LENTES VENENOSAS

Chovia naquela tarde de quarta-feira em Porto Alegre de outono. Eram dias de alvoroço na capital gaúcha. Não obstante, Porto Alegre estava para receber a Copa do Mundo de 2014. No centro da cidade, havia um protesto acontecendo contra a Copa do Mundo. Por ser um evento global no Brasil, tudo deveria dar certo, nada poderia nenhum erro sequer. Ainda se recuperando de um acidente no verão, o jornalista investigativo, Lauro Ramos, descansa em sua casa no bairro Bom Fim da capital gaúcha.

Naquela tarde chuvosa, Lauro é chamado pelo editor do jornal onde trabalha, o Diário de Notícias Nacionais Porto Alegrense, ou simplesmente, como o povão chama carinhosamente, o DN. Apesar de esporte ser um dos assuntos mais abordados pelo jornal, o jornalismo investigativo era o que mais chamava a atenção do público leitor do DN. Lauro era um daqueles jornalistas que não podia mostrar o rosto.

Naquela tarde, Lauro estava um pouco preguiçoso, recebeu a mensagem em seu celular, leu, mas, adormeceu. Por volta das 15:45, o telefone toca. Lauro pensa em ignorar, poderia ser alguém ligando para oferecer algum produto, mas, ele levanta e se dirige ao telefone, apanha-o e fica em silêncio.

— Preciso que venha aqui, imediatamente. — disse a voz familiar no telefone.

Lauro coloca o telefone no gancho, se dirige até o sofá, pega um cigarro e o acende. Naquela época, Lauro recentemente tinha completado 32 anos, cabelos pretos, sua estatura era de altura média para ser exato, ele media 1,75 de altura. Naquela ocasião, estava um pouquinho acima do seu peso habitual por causa do acidente que sofreu e por ter ficado em casa sem poder se exercitar por mais de dois meses. Mas, já estava quase 100% para voltar á ativa. O acidente que sofreu, foi uma lesão no joelho direito durante a investigação de um incêndio em uma festa que matou 20 pessoas. Para o editor do jornal, o pernambucano como era conhecido, boa gente, Pedro de Matos, Lauro disse que sabia que aquele incêndio não foi um acidente, mas, algo criminoso. E de fato foi algo criminoso, e, Lauro em sua investigação, descobriu que caso houvesse um incêndio, o proprietário do local poderia receber um valor de cinco vezes acima do valor estipulado pelo local pelo seguro.

O valor em questão, era R$ 1.000000,00 (1 milhão de reais). No clímax da investigação, na casa de Ernesto no bairro Chácara das Pedras, numa casa de dois pisos, Lauro entrou em confronto com o proprietário, o pesado Ernesto e seus três seguranças. Lauro abateu os seguranças, caindo na escada e se lesionando, mas, Ernesto quase fugiu, se não fosse a policia chegar na hora e conseguir prender o meliante. Após este caso, Lauro recebeu uma arma, através de Pedro e do Secretário de Segurança local, Romeno Maciel, que tinha muito apreço por seu trabalho.

Lauro toma um banho rápido, veste uma roupa casual, casaco de camurça, camisa social cinza, uma blusa de lã, de cor azul, sobre a camisa, calça jeans e um par de sapatos pretos. Lauro vai até a parada de ônibus em frente á Igreja Santa Teresinha e espera o T5. Passam uns sete minutos e chega o ônibus. Lauro apanha o ônibus. Está um pouco cheio, há alguns estudantes, pessoas voltando do trabalho. O cobrador, Pedro, amigo de longa data de Lauro diz:

— Bah, sumiu. Tava preso?

Lauro ri e diz:

— Pena que as celas da prisão não eram de ouro maciço.

Pedro e pergunta:

— E ai, e o Ernesto. Fiquei sabendo que tá em cana. Cara safado, heim?

— Apenas fiz meu trabalho. — responde Lauro.

