Mesolua - O Arcano Ancestral

*****FRAGMENTO DE CLMAA - A morte de Miranda****

Pela primeira vez em muito tempo, Miranda hesitou...

A profecia de Higel começou a fazer sentido para ela naquele exato momento. As palavras dele começaram a ecoar em sua mente, enquanto inconscientemente começara a andar mais devagar que seu grupo.

"Miranda... Serei direto com você!" sussurrou em seus ouvidos. "Na floresta da decisão, quando Prya fechar os olhos. Você dará sua vida por ela..."

- Isto é o meu destino? - Respondeu Miranda sem se abater.

- Sinto muito, não há nada o que eu possa fazer...

Oberon foi o primeiro a notar Miranda lentamente se afastando do grupo dos amigos, que nesse momento corriam depressa para escapar da Tríade. Quando ele se virou para chama-la, olhou em seu rosto e em um instante percebeu tudo.

- Miranda... Não ouse!

Prya e Willer olharam para trás, tentando entender o diálogo. Ante o silêncio de Miranda que mantinha uma expressão irredutível, Prya questionou:

- O que está acontecendo? Por que vocês estão parando?

- Ela está pretendendo lutar com aqueles monstros. - Revelou Oberon enquanto todos nesse momento já haviam parado bruscamente de fugir.

- Sem chance... Miranda, você está louca? Que é que deu em você? - Adicionou Willer. Prya pernanecera em um silêncio de tristeza, algo nela dizia que não conseguiria evitar a profecia que ela havia escutado escondida.

- Vocês não perceberam que é impossível fugir? A tríade vai nos alcançar em poucos segundos. Levem a Prya daqui e completem a missão.

Oberon e Willer se calaram, como se cedessem ante a vontade imparável de Miranda. Prya foi a única a se manifestsr, tentando um último recurso para mudar a mente de sua melhor amiga.

"Não vamos deixar você sozinha, se você não for conosco, então eu prefiro morrer ao seu lado do que te deixar só." Miranda gritou com todas suas forças. "Você não pode morrer aqui, não posso continuar sem você."

Uma lágrima surgiu de seus olhos, era sincero. Miranda não deu nenhuma resposta, apenas apareceu tão rápido quanto um vulto na frente de sua amiga e lhe desferiu um golpe no queixo. Embora tenha parecido fraco, aquele golpe foi suficiente para deixar Prya inconsciente por quatro dias diretos.

Enquanto sua consciência se desvanecia aos poucos e seu rosto era lentamente molhado por algumas lágrimas, Prya pôde ouvir as últimas palavras de Miranda à ela.

"Desculpas... Você é a única amiga que já tive."

Oberon se moveu rápido para segurar o corpo inconsciente de Prya, a colocou em suas costas e se preparou para partir. Quando olhou para trás, Miranda já havia tomado seu rumo pelo caminho inverso, direto para sua batalha final. Oberon e Willer não trocaram palavras, apenas seguiram a ordem de Miranda e correram três vezes mais rapidamente que antes, rumo a um esconderijo.

Enquanto rumava em direção a Tríade, Miranda pôde sentir a atmosfera se tornando cada vez mais expessa. Um sentimento de morte e medo começaram a tomar conta da floresta, que ficava ainda mais enegrecida na medida em que ela se aproximava.

Por um momento, notou algo estranho que a fez se questionar se tomara a decisão correta. A presença da Tríade houvera parado, como se estivessem esperando a chegada de Miranda.

"Desgraçados... já notaram tudo assim tão rápido? Será que planejam se separar e alcançar meu grupo por outra direção... Merda, como vou parar os três ao mesmo tempo? Eu devo conseguir pelo menos um minuto de vantagem para que os outros possam fugir. A menos que..."

Miranda notou algo após considerar essas coisas: Por que a tríade não os atacou em Briscya, e só os alcançaram agora? Será que não havia ninguém entre eles que pudessem sentir a presença do inimigo? Então como sabiam o caminho que eles estavam tomando naquela hora? E como conseguiram perceber que Miranda estava na direção deles?

- Não é possível... - Exclamou Miranda enquanto ainda corria entre a floresta, a poucos passos de alcançar a Tríade. Não se podia dar ao luxo de pensar nessas coisas justo agora, porém aquele pensamento fixo ainda a incomodara...

Era terrível a energia que emanava de cada um dos membros da Tríade, principalmente a de Meyhenluci Garglord. Ele tinha a aparência de um monstro, com escamas de lagarto pelo seu corpo, alguns chifres e um olhar de réptil. Ao lado, em posição de espera, estavam Magnólia Saturnina e Lainf Diegore. Ambos tinham aparências humanas, Magnolia tinha longos cabelos lisos e pretos, olhos de felino, e duas cicatrizes de serpente em cada uma das suas bochechas. Lainf era o mais baixo, com capas que cobriam maior parte de seu corpo e tinha uma expressão muito séria.

