CHAPÉU DELATOR

CHAPÉU DELATOR

O fato me foi contado pelo dono do chapéu. Os nomes são fictícios.

Juca e Quinho eram amigos de longa data. Moravam próximos.

O primeiro, proprietário de um posto de gasolina bastante movimentado, com restaurante e outros comércios em anexo. Abastado, cheio da grana, de origem simples, sem estudo. Venceu na vida trabalhando muito. Começou com uma pequena banca de frutas na beira da estrada, cresceu e se tornou empresário de sucesso.

Quinho, pobre, trabalhador, também sem ter freqüentado muito os bancos escolares, boa gente, calmo e sossegado. Casado com Guilhermina, tinha seis filhos, 4 moças e 2 rapazes.

Juca e Quinho mantinham longa amizade. Juca era padrinho da moça mais velha. Quinho, quando tinha alguma dificuldade, sempre contava com a generosidade do compadre Juca.

Guilhermina, morena bonita, mesmo já beirando os cinqüenta anos.

A convivência entre as famílias criou vínculos profundos e até um pouco de intimidade, mas tudo dentro do maior respeito. Era assim que Quinho via a amizade com Juca.

O que Quinho não sabia é que Juca e Guilhermina tinham certa afinidade. Talvez esperassem por um momento oportuno para um abraço forte ou, quiçá, um beijo caloroso.

E, como não poderia deixar de ser, a oportunidade surgiu.

Quinho teve que se deslocar até a cidade para tratar de um assunto qualquer. Ficaria umas três horas ausente.

Juca ficou sabendo e a maldita tentação apossou-se de seus pensamentos. Não queria estragar uma amizade tão boa. Não colocaria em risco aquela antiga relação por nada do mundo, mas ao mesmo tempo não se continha e imaginava a comadre Guilhermina em situação de intimidade. A libido falou mais alto que o juízo.

Tentando convencer a si mesmo concluiu que não havia perigo. O compadre ia demorar tempo suficiente para que ele fizesse uma visitinha para a comadre.

E assim pensando, foi à casa do compadre ausente, com a desculpa de tomar um café. Não ficou mais de uma hora. Saiu rápido e com cuidado para que ninguém percebesse sua presença.

Já em casa, sentou-se no sofá, ligou o rádio recordando-se da aventura.

Passou a mão pela cabeça e ...

Cadê o meu chapéu? Meu Deus! Esqueci na casa do compadre.

Desesperado, olhou para o relógio. Nada mais podia ser feito.

Maldito chapéu, traidor, fofoqueiro, vai estragar uma amizade de anos.

CLEOMAR GASPAR
Enviado por CLEOMAR GASPAR em 08/12/2021
Código do texto: T7402768
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