Lauro senta em um dos bancos vazios do ônibus. Não deixa de notar uma jovem sentada no banco ao lado. Loira, cabelo curto, boca com batom vermelho, casaco cinza, uma bolsa marrom, lê um livro, e, com o canto do olho, olha para Lauro. Enfim chega na parada de Lauro descer. A jovem o fita quando sai do ônibus. O ônibus parte. Lauro chega no jornal. É um prédio pequeno na Rua Bastian, perto do shopping Praia de Belas. O jornal é independente, claro, não tem a grandiosidade d eum grande jornal da capital gaúcha como a Zero Hora ou o Correio do Povo, mas, tem seu nome. Tem muita credibilidade com a população, ainda que seus concorrentes tenham a própria credibilidade ocasionalmennte colocada em cheque por causa de algumas opiniões. Poderia ser um jornal de bairro, se não fossem os criminosos da cidade e da região lerem, em especial, a parte policial do jornal. A parte de esporte, é a parte que menos credibilidade, pois, o jornalista que é o responsável pela parte de esportes, simplesmente, “rouba” as informaçoes dos colegas de outros jornais da cidade. Fato que, poucos sabem.

São exatas 17h10, levemente anoitecendo, a chuva ja não mais importunava lá fora. Lauro se dirige até a secretária de Pedro, Simone, de 34 anos, que mesmo sendo uma mulher atraente, sempre perfumada, possui uma inteligencia e uma sagacidade e um senso de humor contagiante. Lauro adora ela e sempre á leva chocolate. Por acaso, naquele dia, não levou. Simone reprende Lauro e diz:

— Espero que tua demora tenha se dado contigo á procura de um delicioso chocolate para mim. Talvez, suiço, quem sabe, ou, de Gramado.

Lauro beija a bochecha de Simone e diz:

— Dar-te-ei algo mais doce do que chocolate.

Simone ri e diz:

— Hum, gostei do português. Vai precisar de algo doce para adoçar o chefe.

— Vou fazer de conta que... — enquanto Lauro fala, Pedro aparece atras dele.

— Fazer de conta é coisa de contos de fadas. — diz o editor chefe.

Lauro fica em silêncio. Pedro sinaliza para ele entrar em sua sala. Lauro entra e senta-se de frente para Pedro. Pedro encara Lauro com um olhar de censura e diz:

— Como tem passado?

Lauro responde com sarcasmo:

— Já estive bem melhor.

Pedro percebe um sarcasmo na voz de Lauro e diz:

— Que bom que está bem melhor. Os dias de vadiagem acabaram. O jornal não é auxilio para ficar encostado em casa fazendo sei lá o que.

Lauro ri e diz:

— Faça amor, não a guerra.

Pedro o censura com o olhar e diz:

— Eu dei um duro danado para chegar até aqui, sabia? Ás vezes, sou durão, mas, é o que trabalho exige. Tu és muito bom no que faz, Lauro,, mas, falta algo em ti.

— O que? — pergunta Lauro.

— Maturidade. — responde Pedro — Sabe bem disso. Foram formidaveis estes casos que tu investigou. És mais um detetive do que um jornalista e este trabalho que vem fazendo com a supervisão da ABIN, apenas faz com que sejas mais louvavel o que faz. Mas, te falta maturidade.

— Talvez, eu seja a pessoa errada para o serviço certo. Me machuquei fazendo o que achava certo. Sabe o que é se machucar e não poder exercer suas funções?

— Ora, me poupe, Lauro, pare de drama. Tu precisa entender, o que tu faz, tem que estar preparado para tudo.

Um breve silêncio e Lauro pergunta:

— No que posso ser útil desta vez? Tem algo que eu possa fazer?

Pedro ri e diz:

— Por isso mesmo, te chamei aqui. Tem algo que somente tu pode fazer.

Lauro olha em volta e fica em silêncio. Pedro retoma o assunto.

