Seus frágeis braços me apertaram

PRIMEIRO DIA

Era umas duas horas da tarde, quando Dara olha para seu relógio de pulso, tentando disfarçar o tédio de ficar na salinha de espera para sua consulta médica. O fato de estar sozinha lá, de ter se atrasado pra consulta e a médica igualmente estar atrasado só se somava a sua ansiedade, já bem alta. Algum objeto cai de sua bolsa enquanto ela sem paciência, mexia freneticamente nela. Ao abaixar para caçar embaixo do sofá o tal objeto, ela tem a sensação de ter lampejado um clarão ou algo parecido. Olha pela janela, mas para tentar confirmar mesmo o que tinha acabado de ter sentido, do que mesmo se fosse uma suspeita de chuva, já que o tempo estava firme, com um sol brilhante e uma temperatura boa.

Notava que repentinamente, a rua ficava silenciosa, apesar de não ser um lugar de tráfego intenso. Seu pressentimento era que havia acontecido algo. Não sabia se deveria confiar, já que havia ficado na mão algumas vezes quando havia confiado nele. Resolvia ficar sentada, um pouco desconfiada, se esquecendo do objeto que havia caído há pouco. O silêncio do ambiente, e do que conseguia perceber que vinha da rua era um mini inferno astral naquele momento.

Passado uns vinte minutos, no auge da angustia, ela bate na porta do consultório médico, questionando se a consulta iria demorar muito, criando um ficcional compromisso, como desculpa, para ter ido lá. Sem resposta, ela empurra a porta e nota que a pequena sala está vazia. Na salinha de espera, ainda existiam mais duas portas, teoricamente de mais duas salas. Sem hesitar, ela bate na primeira e entra, vendo que igualmente está vazia. Faz o mesmo com a próxima, tendo o mesmo resultado.

Lhe bate um desespero, do qual ela recorre ao seu smartphone, já pensando na sequência de pessoas que deveria ligar. A mãe foi a primeira, sem sucesso. Tentou na sequência, sua irmã, sua tia mais próxima, seu vizinho, depois duas amigas, e por último o pai, pelo fato de terem se desentendido fazia pouco tempo, mas valendo uma trégua naquele momento. Pensou até em ligar para mais pessoas, como outros amigos e um ex-namorado, mas aparentemente por algum motivo ninguém atendia. Ficava ainda mais angustiada, devido ao fato que esperava voltar melhor da consulta, e até ali ia tudo de mal a pior.

Ela passava por um quadro de depressão bem preocupante, impulsionado por um relacionamento, que apesar de curto havia mexido bastante com a sua autoestima, na mesma época que havia sido mandada embora de um bom emprego e da perda de um familiar próximo. Esses três acontecimentos foram em menos de um mês, do qual ela lutava para tentar superar, perdendo muito peso e com efeitos colaterais terríveis, fazendo uso de medicação para se manter na ativa.

Sem outro recurso a optar, ela ia pra rua tentar encontrar alguma alma. Estava tudo incrivelmente parado. Poucos veículos na rua, e esses inclusive vazios. Atravessa a rua e entra num pequeno comércio, chamando por quem quer que fosse, dado que no comércio em geral sempre tem alguém consumindo. Não era o caso, já que não via qualquer movimento onde quer que sua visão alcançasse. Sua mente se esquece por alguns segundos do caos que estava vivendo, ao pensar na possibilidade de poder levar o que quisesse, já que não avistava seguranças, vendedores ou clientes. Pega uma garrafa de bebida cara, para ver se o alarme disparava e se, consequentemente, alguém aparecia. Grita o mais alto que pode, desde pedidos de socorro até palavrões, jogando em seguida a garrafa num balcão de vidro, quebrando-o e disparando o tal aguardado alarme.

Vai para o estacionamento e se senta num banquinho na entrada do mercado, que dava uma boa visão para o estacionamento e para o mercado. Nos vinte minutos que ficou por lá, não aparecia ninguém, apesar do som ensurdecedor do alarme. O trajeto não era muito longo para chegar em sua casa, e apesar de se sentir um pouco fraca, optava por fazer o caminho a pé mesmo, para ver se encontraria alguém.

