Almoço no terminal
- Como sabe que vou para Reeddak? - Questionou Sjutsje surpresa, pousando a mala de papelão diante da mesa redonda onde o motorista almoçava.
- Você comprou uma passagem no meu ônibus - replicou o homem, que tinha pela frente um prato de hutspot acompanhado de croquetes, pela metade. E como a expressão de perplexidade da jovem não se alterara, acrescentou:
- Faço a rota para Efterwetter; sempre pergunto ao agente do terminal se alguém vai descer em Reeddak. Se não tiver ninguém pra lá, posso desviar a rota e economizo uma hora de percurso.
Sjutsje olhou ao redor e o restaurante estava bem cheio, até por ser hora do almoço; apontou para a cadeira vazia, do outro lado da mesa.
- Posso me sentar aqui?
- Claro - disse o homem, voltando a concentrar-se em terminar o prato.
Um garçom de avental branco passou por perto, e Sjutsje pediu stamppot.
- Só temos com chucrute - informou o rapaz. - A couve acabou.
- Tudo bem - acedeu Sjutsje.
Enquanto aguardava o pedido chegar, voltou-se para o motorista, pensando se deveria interromper novamente a refeição dele para perguntar sobre seu destino. O homem ergueu os olhos do prato, parecendo ouvir os pensamentos dela.
- Vai morar em Reeddak? - Indagou.
Sjutsje fez um aceno de cabeça, aliviada pela iniciativa ter partido dele.
- Recebi um convite para organizar e administrar a biblioteca do castelo de Hegestap; é muito longe da vila?
O motorista a encarou com ar pensativo.
- Hegestap? Não, não é longe; vamos passar por lá, é bem no alto da serra. O centro de Reeddak fica uns dois km mais pra frente, do outro lado da encosta.
- E se eu quiser sair do castelo para ir à vila, sabe se tem algum transporte?
O motorista parou para pensar, enquanto mastigava um croquete.
- Reeddak é bem pequena... acho que tem um ou dois táxis comunitários rodando, se tanto. E nos dias de feira, duas vezes por semana, o meu ônibus sobe e desce a serra; mas acho melhor você comprar ou alugar uma bicicleta para não depender dos outros para se deslocar por lá.
Sjutsje balançou a cabeça, em concordância.
- Sim, eu estava pensando mesmo numa dessas bicicletas com um cesto na frente, para carregar compras.
- É um bom investimento - aprovou o motorista. - Só tenha em mente que Reeddak é cheia de ladeiras; organize seus passeios, ou vai ter que passar boa parte deles empurrando a bicicleta morro acima.
Sjutsje comprometeu-se a conhecer o vilarejo a pé, antes de decidir se iria realmente precisar da bicicleta.
- Tenho uma prima que mora em Reeddak, Libeltsje; ela é justamente a dona da oficina de consertos de bicicletas da vila - prosseguiu o homem, raspando com o garfo e a faca os últimos resquícios de legumes do prato. - Diga que falou comigo, Goaris; mesmo se não tiver nada para lhe vender, poderá dar umas dicas sobre a região.
Sjutsje prometeu que procuraria Libeltsje, assim que estivesse instalada no castelo.
- [Continua]
- [23-11-2021]