— Nos últimos dezessete dias, houve três casos de moças que foram atraidas por um cara que diz trabalhar para nós, mas, não tem nenhum vinculo conosco.

— Como sabe? — questiona Lauro.

— Ele é um fotógrafo que as atrai para sua casa, prometendo á elas dinheiro e fama e apenas ás abusa. — confidencia Pedro.

— Existe alguma... evidencia concreta? Alguma das moças que foram abusadas por ele prestou queixa na polícia ou apenas são rumores? Preciso de no minimo um depoimento. ¬— pergunta Lauro.

— Mas é claro que há. Das três moças que sofreram abuso do individuo, somente uma se sentiu confortavel de nos fornecer evidência.

— Onde á encontro?

— Ela virá aqui.

— Quando?

— A seis da tarde.

Lauro consulta o relógio.

— Faltam seis minutos.

— Bem, vá tomar um café, quando ela chegar eu te chamo.

Lauro vai até Simone e eles conversam. Simone diz sarcástica:

— Sabe, eu me apaixonei.

— É mesmo? ¬ — responde Lauro com um sorriso. — E quem é o sortudo?

— Um jornalista. — Simone responde sorridente.

Lauro muda o semblante e pergunta:

— Simone, o que andou acontecendo aqui enquanto eu estive fora?

Simone senta e olha para Lauro e diz:

— O chefe já te falou do cara que abusa das mulheres e promete fama e dinheiro?

— Sim, falou. Inclusive, estou á espera da moça que sofreu abuso dele. — responde Lauro.

Uma moça entra na recepção e se dirige á Simone e diz:

— Procuro pelo Lauro Ramos.

Lauro olha para a moça e fica em silêncio, sente que a conhece de algum lugar, mas, não se recorda. Em alguns instantes, lembra de onde á viu: a moça loira que ele viu no ônibus vindo para a redação do jornal. Lauro pergunta:

— Costuma pegar sempre o T5?

A moça diz:

— Só quando tenho compromissos aqui pelas redondezas. Por acaso, o senhor conhece Lauro?

Lauro diz de forma convencida:

— Eu sou Lauro.

A moça se sente mais confortável e diz:

— Eu falei com teu chefe para que pudessemos conversar.

— Certamente. — diz Lauro.

Lauro e a moça vão para a sala onde ocorrem as reuniões. Simone fica olhando para Lauro enquanto ele vai com a moça. Na sala, Lauro leva café para a moça e senta-se em frente á ela. Lauro entraga para a moça a xicara marrom de vidro. A moça bebe e diz:

— Olha quanto estou sendo patética.

— Por quê? – pergunta Lauro.

A moça sorri constrangida e diz:

— Eu tinha um sonho.

Lauro diz:

— Vamos começar desde o começo. Qual o teu nome?

— Aline. Aline Limeira.

— Muito bem, senhorita Aline, poderia me contar o que aconteceu?

Aline fica em silêncio e diz:

— Faz ideia de quanto é dificil para uma mulher relatar um abuso?

— Não, mas, acho que posso ajudar. — responde Lauro.

Aline sorri sentindo-se um pouco aliviada e continua o relato.

— Era uma segunda-feira. Eu estava voltando do trabalho naquela tarde. Ah, era semana santa. Que semana! (num tom irônico no qual, Lauro conhecia bem) Eu era caixa em um mercado. Andava ali na Andradas quando ele se aproximou. Era elegante, usava uma camisa polo verde com uns detalhes levemente azulados, seus cabelos loiros, alto, braços grossos, mas, magro, um sorriso levemente malicioso que eu não percebi na hora, apenas percebi que ele olhava todas as curvas do meu corpo, como se eu estivesse nua.

Lauro interrompe e diz:

— Certamente não estava nua.

Aline responde:

— Não, obviamente, mas, até quando o que uma mulher veste vai ser o suficiente para que um homem venha até ela e tente seduzi-la? Ou pior, assediar.