Num bom ritmo ela faria o trajeto em meia hora, mas havia demorado o dobro, dado o desanimo, a fraqueza, a busca por presenças humanas e um monte de sensações que estava sentindo. Sua cabeça estava a mil por hora. Como seria natural de imaginar naquela nova dinâmica, ao chegar em casa não havia ninguém. Morava com sua mãe e a irmã mais nova, do segundo casamento da mãe. O ambiente lhe fazia um maior estar, e mais calma, conseguia refletir um pouco melhor. Ficava encostada na janela da sala, com as mãos na cintura e encarando um pedacinho da rua, na espera de algum movimento de pessoas. Sentia o osso da sua cintura, e se dava conta como havia perdido peso.

Havia conseguido clarear um pouco as ideias, e no fim das contas achava que o melhor a fazer fosse deitar e tentar dormir, dado que tudo a havia deixado exausta e com poucas forças. Quem sabe dormindo, aquele pesadelo poderia acabar e tudo voltaria a normalidade.

SEGUNDO DIA

Acordava várias horas depois, sem saber ao certo quantas haviam sido. Era bem cedo, dado que os primeiros raios solares estavam ainda desabrochando. Ainda estava com a mesma roupa do dia anterior: uma saia longa, larga para seu corpo magro, de tom florido verde escuro, o discreto relógio de pulso, duas pulseiras que havia ganhado de presente e as botas um pouco surradas. Na casa predominava o mesmo silêncio do dia anterior e nenhum sinal de sua mãe ou irmã. Se sentia um pouco melhor que no dia anterior, mas o desespero voltava conforme o mesmo silêncio e solidão iam se confirmando a sua frente.

Na cozinha, se alimentava com biscoitos, frutas e um copo de leite, enquanto observa se conseguia captar pela janela algum movimento na rua. Estava tão ansiosa que nem terminava seu lanche, partindo pra rua, na procura de alguém, quem quer que fosse. Igual ao dia anterior, tanto na casa, como na rua, e onde mais pôde explorar, predominava a solidão e o silêncio. Começava a trabalhar com a difícil hipótese de ser achada, ao invés de ficar procurando pelos outros. As outras formas de comunicação, como rádio, televisão e telefone foram aos poucos perdendo sinal, dado que quem devia administrar esses meios já estava ausente. Seu sexto sentido e sua lógica haviam chegado num consenso que, possivelmente não era só no seu bairro ou em sua cidade que as pessoas haviam sumido.

TERCEIRO DIA

Ela havia passado boa parte da noite em claro, rolando na cama de um lado para o outro. Sua cabeça estava a mil por hora, com pensamentos que bombardeavam seu cérebro incessantemente. Curiosamente, mesmo em meio a esse caos, sua depressão entre seus problemas era um dos menores. Tendo que se virar sozinha, ela interpretava melhor e não se entregava frente as muitas dificuldades, que não haviam sido poucas em sua vida.

Agora, passado o primeiro choque, ela começava a pensar em coisas que antes não havia se dado conta. Em três dias não havia visto ninguém, e começava a planejar um prazo para tentar buscar outras formas de achar outras pessoas. Não muito longe, algumas dezenas de quilômetros, tinha uma cidade maior, que eventualmente poderia ter mais chance de encontrar alguém. Era fácil achar comida, tanto em sua casa, como nos comércios locais, desprovidos de qualquer tipo de vigilância. Achava que mais dois dias era o suficiente, para ter alguma atitude em outro lugar.

Passava em frente a uma loja de perfumes, notando um espelho que lembrava nas extremidades as folhas de uma rosa. Não tendo nada melhor para fazer em seu julgamento, entra na loja, curiosa no espelho. Se encara durante algum tempo. Através daquele vidro observa seu rosto, já muito marcado pela vida conturbada que tinha. Seus olhos azuis-claros eram bastante marcantes, sendo uma referência de sua beleza, mas que contrastavam com as olheiras e com um desanimo muito perceptível. Leva as palmas de suas mãos para os dois lados de seu rosto, depois tapando seus olhos, enquanto o choro vinha instintivamente, se perguntando por que logo ela foi a escolhida para viver aquela situação.

