a infância de qualquer criança.

Uma delas é quando meu irmão Evaristo ia para casa do meu avô Geminiano em Laranjeiras de jumento buscar leite, feijão, batata doce pra gente comer.

Recordo de uma vez, que fui com ele, montado na cangalha do jumento e ele a pé puxando o animal, quando de repente passa no caminho um peba, estava ali garantido o nosso almoço.

Evaristo muito hábil, golpeou o animalzinho com uma faca, colocando na garupa do jumento.

Nesse dia chegamos na casa do meu avô Geminiano um pouco tarde e como sempre ele não estava, sendo eu e Evaristo recebido por nossa tia Emília.

Lembro-me como se fosse hoje, eu adentrei na casa e fiquei admirando um relógio de parede, que estava empendurado na sala e tocava: tam...tam...tam...e eu admirado com aquela cena, fiquei em pé, quase debaixo do relógio ouvindo o barulho.

Pouco lembro desse dia, nem a hora que o relógio tocava, só lembro quando já estava em casa, atrás das bilas(bola de gude) para brincar.

São as coisas de crianças, que a gente não consegue esquecer nem relembrar de tudo, face a nossa maturidade ou inocência.

Outro fato que marcou minha infância, foi no dia que meu avó Geminiano morreu, aliás não cheguei a conhecê-lo, porque as vezes que recordo ter ido a Laranjeiras, ele nunca estava em casa, segundo consta passava a maior parte do tempo na fazenda talismã, ali próximo.

Mas o dia de seu falecimento tenho guardado no arquivo da memória até hoje. Lembro-me que chegamos no carro pau de arara, contratado especialmente para ir buscar nossa família no Município de Banabuiu.

Eu todo pronto com a minha tradicional calça curta com suspensórios, camisa comprida branca de linho.

Meu pai Zuca Nobre nesse dia chorava tanto, e eu olhando pra ele admirado, sem saber o que havia acontecido, face a minha idade, como já disse era uma criança.

As poucas coisas que recordo desse dia, apesar de ter 06 aninhos, uma delas me chamou atenção e nunca esqueci dessa cena.

Quando chegamos em Laranjeiras, uma grande multidão na frente da casa de meu avô Geminiano.

Eu ao descer do carro, saio devagarinho no meio da multidão, passando por debaixo das pernas das pessoas, até chegar na porta de entrada da casa de vovô, quando vislumbrei um homem de branco, pegando meu avô, batendo e puxando ele de um lado para o outro, enquanto o corpo não correspondia, parecia que estava num profundo sono naquele sofá.

Depois de muito tempo eu já rapaz, ouvia meus pais contar, que aquele homem de branco era o médico de Quixadá Dr. ELIEZER, o qual era amigo de meu avô, tentando reanimá - lo.

Depois o que guardo na memória é a multidão acompanhando o caixão até o cemitério e não recordo de mais nada, nem mesmo o retorno para nossa casa em Banabuiu.

A casa de meu avô apesar dele ser proprietário de uma fazenda ali próximo de Laranjeiras, era simples como as demais. Recordo o que se destacava na casa era uma grande mesa de madeira na cozinha, um cofre grande no quarto dele e um relógio antigo de parede, já citado.

Como eu disse no início, são lembranças de crianças, dos meus 05 a 06 aninhos, que guardo na memória até os dias de hoje.

Após o falecimento de meu avô Geminiano nos primórdios anos de 1960, tudo mudou na família, ou seja os filhos resolveram sair do distrito, uns indo morar em Porto Velho- AM e outros em Fortaleza.

Minha avó Maria da Glória Nobre, anos depois foi morar em Quixadá-CE., e no ano de 1973, fui visitá - la, eu já com meus 18 anos, quando tive um novo encontro com o relógio de parende, o qual estava na sala da casa, aquele mesmo relógio que eu ficava olhando admirado pra ele tocar as horas.

Por ironia do destino no ano de 2018, fui visitar minha única tia viva , irmã de meu pai a nossa querida tia Alice, que mora no bairro Montese em Fortaleza, quando reencontrei o relógio de parede, o qual estava na sala de seu apartamento.

Eu emocionado com esse reencontro, que apesar de ser um objeto, teve um significado muito importante durante a minha infância.

E para surpresa minha, tia Alice olhou para mim, e disse:

"O relogio depois de muito tempo parou de funcionar e eu estava pensando a quem presentear essa relíquia e o felizardo é você".

Foi a mesma sensação de ganhar na loteria, pelo que esse Relógio representava um pouco de minha saudosa infância.

O relógio de parede que pertencia a meu avô Geminiano, depois ficou na casa em Quixadá-CE, da viúva (minha avô), que

depois do seu falecimento, foi trazido para Fortaleza para casa de minha tia Alice.

Atualmente essa relíquia (relógio) estar na parede da minha casa, o qual preservo com orgulho e carinho.

MORAL DA HISTÓRIA

Entender as características da própria existência e das várias fases da vida colabora para a compreensão do que é passado, presente e futuro.

" Recordar é dar vida ao passado ".

Eu gosto muito de dizer:

"Quem não tem gratidão não tem dignidade ".

Sou muito grato a Deus pelo que sou, pela família Nobre daqual pertenço, meus pais são nobres e primos legitimos e dessa união tive 15 irmãozinhos.

Dedico esse CONTO " in memorian" a meus pais, que ensinaram o caminho certo para que seus filhos se tornassem grandes mulheres e homens honrados.

A minha eterna Gratidão.

CONTO de Edilberto Nobre baseado em fatos reais.

19.04.2022