Lauro responde com um leve desdém na voz:

— Eu não estou aqui para opinar sobre moda, só quero fazer meu trabalho. Certamente, vestia um casaco, uma camiseta, uma calça, talvez, uma legging, um tênis, chuto que a cor era azul.

Aline fica surpresa e diz:

— Como sabe o que eu vestia no dia?

Lauro responde sorrindo:

— Meio óbvio. Olha o que tu me falou ali atrás, “até quando o que uma mulher veste vai ser o suficiente para que um homem venha até ela e tente seduzi-la”, certamente, deduzi que não vestia uma roupa que chamasse atenção, mas, para um tarado, basta ver as curvas de uma mulher, uma calça justa já ativa em um maniaco sexual, impulsos no qual ele julga ser o suficiente para que ataque sua presa, afinal, um maniaco sexual é um predador diabólico. Poderia continuar o seu relato?

Aline respira aliviada:

— Uau, estou conversando com a pessoa certa. Na delegacia, o escrivão teve a cara de pau de dizer “também, pede”.

— Lamento o que ele falou. ¬— diz Lauro.

Aline continua o relato:

— Deixa eu terminar o relato. Ele me olhava e perguntou se eu tinha interesse em ser modelo e ganhar bem. Eu na minha ingenuidade, aceitei, não pensei duas vezes. É dinheiro e facil. Então, ele me convidou para seu apartamento que fica no centro mesmo. Lá, ele tirou algumas fotografias minhas. Me ofereceu refrigerante. Eu aceitei e bebi alguns goles e logo me senti sonolenta. Ele pediu para que eu tirasse a blusa. Eu relutei, mas, aceitei. Então, ele me fotografou. Ele apalpou meus seios e logo pediu para que eu tirasse minha calça e eu recusei, mesmo estando levemente tonta, sabia onde aquilo ia chegar. Ele então beijou meu pescoço e falou que eu deveria ser profissional. Eu retrquei dizendo que sua atitude não era de um fotografo, mas, de um tarado. Ele me empurrou em cima do sófá e disse que eu tinha tudo para me dar bem na profissão, beleza, charme, olhar, corpo e que ele queria me provar. Eu levantei do sofá, vesti minha camisa e meu casaco, fui até a porta e ela estava trancada. Pedi que ele abrisse, ele me desferiu um tapa no rosto e foi a última coisa que eu me lembro. Depois disso, apenas me lembro de acordar com o rosto arranhado num banco da praça da Alfândega.

Lauro pergunta:

— Ele, por acaso... sabe...

— Sei... — Aline responde friamente — Só quero justiça.

— Irei investigar.

Aline anota em um papel em cima da mesa seu numero de telefone.

— Aqui está. Por favor, se souber de algo, por favor, por favor, me diga.

Lauro diz:

— Vá para casa, deixa que eu resolvo.

— Resolver? — pergunta incredula — Mas, nem a polícia sabe quem é.

— Eu irei investigar, em breve, saberei quem é o sujeito.

Aline levanta-se e abraça Lauro agradecida. Lauro acompanha Aline até onde Simone está mexendo nas unhas com uma lixa. Aline vai embora e Lauro diz para Simone:

— Já pensou em ser modelo?

Simone sorri para Lauro e diz:

— Para que? Eu sou modelo para ti?

Lauro respira ofegante e diz:

Minha cara, tu és minha musa inspiradora. Tive uma ideia para chegar neste maníaco.

— Qual? — pergunta Simone.

— Vou até o centro, já sei onde encontrar ele.

Simone diz para Lauro:

— Tome cuidado.

Lauro responde para Simone:

— Eu sempre tomo cuidado. Sabe o que eu quero? Dia 31 de dezembro tomar champanhe contigo na casa dos teus pais.

Simone ri e diz:

— Se for acompanhar meu pai, vai precisar beber algo mais forte.

Lauro ri e vai embora.

