Fyfde
Era manhã e o comissário Jakkele Bokma acabara de assinar uma pilha de documentos que ia empilhando na caixa de saída de correspondência, sobre sua mesa. O telefone tocou, pouco depois.
- Derre Huisman, senhor, - anunciou a secretária - ligando de Berchtop.
- Pode passar - autorizou.
- Comissário? - A voz do agente soava tão distante quanto ele efetivamente estava.
- Sim, Huisman? Conseguiu arranjar a casa que a senhora Wassenaar solicitou?
- Estou ligando para confirmar, não foi complicado; há muitas casas vazias em Reeddak, como seria de esperar. Jant vai ficar bem instalada, até decidir o que será feito dela.
- Essa é uma boa questão - ponderou Bokma. - E quanto à vigilância do local?
- 24 horas por dia, mas ela pode circular livremente pela vila. Todavia...
O agente fez uma breve pausa, como que para organizar os pensamentos.
- Pelo que a senhora Wassenaar comentou comigo, Jant não ficou surpresa ou aborrecida com o fato de que terá que sair do castelo. Na verdade, parecia quase... aliviada.
Bokma ergueu os sobrolhos.
- Com o quê?
- A senhora Wassenaar questionou isso, e a resposta foi que, já que não podia mesmo trabalhar na biblioteca, ela iria se dedicar a cuidar do bebê.
Bokma recostou-se na cadeira e entrelaçou os dedos sobre o ventre, auscultador preso entre a orelha e o ombro.
- Soa quase resignado para mim - opinou.
- O que nos leva às suspeitas da senhora Wassenaar, sobre o pai da criança - prosseguiu Derre. - Se for alguém da vila, Jant vai estar exatamente onde gostaria.
- Se isso procede, poderá descobrir quem ele é rapidamente - avaliou Bokma. - Embora eu imagine que esteja trabalhando com a hipótese de que a concepção tenha se dado nas dependências de Hegestap...
- E de cuja responsabilidade me eximo antecipadamente, comissário - riu o agente. - Mas, falando sério: é muito mais provável que Jant tenha engravidado no castelo do que na vila, onde cada passo que dá é supervisionado.
Bokma inclinou-se mais na cadeira, fazendo com que a mesma rangesse.
- Se você se exclui do rol dos suspeitos, quem mais poderíamos culpar dentro de Hegestap?
- É uma pergunta difícil de responder, já que não podemos incluir os criados que residem no castelo.
- Sim - Bokma aprumou o corpo e pegou o auscultador. - E isso está começando a me preocupar. Se não foi no castelo, ou na vila, onde foi que o... trabalho... foi feito?
A mesma resposta ocorreu a ambos, mas resolveram não verbalizá-la.
- Bem... eu vou continuar a investigar, comissário - prometeu Derre. - Tenho uma teoria para testar, junto com o pessoal de Berchtop, mas vai depender de um novo tipo de leitura de auras, ainda em desenvolvimento.
- Pensei que praticamente todos em Reeddak fossem leitores de auras, em maior ou menor grau - ponderou Bokma.
- Verdade. Mas para o que pretendo fazer, a ideia não é usar leitores humanos, e sim um novo equipamento, especialmente desenvolvido para isso; por isso talvez demore um pouco mais de tempo do que gostaríamos, mas é melhor ter certeza.
- Concordo - assentiu Bokma. - De qualquer forma, Jant não irá a lugar nenhum enquanto a investigação prossegue.
- Pode ficar tranquilo quanto a isso - redarguiu Derre. - Ela não tem sequer a biblioteca como opção de fuga, já que seu acesso foi revogado.
- Mantenha-me informado sobre seu progresso - comandou Bokma.
- Naturalmente, comissário - replicou Derre, antes de desligar.
- [Continua]
- [20-12-2021]