O NOVO FUTURO

parte de capítulo O NOVO FUTURO do Livro viagem de Férias, editora Viseu.

Batidas fortes no vidro do carro acordaram Pietro. Flagrado com a mão fechada e os dedos dobrados, o indicador esticado e levemente curvado, o policial sorriu com simpatia, quando o vidro da janela baixou, revelando a sua intenção. As luzes fortes do giroflex do carro a sua frente, assustaram Pietro, que sacudiu em vão o braço de Rita. Aquele seu movimento brusco o fez perceber que a outra mão do policial também estava ocupada segurando o coldre.

- Buonasera. Va bene com te? Parle-vous français?

- Bonsoir Monsieur. Ça va avec toi? Quelques problemes?

- Sors de la voiture, s’il vous plait.

Fora do carro, Pietro foi convidado a seguir o policial para frente. Passaram pelo carro da polícia e Pietro percebeu outro colega que acompanhava tudo de perto, também armado. As luzes fortes do carro da polícia e a iluminação do túnel deixaram Pietro confuso. O policial, atento aos possíveis sinais de embriaguez, apontou para as câmaras de segurança.

- Nous ne savons pás ce qui s’est passe. Les câmeras n’ont rien filme. Une lumière três vive laissé tout blanc.

- Eu também não sei o que aconteceu. Pardon! Je ne sais non plus ce qui s’est passe. Je n’ai vu que la lumiere aussi.

- Es-tu Italien?

- Italo-brésilien.

- Avez-vous besoin d’aide? Où vas-tu?

- Genève Monsieur. Puis em Italie à travers la vallée d’Aoeste.

- Uh là là! Bon voyage.

- Merci. Bom travail

Pietro voltou para o carro, com as pernas tremendo. Rita acordou com a batida da porta, viu as luzes do carro da polícia.

- O que aconteceu?

- Tudo certo Rita. Não aconteceu nada.

A água começou a ferver dentro do recipiente que Rita usava para aquecer. O aquecedor usava uma resistência ligada ao acendedor de cigarros. Rita usava uma pequena garrafa térmica metálica italiana, que, com um aquecedor americano, esquentava a água, sem precisar parar o carro. Isso demorava uns cinco a dez minutos, com a ignição ligada.

- Você vai fazer café agora? Você sabe que eu não tomo café à noite.

- Não. Você já me disse que não quer café. Vou tomar um chimarrão. Assim eu me distraio e não durmo mais.

- Já estamos chegando. Se der tempo, eu também posso tomar umas cuias.

- Por que a polícia mandou você parar? Eu cochilei e não vi nada.

- Eles não me mandaram parar. Eles vieram ver se estávamos precisando de ajuda. Estávamos parados aqui.

Pietro estava com dificuldade para fazer uma manobra simples, dar partida no carro. Seu corpo estava com tanta adrenalina que as suas pernas perderam as forças. Estava difícil de controlar o pé, porque ele estava tremendo. Rita percebeu algo estranho.

- Tudo bem com você?

- Não está nada bem. Eu não acredito que você não se lembra de nada.

- Do que você está falando?

- Da nossa viagem no tempo.

- Lá vem você com as suas viagens no tempo. Vai ter que parar de assistir tanto Netflix. De tanto você falar, sonhei com essa besteira.

- Você não sonhou. Foi real.

Rita ficou calada. Seus pensamentos eram tão intensos que eram quase visíveis. Sua fisionomia mudou algumas vezes de cor e as suas expressões seguiam os pensamentos. Começou com expressão de dúvida e se transformou em uma expressão de pavor.

- Onde estamos?

- Na Suíça. Onde estávamos um mês atrás.

Rita começou a passar mal. Faltou-lhe o ar. Começou a suar. Seu coração palpitou.

- Não consigo respirar aqui dentro desse túnel. Tire-me daqui.

Em silêncio eles seguiram em frente. Em Genegra, perto das marinas e do Lago Léman, no Parc de La Grange, descansaram um pouco. Um guarda os avisou do fechamento do parque. O carro estava estacionado pero do Yacht Club de Geneve, na Avenida Quai de Cologny. Rita, um pouco mais calma, sugeriu:

- Vamos caminhar na praia?

Caminharam por horas na avenida, na grama e na praia. Em nenhum momento falaram em procurar hotel e dormir. A noite passou rapidamente. Aquela foi a noite mais curta de suas vidas.

Dentro do carro, estacionado às margens do Lago Léman, o céu começou a ficar alaranjado. As luzes da cidade e seus reflexos na água, na sua frente, começaram a ficar com menos brilho. Nas margens opostas, que fazia parte da França, as luzes também estavam se apagando. Um novo dia estava começando.

Todos os seus documentos estavam no carro. Aquelas férias forçadas no Brasil aconteceram sem que o tempo passasse por aqui. Eles estavam novamente em setembro de 2021.

Valdecir Bortolossi
Enviado por Valdecir Bortolossi em 08/01/2022
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