O centro de Porto Alegre na noite, ainda mais em época de eventos, é um local movimentado. Naquela noite, apesar de ser dia de semana, havia amigos reunidos nos bares na Andradas próximo á Casa de Cultura Mario Quintana. Lauro vai até um bar onde um amigo trabalha e pergunta:

— Sabe de algum fotográfo profissional para me indicar uma modelo para uma reportagem?

O amigo de Lauro, Rivaldo, 22 anos, moreno, gordo, cabelo cortado á máquina diz:

— Conheço um cara que vem aqui de vez em quando. Ele tem um porifólio bacana. Já fotografou algumas aspirantes á modelo.

Lauro diz:

— Nossa, hoje é meu dia de sorte!

Rivaldo diz:

— Já jogou na Mega Sena?

— Na verdade, a sorte nos rodeia, Rivaldo. — responde Lauro sorridente.

Naquela hora, um cara um pouco mais alto que Lauro entra no bar, passa por trás dele. Veste uma jaqueta jeans, cabelos loiros, perfume Lamborghini, pede uma dose de whiskey e senta-se proximo á uma jovem morena que está lendo jornal. Lauro apenas observa em silêncio e pede uma dose de martini vermelho. O cara se aproxima da jovem e pergunta:

— Já pensou em ser modelo?

A moça fica sem jeito e diz secamente:

— Não.

O cara toma um gole do whiskey e diz:

— Eu sou fotógrafo profissional, de uma marca famosa, já deve ter ouvido falar.

A moça demonstra um leve interesse e diz:

— Qual?

O cara diz sem pestanejar:

— Vogue.

A moça diz de maneira desinteressada:

— Ah, legal.

— Quer ir no meu apartamento fazer umas fotos? Eu mando para lá e de repente, tu fica famosa.

A moça percebe alguma malicia e recua. O cara fica sem jeito, levanta e sai para a rua. Rivaldo traz o martini de Lauro. Lauro bebe um gole e vai atrás do cara. O cara está na rua fumando um cigarro. Lauro saí do bar com celular no ouvido fingindo estar conversando e diz em alto som:

— Olha, eu preciso de um fotógrafo bom, competente e que tenha vista aguda. Incompetencia por incompetencia, tem a tua. É melhor tu encontrar um fotógrafo até amanhã senão está despedida.

Lauro finge desligar e coloca o celular no bolso do casado. Lauro fala para o cara na intenção de puxar assunto:

— Secretária incompetente. Eu peço um fotógrafo e ela me aparece com um cara que nem sabe o que é flash.

O cara ri. Lauro finge estar desoncertado e faz que vai entrar no bar. O cara diz:

— Eu sou fotógrafo.

Lauro diz para o cara:

— Desculpe? O que disse?

— Sou fotógrafo. — responde o cara.

Lauro se dirige até o cara e diz:

— Ah, então é tu que eu procuro. Como se chama?

— Mathaus.

— Mathaus ou Matheus? — pergunta Lauro.

Mathaus ri e diz:

— Meu pai é alemão. Fugiu da Alemanha Oriental em 77. Colocou o nome do meu avó em mim. Uma pequena homenagem ao velho e a terra natal dele.

Lauro diz;

— Tem algum material contigo?

— Não, só no meu apartamento. — responde Mathaus.

— Ah, que pena. Precisava de um fotógrafo para no máximo em dois dias. — diz Lauro.

— Estou livre. — diz Mathaus.

Lauro diz:

— Podemos nos reunir?

— Claro, toma meu cartão. — responde Mathaus.

Lauro pega o cartão de Mathaus e vai embora. Quando chega em casa, liga o computador e pesquisa sobre Mathaus. Encontra algumas matérias sobre o fotográfo:

- FOTOGRÁFO BRASILEIRO É PREMIADO NA AÚSTRIA;

- A NOVA CARA DA FOTOGRAFIA;

- A POESIA DA NUDEZ: CONHEÇA O TRABALHO DE MATHAUS VOLTZ;

Lauro liga para Aline e diz:

— Boa noite, sou eu, Ramos.

