ACAMPAMENTO TRAUMATIZANTE

 

Era véspera do meu aniversário; saí com a escola para acampar em Sapiranga.

Todo mundo estava empolgado, mas eu, no fundo, estava com muito medo, não me perguntem o porquê. Nem eu sei…

Tudo bem! Tentava esquecer o medo. Tinha comprado barraca, saco de dormir e conseguido um mochilão emprestado com a minha prima; no entanto, estava difícil tirar o medo de dentro de mim.

Naquela sexta-feira, 03 de maio, tivemos os primeiros períodos de aula e saímos num ônibus.

Na parada para o almoço, eu já estava “atucanada”. Praticamente não comi. Comecei a me isolar. Dizia a mim mesma: “Quero voltar pra casa”; mas logo depois, eu dizia “Vamos lá, Andréa! Coragem! Tu consegues!!!”.

Chegando ao local, montamos as barracas. O céu estava ficando meio escuro, carregado de nuvens.

Meu sentimento de medo, aos poucos, foi se transformando em pavor; entretanto, tentei segurar.

Hora de ir jantar na pizzaria. Todo mundo para o ônibus. Eu, cada vez pior, ainda mais que estava começando a chover! No momento, além do pavor, tinha enjoo no estômago. No caminho à pizzaria, a Débora vomitou. Aí, não me segurei; fui a próxima a vomitar. Sei que mais gente passou mal. Eu estava tão ruim que nem prestava mais atenção nos outros. Ma e sozinha, baixei a cabeça. Acho que foi nessa hora que a Ananda sentou ao meu lado. A partir desse momento, ela ficou me cuidando e isso me aliviou um pouco.

Na pizzaria, de novo, não comi nada e, a Ananda me chamou para conversar. Falei do meu pânico e outras coisas. Isso foi muito bom naquela hora; no entanto, o mal-estar sempre voltava. Aliviava e voltava.

Voltamos ao acampamento. Conversamos um pouco e eu até consegui botar um pouco de música, como o JP me sugeriu.

Embora o pessoal estivesse contando histórias, eu não as escutei direito porque, como eu disse, o pavor ia e voltava. Ao ouvir a Ju dizer: “É a última história!”. Para mim, isso queria dizer que era hora de dormir, o que me apavorou ainda mais. Estava chovendo bastante e desde criancinha tenho pavor de chuva.

Felizmente, a Ananda ficou comigo na minha barraca, o que me deixou muito aliviada. Mas mesmo assim, não peguei no sono.

Até que, às 3h da manhã, começou a cair o mundo!!!! Chuvarada, trovões, raios, clarões, tudo o que pode ser apavorante numa noite em um acampamento.

As tutoras começaram a chamar todo mundo, dizendo que não poderíamos ficar ali; tínhamos que abandonar as barracas e ir a uma espécie de galpão para decidirmos o que fazer.

Dividimo-nos nos quartos da sede do camping. Fiquei num quarto com a Ananda e com a Clarice, a qual, acho que logo dormiu. Eu estava muito apavorada! Simplesmente não dormi. Queria ligar para a minha casa, mas os celulares não funcionavam. Não tinha sinal. Só queria que chegasse o dia seguinte para irmos embora. Dizia a mim mesma que nunca mais iria acampar.

Pela manhã, após chegada da Soledad e da Mariana, fizemos uma reunião para decidir se ficaríamos ou iríamos embora. Ganhou o “Vamos embora!”. Ainda bem.

O pessoal almoçou. Eu não consegui. Organizamos as coisas e deixamos o local.

No caminho de volta, eu até dormi um pouco. A Ananda continuava ao meu lado. Conversamos bastante. Ela me disse coisas importantes e eu só tenho a agradecer por isso.

Hoje, lembrando-me de tudo, vejo esse acampamento como uma aventura. Não digo, que boa, simplesmente uma aventura, tanto que a estou contando aqui. Vi o valor de um ombro amigo numa hora de aperto. Valeu, Ananda!