QUARTO DIA

Havia acordado um pouco mais animada, apesar de tudo continuar na mesma. Se dava ao luxo inclusive, de ir acordar mais tarde. Naquele dia a temperatura havia aumentado, que combinava com a onda de humor dela, que melhorava um pouco. Sua ideia original era que fosse para outra cidade no próximo dia, mas estava pensando em mudar de ideia. O trajeto em si não era longe, mas começaram a surgir outros pensamentos, que até então ela não havia se tocado. Um deles era que até onde sabia, estava sozinha e indefesa. Tenta fazer planos, mas não era muito boa nisso. Resolve se alimentar bem e partir logo, antes que pensasse muito e abandonasse a ideia.

Pega o automóvel do vizinho, que era havia ouvido falar que era fácil de dirigir, dado que ela chegou a conduzir carro por um curto período de tempo, antes das várias crises sacudirem sua vida. Voltar a pilotar era algo que ela não ligava muito, achando que iria sofrer um pouco nessa retomada, mas que no fim das contas, ela até que se adaptava rapidamente. No meio do trajeto, pouco mais de meia hora, ela tem uma crise de ansiedade, sendo obrigada a parar o carro no meio da estrada. Tinha dificuldade em respirar, enquanto o choro saia de algum lugar. Leva as mãos ao seu rosto, enquanto se curva no banco do carro.

Permanece quase que imóvel por alguns minutos. Ficava em dúvida se deveria continuar ou voltar, já que naquele momento nada fazia sentido para ela. Queria muito alguém para poder lhe falar o que deveria fazer, dar uma dica, ou mesmo uma ordem. Estava numa fase complexa da vida, em que não via mais graça em coisas comuns do cotidiano das pessoas. Ela própria achava que esse deveria ser seus pensamentos quando estivesse numa idade mais avançada, mas não naquele momento, quando estava com pouco menos de três décadas de vida. Se sentia frágil e fechada, não sendo, ao menos nessa fase, capaz de dar um rumo mais definido em sua vida.

Não se sentindo bem para retornar a estrada, tanto no sentido de voltar pra sua casa como em busca da outra cidade, opta por ficar num hotel um pouco a sua frente. Havia ficado lá uma vez há alguns anos, numa viagem de família, que lhe trazia algumas boas lembranças. Chegando no hotel, não havia ninguém na recepção para recebê-la. Já conseguia notar o acumulo de poeira no balcão, um sinal de que nos quatro dias que havia começado toda aquela situação em sua cidade, também se repetia naquele hotel. Procura por algum livro, como de entrada de turistas, achando um de capa dura e escura, com o nome do hotel em letras douradas. A data das últimas assinaturas bate com o dia do início do apagão geral, nem se dando ao trabalho de chamar ninguém, pois a mesma situação de solidão se repetia por lá. Toda aquela solidão lhe dava um frio, mas num nível mais psicológico que mesmo físico.

Opta por ficar no mesmo quarto de alguns anos atrás. Estava todo mudado agora, com um papel de parede mais frio, móveis novos e com cortinas novas. Apesar de tudo sentia alguma familiaridade com aquele espaço. Ficava sentada numa poltrona perto da janela, olhando para as poucas luzes no horizonte, imaginando se em alguma delas haveria uma alma viva. Sua mão passeava pela face, saindo do queixo e deslizando pelas linhas bem acentuadas abaixo de seus olhos. Perdia o tempo que estava naquela posição, sem conseguir desviar a atenção da janela. Como num lampejo, se dá conta que a porta do quarto estava aberta. Instintivamente vai tranca-la, se dando conta que estava aparentemente sozinha. Ficava parada em frente a porta, se debatendo intelectualmente se deveria virar a chave ou não. Trancar a porta era tão esquisito como não trancar. Se perguntava se deveria explorar o hotel, que era relativamente grande e poderia abrigar mais gente como ela, mas conforme a escuridão ia aparecendo decidia não sair do quarto. O banho quente e a comida que havia buscado no refeitório ajudavam em sua escolha.