Aline , sentada em frente á TV assistindo novela, atende com a voz cansada o celular e diz:

— Ramos, quem?

— Lauro.

— Ah, sim.

— Boas noticias. Encontrei o cara. Ele se chama Mathaus, tem a fisionomia semelhante á qual tu me descreveu. Eu o flagrei assediando uma moça em um bar no centro.

— É ele! — diz Aline com uma convicção na voz.

— Calma, não sabemos ainda se é ele. Eu irei me reunir com ele, e, gostaria que estivesse junto comigo, ainda que longe.

— Ótimo! Irei! Quando?

— Amanhã á tarde, me encontre em frente á Catedral Metropolitana ás quinze horas.

— Estarei lá!

Aline desliga o telefone. Em seu apartamento, ela senta no sofá e desliga a TV. Lauro por sua vez, vai até a cozinha de seu apartamento, pega um copo de vidro, coloca quatro pedras de gelo, serve uma dose de vodca e bebe em um único gole. A noite passa. Logo amanhece, Lauro se acorda com os primeiros raios de sol em seu rosto, já que dormiu com a cortina aberta. Levanta-se, vao até a cozinha, frita um ovo, abre um pão conhecido carinhosamente em Porto Alegre e na região como cacetinho, aliás, pão francês, coloca o ovo frito dentro do pão, serve uma caneca de café, liga o notebook e come o pão com ovo frito e bebe seu café calmamente. Começa á digitar uma matéria sobre assédio sexual á jovens que tem como ambição, serem modelo. Logo, chega o meio dia, e, como de costume, almoça bife empanado com arroz. Mas, naquele dia, onde já se sentia de volta á ativa, Lauro logo perde a fome, pois a ansiedade é demais em resolver este caso e logo despeja no lixo. Ás 14 horas, Lauro vai até onde marcou com Aline para encontrarem Mathaus. Lauro usa um palató preto, calça jeans, camisa social, sapatênis e com os cabelos penteados.

Mathaus por sua vez, estava na companhia de um amigo de longa data que fora colocado na cadeia por causa de uma investigação de Lauro. O caso era sobre jogos clandestinos, que é ilegal. Lauro conseguiu acabar com a quadrilha e o que mais se prejudicou foi Germano, amigo de Mathaus. Germano tinha como objetivo desde que saiu da cadeia duas coisas: montar uma produtora de pornografia e encontrar quem o colocou atrás das grades. Germano fala:

— Tenho a impressão que fomos enganados.

Mathaus diz:

— Por que não quer conhecer o cara? Ele parece ser bacana.

— Quanto menos eu aparecer, melhor. Sou o cara do dinheiro, só isso.

— Beleza. — responde Mathaus sem animo.

Germano levanta e coloca a mão no ombro de Mathaus e diz:

— Fecha esse negócio. Só isso. Vou ficar na redondeza para te dar cobertura.

Germano se retira. Enquanto isso, Lauro espera Aline na praça da Matriz, em frente á Catedral Metropolitana. Após uns quinze minutos esperando Aline, ela enfim chega, vestindo um vestido azul, sapatilha, cabelo penteado. Lauro diz:

— Pretende ir para um festa?

Aline ri. Lauro diz:

— Respeitosamente, está muito bonita.

Aline diz:

— Obrigada, muito obrigada.

Logo, o sorriso de Aline se dissolve como um neon. Lauro percebe e diz:

— O que houve?

Aline diz:

— É que não costumo ser elogiada.

Lauro sente-se contragido e diz:

— Bem, uma vez ou outra pode, não?

Aline sinaliza positivo com a cabeça. Lauro diz:

— O plano é o seguinte: eu vou chegar nele, vou conversar com ele, vou me convidar para ir até seu apartamento. Quando estivermos nos retirando do local, eu te envio uma mensagem e tu apareec e eu direi que é minha secretária. Se for ele, ficará um clima chato. E aí, eu saberei que é ele.

