Peripécias da Jajá
Eu fui mesmo uma moleca.Era eu que construía meus carrinhos de rolimãs. As ruas de Honório Gurgel e Rocha Miranda eram palcos das nossas corridas. Nem sei se a gritaria da plateia que nos brindava nos portões de casa 🏡 era, na verdade, torcida para ver o vencedor ou se para ver quem seria o primeiro a rolar ribanceira abaixo e se estabanar ralando o corpo. Como era divertido. Aliás, só duas meninas participavam, os outros participantes eram meninos. Eu, por ser a "mecânica" e, também, por sempre estar entre os primeiros no final da corrida e a Beth, que ia na garupa do irmão. Geralmente o final da corrida acontecia na rua Ururaí, lá embaixo, proximo da estação. A sauda da corrida era lá no topo, junto à grande Caixa d'água que abastecia as casas em Honório Gurgel. O evento era, geralmente, aos sábados à tarde, quando não havia aula. Quase todos os dias, no final da tarde, depois das aulas, aconteciam os jogos de bola de gude. Eu, orgulhosa, sempre com meu saco repleto de bolas de gude a tiracolo. Era só eu a bendita fruta entre os meninos e, por isso, dona Amélia, viúva, não deixava as quatro filhas brincarem comigo, "a muleca da rua." À noitinha, era a vez das outras brincadeiras. A "Bandeirinha" ; o "Bento que bento é o Frade"; a "Carniça"; o "Pique-esconde"; o "Passa anel"; o "Pera, uva ou maçã", enfim, tudo
bem divertido. Ficávamos brincando até quando os pais chamavam pra jantar. O único medo que tínhamos era de assombração. Diziam que tarde da noite, uma mulher alta caminhava pelas ruas. Trago em meus poros todas essas lembranças que vivi. Talvez por isso, vejo o mundo de uma forma diferente. Dou valor à vida e amo, de verdade, cada momento que vivo. Entendo que todos os que, de alguma forma, cruzam minha estrada têm um porquê. E quando algum ente querido vai para outro plano tenho a certeza de que "Quem a gente ama não morreu, apenas foi antes de nós!" e seguiu a vida em outro plano.
Jandiel
Jandira Leite Titonel