Twadde

Aproximava-se o fim do expediente no primeiro dia útil da semana, e o comissário Jakkele Bokma abriu a agenda diante dele, para repassar seus compromissos do dia seguinte. Fora do horário de expediente, no rodapé da página, havia escrito em tinta vermelha: "Akke - Presintaasjedei". Encarou a anotação, pensativo. Akke, o filho mais velho, fizera 13 anos há duas semanas, e, como mandava a tradição, o rapaz deveria ingressar formalmente na sociedade durante uma cerimônia pública, o Dia da Apresentação. Para Bokma, parecia que ainda ontem Akke era só um garoto de calças curtas, correndo atrás de uma bola no parque. E no entanto...

Bokma fechou a agenda, no momento em que o telefone sobre sua mesa tocou estridentemente.

- Sim, Etke?

- Comissário, Hegestap na linha - disse uma voz feminina do outro lado.

Bokma franziu a testa; ligações extemporâneas do castelo não eram nada comuns, e quase sempre, indicativo de problemas.

- Quem está ligando? - Inquiriu.

- Frauke Wassenaar, comissário.

Bokma mordeu o lábio inferior; tivera a esperança de que fosse seu agente de ligação, Derre Huisman, mas se a própria bibliotecária estava ligando, a coisa era séria.

- Transfira - ordenou.

- Comissário - a voz serena de Frauke Wassenaar soou em seu ouvido, como se houvesse ligado para discutir algum assunto meramente burocrático.

- Senhora - redarguiu. - Aconteceu alguma coisa?

- Aconteceu - admitiu a bibliotecária. - Creio que perdemos nossa aprendiz.

A mão de Bokma que segurava o fone, crispou-se.

- Como assim... perdemos? Ela não está nas dependências do castelo?

- Ainda está aqui, - prosseguiu Wassenaar - mas a biblioteca impediu a entrada dela. Inicialmente, imaginei que se tratava de algum mau funcionamento temporário, mas nem eu, nem Marte De Vos fomos recusadas. Portanto, só me resta uma conclusão...

- E o que a senhora espera que eu faça? - Bokma mordeu o canto da boca. - A biblioteca é assunto seu, afinal de contas.

- De fato - assentiu friamente Frauke Wassenaar. - Mas esta pode ser uma situação de segurança nacional, motivo pelo qual estou lhe inteirando oficialmente dos fatos.

- Desculpe se pareço um tanto perdido na história, - apaziguou-a Bokma - mas não me recordo de termos tido esse tipo de ocorrência antes, embora compreenda as suas implicações. Precisamos da Trindade completa, e se uma das integrantes está sendo rejeitada...

- O nosso trabalho fica comprometido - rematou a bibliotecária. - Mas, é verdade, nem mesmo eu, que estou na função a mais tempo do que o senhor está na sua, tive que lidar com uma situação dessas. Em outras circunstâncias, eu simplesmente lhe diria para conseguir uma substituta o mais rápido possível, e despacharmos a aprendiz atual de volta para casa, mas creio que preciso de mais subsídios antes de poder tomar essa decisão.

- A senhora precisa do meu pessoal - inferiu Bokma, com uma pitada de malícia.

- O pessoal do Berchtop, sim - admitiu Frauke Wassenaar. - Eles podem corroborar as minhas suspeitas mais rápido do que eu.

- Estão à sua disposição; - redarguiu Bokma em tom confiante - como sempre, aliás.

- Muito lhe agradeço. Vou pedir ao Derre que prepare o carro, não pretendo esperar até amanhã para agir.

- É o mais acertado - aprovou Bokma.

- E, enquanto isso, sugiro que comece a revisar as fichas das eventuais substitutas. Temos que nos preparar para a possibilidade de fazer a troca.

- Vou ligar para Eida Westra - prometeu Bokma. - Ela é bastante competente nisso.

- Espero que tenhamos sorte - suspirou Frauke Wassenaar. - Jant foi nossa melhor candidata em muitos anos, e se a perdermos, muita coisa terá que ser refeita do zero.

- [Continua]

- [17-12-2021]