QUINTO DIA

Acordava mais revigorada, nem tanto por estar mais animada, mas por ter poupado suas energias. Sentia especialmente falta de alguém para conversar no começo daquele dia, para falar uma bobagem qualquer, mas sentia que deveria seguir em frente, em qualquer decisão que surgisse. Sentiu algo no peito, como um aperto, ao deixar o hotel. Tentava decifrar aquilo. Olha bem a fachada do hotel, respirando bem fundo. Lhe passava a sensação de perda de alguém, como acima dela e que não teria controle algum. Era como se tivesse que se adaptar a alguma situação, por mais dolorosa e traumatizante que fosse.

SEXTO DIA

A primeira ideia era que ela parasse na cidade ao lado, mas algo, como um provável sexto sentido, ou similar a isso, lhe dizia para ela não parar. Ela ignora a cidade seguinte, decidindo parar na próxima. Não era uma cidade grande, do qual ela já ouviu falar por diversas vezes, mas que nunca havia estado. Da estrada dava para focalizar bem a cidade, que poderia ajudar em sua exploração. De binóculos, via uma estranha concentração de carros numa entrada oposta da cidade.

O que vê a sua frente lhe chama a atenção. São vários carros, empilhados e amassados um sobre os outros, como que empurrados por algo. Ficava analisando como deveria proceder, frente a novidade daquele momento. Não sabia se deveria se aproximar ou não do fato a sua frente, mas instintivamente, observava pelo binóculos todos os detalhes que pudesse identificar. Notava que alguns carros estavam empilhados acima de outros, como que fossem empurrados, como um monte de carrinhos de brinquedos. Analisando melhor o que sua visão conseguia alcançar, notava que o monte de carros formava um tipo de parede, parecendo bloquear uma das entradas da cidade.

Ficava imóvel, pensando que o quer que tenha feito aquilo, poderia esmaga-la como um papel. A segunda questão que sua mente formulava era que se aquilo havia acontecido ou antes ou depois de tudo ter sumido. Se sentia bastante frágil naquele momento, impotente sobre o curioso fato que presenciava. Volta pro veículo e se tranca. Se controlava para não entrar em pânico. Segurando mais as emoções, tentava se decidir se deveria ir buscar outra cidade ou tentar descobrir do que se tratava o muro de carros. Inundada por pensamentos que lhe sufocavam, ela percebe com dificuldade que algumas gotinhas de chuva caiam no seu para-brisas. Parecendo aumentar de intensidade, ela leva o carro até o estacionamento de um mercado, em que boa parte era coberto.

Instintivamente, entra no mercado e meio sem rumo vai explorando seus ambientes. Ficava imaginando quanto tempo teria que viver para poder comer toda aquela comida. Pela janela buscava alguma forma de vida, enquanto observava a repentina chuva que caia. Decidia que quando ela acabasse, iria para outra cidade, já que nada de muito bondoso teria feito aquilo com os carros. Pelo andar das horas e a chuva que não parava de cair, achava mais viável se instalar no pequeno quarto que ela havia descoberto no segundo andar daquele mercado.

SÉTIMO DIA

Teve uma noite confortável e bem revigorante de sono, acordando disposta, apesar de preocupada pelo fato da chuva ainda cair. O dia amanhecia preguiçoso, dado aquela umidade toda e sequer algum sinal do sol. Isso até certo ponto era bom para ela, pois não se sentia ainda a vontade para uma decisão de ordem maior, como pegar o carro e procurar por ajuda. Se sentia insegura, dado que o que tenha empilhado os carros possivelmente poderia fazer mal para ela, mas por outro lado, seu sexto sentido lhe dizia que o responsável, ou responsáveis, não estavam mais por lá naquele momento. Seu dia é resumido em ficar explorando o mercado, buscando os melhores tipos de alimentos para sua dieta atual, observar as janelas e ficar imaginando todo tipo de coisas, desde lembranças de um passado recente até táticas para o futuro.