Ao verem Miranda, se surpreenderam por se tratar de apenas uma adolescente. Mas com sua experiência em batalhas, nenhum deles a subestimou. Antes se colocaram em guarda, prontos para qualquer movimento repentino de Miranda.

- Acho que está zombando de nós, pensa que pode vencer sozinha. - Comentou Magnolia, que segurava o escriba de desejos em sua mão direita assim que viu Miranda.

- Magnolia, Lainf. Não se intrometam nessa luta. Quero acabar com ela sozinho. - Interrompeu Meyhenluci, ao notar as verdadeiras intenções de Miranda.

- Por que você veio sozinha garota? - Disse Meyhenluci à Miranda, embora soubesse suas razões.

- Eu farei primeiro as perguntas. Por que vocês estão seguindo meu grupo? E como estão conseguindo nos rastrear?

Os três ficaram admirados com a obstinação de Miranda, Meyhenluci abriu um sorriso animado com sua oponente.

- Queremos algo que vocês tem. E a maneira como fazemos isso é muito simples, o meu olfato é muito poderoso, simples assim. Agora, se importa em responder as minhas perguntas? Por que veio sozinha? Qual é o seu plano?

- Por que vim sozinha? Não é óbvio? Tenho poderes suficiente para matar vocês três. E o meu plano é simples, acabar com vocês e voltar o mais breve possível para meu grupo. Por isso, vamos resolver logo essa batalha, estou com pressa para voltar. - Blefou Miranda, porém essa tática havia servido para ganhar mais alguns segundos de vantagem.

Porém, algo havia chamado sua atenção desde que colocara seus olhos na tríade. O motivo real para eles conseguirem seguir Miranda e os outros não era o olfato de Lucci, mas sim, aquele estranho artefato mágico na mão de Magnolia.

"Então é isso... Aquele artefato os permite saber nossa localização de alguma forma. Provavelmente podem saber a direção em que o totem está indo... Mas isso não explica eles terem parado quando eu comecei a me mover."

Seus pensamentos foram subitamente interrompidos por Meyhenluci, que começou a se transformar em um ser de menor estatura, até tomar a forma de um homem que pouco lembrava a criatura que ela vira a poucos segundos antes.

"Se me permite..." disse Lucci com sede de sangue "Vou tomar a iniciativa."

E pulou na direção de Miranda e a acertou com um cruzado forte no rosto. Ela voou três metros de distância até se chocar numa árvore.

- Se um golpe fraco na minha forma base já te deixou tão ferida, como você pensa em sequer nos vencer?

Miranda não conseguiu responder, sua mente estava nevoada pelo golpe repentino.

- Observei algo em você, pequena garota. Por que você não se transforma? Por acaso você sequer sabe quem é?

Quem ela era? Miranda não entendia o que ele estava falando. Nunca se questionou de onde vinha sua força tão acima do normal, muito menos questionou suas origens. Antes de se encontrar com Prya, vivia na floresta caçando e sobrevivendo de alimento que ela mesma preparava.

Mas havia algo nela, uma sensação de força maior dentro de si. Algo que transcendia o instinto selvagem, porém que de alguma forma precisava ser despertado.

- Você não é humana, minha cara. Uma humana não sobreviveria a um golpe desses. Você é como nós, você é uma meso-fera.

Miranda se levantara, cuspiu sangue e dois dentes quebrados no soco recebido. Sem dar atenção as falas de Lucci, pulou com ódio em direção a ele e o empurrou com o peso de seu corpo. Ele voou alguns centimetros sem perder a postura, e não notou quando Miranda desaparecera de sua vista.

Ela começou a fintar em múltiplas direções, aparecendo em pequenos fragmentos de vulto, tão ágil que Lucci não a viu aparecer por trás, com suas unhas afiadas em direção ao pescoço dele.

Sangue jorrou do pescoço dele, mas a ferida foi superficial. De alguma forma, em um instante de segundos, ele conseguiu reagir ao ataque dela.

"Desgraçado, ele é um monstro. Conseguiu pressionar o músculo do pescoço e impediu minhas unhas de perfura-lo. Tudo isso reagindo naturalmente? Ele é um demônio..."

Miranda havia pousado em uma pedra, e observava o que Lucci faria em seguida. Este por sua vez apenas colocou os dedos em cima da ferida, e no mesmo instante ela cicatrizou.

Perplexa, Miranda começou a pensar na profecia, já sabendo que de nenhuma forma sairia viva daquela luta...

Continua na parte 2 -------