— Ok, perfeito. — responde Aline.

Lauro e Aline se dirigem até o bar onde Lauro irá encontrar Mathaus. Aline fica sentada num banco na Praça da Alfandega á espreita. Germano está próximo de Mathaus também lhe enviando mensagens pelo Whatsapp. Enfim Lauro chega. Lauro cumprimenta Mathaus e diz:

— Cidade grande. Que caos!

Mathaus diz:

— É verdade. Já me acostumei.

Lauro diz:

— Com certeza.

— Menos mal que parou a chuva. Vai tomar algo? — pergunta Mathaus.

Lauro suspira e diz:

— Meu médico, sabe, cortou café. Problemas de pressão.

Mathaus ri e diz:

— Entendo. Certamente, deve ser estressante fazer o que faz.

Lauro diz:

— Nunca se sabe quem vai aparecer. É sempre um mistério.

Mathaus diz:

— Posso te confidenciar uma coisa?

Lauro se aproxima de Mathaus como se fosse escutar uma confissão e Mathaus diz:

— Meu sócio está com medo de eu trabalhar contigo.

— Por que? Está com medo de perder o sócio? — diz ironicamente, Lauro.

— Ele passou por problemas recentemente. — responde Mathaus.

— Bom, todos temos problemas. — responde jocosamente , Lauro.

Enquanto os dois conversam, Germano vê Lauro e o reconhece e manda uma mensagem para Mathaus no Whatsapp:

“Leva ele para teu apartamento, diz que quer mostrar material para ele. Eu conheço ele. Foi ele que me sabotou. Faz isso. Depois conversamos.”

Mathaus lê a mensagem de Germano e diz:

— Teria algum interesse em ir até meu apartamento conhecer meu material?

Lauro diz:

— Claro. Aliás, estou esperando minha secretária. Se importa se ela for junto?

Mathaus concorda. Lauro mexe no celular e manda uma mensagem para Aline:

“Venha! É agora!”

Aline se levanta e vai até eles. Enquanto Aline não chega, Lauro diz:

— Minha secretária é quem fecha os acordos para mim, por incrível que pareça. Ela que lida com a parte burocrática.

Aline chega. Mathaus fica em choque, pois, a reconhece. Aline olha para Mathaus, que desvia o olhar dela. A expressão de Aline diz tudo: seu rosto ficou pálido, ela sente um enorme enjoo ao ver seu abusador e fica com as mãos geladas. Lauro se mantém no personagem e diz:

— Bem, já que minha secretária chegou, se importa se formos? É Matheus, né?

— Mathaus. ¬— responde friamente o fotógrafo.

Mathaus levanta-se e vão até o apartamento dele na rua ao lado. Ó caminho até o local foi em silêncio. Lauro percebeu que havia algo de errado entre Mathaus e Aline. Quando entram no edifício, Mathaus manda uma mensagem para Germano dizendo que estão lá. Germano vai até seu carro e pega sua pistola de 9 milímetros, coloca na cintura, o casaco esconde bem a arma e se dirige até o apartamento do amigo. Mathaus diz friamente:

— Fiquem á vontade.

Lauro responde jocosamente:

— Hospitalidade é tudo.

Dentro do apartamento, Aline vê o sofá onde ocorreu o abuso e pede para sair. Lauro concorda e ela saí. Mathaus abre o computador e mostra para Lauro algumas fotos de seu catálogo. Lauro ás observa e diz:

— Tem um bom olho.

— Na verdade, tenho dois bons olhos. — responde Mathaus convencidamente.

Enquanto mostra para Lauro as fotos, sem querer inicia um video de Mathaus praticando abuso em Aline. Lauro diz:

— É cineasta também?