OITAVO DIA

Acordava bem cedo, dado que o dia anterior havia gastado pouca energia, com as atividades limitadas de dentro do mercado, e por causa da angustia de ficar presa. A água do céu caia sem parar, variando só um pouco de intensidade, parecendo um pouco mais fraca na parte da manhã e mais forte após o horário do almoço. Mais uma vez via seu dia ficar limitado a perambular pelo corredores do mercado e ficar espiando as janelas. Percebe que num dos extremos do estacionamento havia uma van, ficando curiosa de sua localização. Julgava que poderia ser um veículo melhor para se locomover, dado que poderia carregar mais alimentos, roupas e o que mais fosse necessário. Achava que em condições normais ela nunca dirigiria algo assim tão grande, mas como o mundo havia mudado muito, bater aquela van em uma manobra ou não ver um buraco seria algo pouco relevante.

Pega um guarda-chuvas de estampa que achava de gosto duvidoso e ruma para a van, tentando desviar das muitas possas dágua acumuladas no piso do estacionamento. Notava que o veículo não estava trancado, sem ter dificuldades para ver seu interior. Estava cheia de equipamentos de som, conseguindo identificar caixas de som, guitarras e diversas peças de bateria. Haviam também muitos mais equipamentos, do qual não sabia do que se tratavam. A chave estava no contato. No banco do passageiro tinha um conjunto de roupas dobrado; um tipo de macacão, com calça, camiseta e um boné, tudo preto. Por vontade própria ela troca de roupa, deixando sua calça jeans surrava e a camiseta com desenho de flores por aquele tipo de macacão, talvez de algum funcionário da empresa da van. Resolve levar o veículo pra parte coberta, perto da entrada de pessoas do mercado. Consegue ter alguma satisfação com a roupa larga e quase sem personalidade e com a facilidade de condução daquele carro de transporte. Tira o dia para descarregar as coisas do veículo e ir abastecer com coisas que julgava necessárias, assim que a chuva acabasse.

NONO DIA

Acordava frustrada com o barulho incessante da chuva que nunca parava de cair. Em seu julgamento aquilo não parecia ser algo normal, não se recordando de já ter passado por uma situação assim ou de ter tido contato com algo relativamente parecido. Da janela do seu quarto conseguia visualizar uma boa parte do bairro, conseguindo já reparar que numa região mais baixa as poças de água aumentavam drasticamente, parecendo ser o início de um alagamento. Por sorte e não por escolha, havia optado por ficar naquele mercado, que estava numa parte alta da cidade. Observa mais detalhadamente para esse mesmo bairro que começava a alagar, quando a chuva começava a ficar um pouco mais fraca. Lembrava brevemente o bairro da sua infância até o início da sua fase adulta. Deveriam ser ruas calmas, assim como seu bairro natal, com casas dividindo espaço com pequenos comércios locais. Apesar das variações de tamanho, fachada, grau de conservação e estilos, existia uma certa padronização, que talvez lhe dava um certo grau de identificação com aquele lugar. Imaginava que se a chuva cessasse um pouco ela poderia ir conhecer um pouco daquele bairro.

DÉCIMO DIA

Acordava bem cedo, talvez o dia que ela despertava mais cedo nessa sua nova fase. Iniciava o dia bem inquieta, o que não era algo comum de acontecer em sua vida. Estava há alguns dias presa naquele mercado, ilhada por causa de uma chuva que nunca parava de cair. Sem pensar muito, nem mesmo tomar seu café da manhã, pega uma capa de chuva amarela ainda fechada no pacote, um par de botas de borracha e o guarda-chuvas transparente que já havia usado para pegar a van. Sem pensar muito e nem de modo lógico, vai andando para o bairro que avistava da janela do seu quarto.

Eram uns cinco ou seis bairros, que se ligavam com outros mais. Ela caminhava lentamente em frente as casas, analisando suas fachadas, com alguma esperança de poder presenciar algum movimento, que indicasse alguém, numa situação de solidão, como ela. Em meio a sua caminhada sem sentido e úmida, duas situações chamavam sua atenção: a primeira, e pouco a sua frente, era que o portão de uma das casas estava entreaberto, e o outro é que conseguia ver mais nitidamente que a área alagada era bem maior do que

Fabio Antonio Costa
Enviado por Fabio Antonio Costa em 27/11/2021
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