Mathaus fica constrangido e fecha o vídeo. Lauro percebe a reação de Mathaus e se despede. Mas, é nesta hora onde entra Germano no apartamento. Lauro reconhece Germano e diz:

— Há quanto tempo, meu velho?

Germano tira a arma da cintura e aponta para Lauro. Lauro fica calmo, apesar de ter uma arma apontada para ele.

— Faz ideia do que tu fez comigo? — diz Germano com um ódio no olhar.

Lauro diz com um sorriso malicioso:

— É, dizem que a primeira vez é a que dóis mais.

Germano fica furioso dá um tiro em direção á Lauro, mas, erra o tiro, fazendo um buraco na parede. Aline ouve o barulho do tiro e sobe imediatamente as escadas para o apartamento de Mathaus. Mathaus por sua vez, teme que Lauro seja quem colocou Germano atrás das grades. Um vizinho vai até a porta do apartamento de Matahus e pergunta:

— Está tudo bem aí?

Mathaus responde gaguejando:

— Si... si... sim. Está sim, por que não estaria?

O vizinho se retira. Quando entra em seu apartamento, liga para a polícia. Germano apontando a arma para Lauro diz:

— Vai pagar pelo que fez.

Lauro diz:

— Não! Vocês vão pagar pelo que estão fazendo. Dois tarados.

Mathaus diz:

— É ele o jornalista?

Lauro diz:

— Tá na minha carteira de trabalho. Quer ver?

Mathaus dá uma cotovelada em Lauro e corta seu supercilio. Germano engatilha a arma para dar o tiro fatal em Lauro, mas, na hora de atirar, Lauro puxa Mathaus e Germano atira em Mathaus ao invés dele, acertando no ombro de Mathaus. Lauro com o rosto sangrando pula em cima de Germano desarmando-o. Lauro dá uma série de socos na cara de Germano. Naquela hora, Aline entra no apartamento. Mathaus com a bala alojada em seu ombro, pega a arma e aponta para Aline enquanto Lauro soqueia a cara de Germano. Mathaus diz:

— Ei, cara, para com isso senão atiro nela.

Lauro para de socar a cara de Germano. Lauro se levanta e chuta a cara de Germano deixando-a mais ferida do que já está. Lauro e Aline ficam na mira de Mathaus. Mathaus diz:

— É, os dois estão na minha mira.

Lauro diz:

— Vai em frente.

Aline olha para Lauro, totalmente incrédula. Mathaus puxa o gatilho e nada saí. Lauro mostra o cartucho de balas que tirou quando desarmou Germano. Lauro diz:

— Parece que o tiro saiu pela culatra.

Nesse momento, a polícia que foi chamada pelo vizinho, chega. Quatro policiais entram no apartamento. Entre eles, o Tenente Simões, amigo de Lauro.

— Escapou de mais uma? — pergunta Simões.

Lauro diz:

— É, praticando um pouco esporte depois de um tempo.

Simões diz:

— É, tá precisando. Especialmente perder uns quilinhos. Qual foi desses dois?

Lauro diz:

— Assédio. Estupro.

Simões diz:

— Esses daí vão ver o sol nascer quadrado por bastante tempo. Mais uma vez, obrigado, Ramos.

Lauro diz:

— Servir e proteger, não é?

Simões diz apontando o dedo para Lauro:

— Fez bem o dever de casa.

Tenente Simões dá ordem de prisão para Germano e Mathaus e os policiais os levam presos. Quando eles saem, só ficam Lauro e Aline no apartamento. Aline preocupada com Lauro, pergunta á ele:

— Está bem?

— Com a adrenalina á mil. — responde ofegantemente, Lauro. — Estou um pouco fora de forma, mas, logo passa essa adrenalina.

— Conheço um modo bom de passar a adrenalina. — reponde Aline sorrindo.

Em forma de agradecimento por parte de Aline, um beijo foi trocado e o resto é história...

Mauricio Rocha
Enviado por Mauricio Rocha em 19/01/2022
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