Crônicas de Garesis - Amor no fronte - Parte II
Edmund estava atônito, a Grã-Mestra dos magos viera com revelações graves sobre o futuro de Garesis, tudo recaia sobre um criança.
-- Pobre criança. - pensou Edmund. - ter o peso da responsabilidade de milhares de vidas nos ombros sem compreender o porquê, sem sequer ainda ter nascido.
O rei de Arcádia conhecia a sensação, sabia do incômodo e do fardo que era tal missão.
-- Seu filho sabe disso? - quis saber o soberano.
-- Não, é importante que ele não saiba ou o rumo das coisas podem se alterar. - respondeu Segna pensativa. - Por isso concentre suas tropas com Magnus e Mezel, garanta a segurança de sua linhagem e da paz de Garesis. O rei afirmou com a cabeça.
Perto dali o príncipe Mezel conduzia o silencioso mago para a sala das armas, uma tenda grande com diversos caixotes espalhados, mostruários de lanças, espadas, machados, martelos, arcos e balestras. Em um canto um enorme baú chamava atenção por sua majestosa manofatura, carvalho e ouro, com inscrições e jóias incrustadas e também um cadeado da mesma proporção.
Mezel vai direto a este e tirando um molho de chaves da cintura destranca o cadeado, ali guardado, além de moedas de ouro divididas em sacos de couro, havia armas menos comuns das que haviam do lado de fora.
-- São itens preciosos, armas que pertenceram a outros mestres. - explicou Mezel. - Que tipo de armas vocês magos costumam usar?
-- Não acreditamos em armas. - explicou Magnus calmamente. - Mas em tempos difíceis usamos artefatos, cajados, varinhas, bolas de cristal e livros para canalizar nosso poder
-- Bom senhor Magnus, não temos tais artefatos, mas garanto que há uma boa espada. - Disse o príncipe retirando uma espada guardada numa bainha de couro preto. - Está é uma espada orquesa, feita com o raro metal draconita, significa que ela deve reagir bem a você e se tiver sorte de encontrar um mestre armeiro ele pode abençoa-la.
A espada tinha um cabo revestido por tiras de couro branco finalizada por uma espiga com vários ferrões, a guarda era larga e retangular com o desenho de um corvo lapidado, a lâmina era também larga, como uma espada bastarda, mas com apenas um gume, na outra extremidade um compensado do mesmo metal, sólido, próprio para aparar golpes sem comprometer o fio do corte. A draconita era um material belo, mais escuro que prata, com pequenas manchas regulares e padronizadas em azul celeste, aquela era uma obra impecável de um mestre de armas orc, era surpreendente o que podiam forjar.
Magnus recebeu a espada e logo se surpreendeu com sua leveza e balanceamento, quando suas mãos tocaram o cabo pode ver como era confortável, o que não esperava era que a ponteira abaixo da mão se soltara fazendo com que a espiga caísse puxando vários metros de uma corrente de elos fina.
-- Não sabiamos que fazia isso. - disse Mezel surpreso.
-- alguns itens reagem com a energia e a magia, ouvi dizer que a dragonita é extremamente sensivel a isso. - Disse Magnus analizando a arma e logo a espiga foi puxada de volta para a posição inicial. - Isso pode ser útil.
Quando sairam para fora da sala de armas, o príncipe e o mago viram a movimentação e a organização das tropas, os orcs montados em lobos partiram seguinto os anões que tinham javalis e grifos como transporte. Mezel e Magnus viram o rei Edmund passando como numa grande procisão sendo recebido com aplausos por quem passava, seus soldados montavam lindos corcéis com armaduras douradas feitas de placas de metal, as flâmulas azul e branca com o simbolo da coroa e da espada dourada tremulavam ao vendo em milhares de lanças, esta visão foi interrompida quando um mago usando vestes cinzas se aproximou de Magnus:
-- Mestre Magnus, o destacamento arcano está ao seu dispor e pronto para partir.
Magnus olha para Mezel que lhe confirma com um meneio de cabeça.
-- Ótimo Rafus, reunam todos partiremos imediatamente, traga-me Volucer. - ordenou o mago.
-- Teremos que pegar uma embarcação no sul de Arcádia e depois para o porto de Southern. - disse Mezel.
-- Isso não será necessário meu princípe. - disse Magnus enquanto caminhavam. - Meus transportadores vão nos deixar bem próximo do local.
-- Não sabia que podiam fazer tais coisas. - comentou Mezel surpreso.
-- Com todo respeito majestade, não sabe da metade do que podemos fazer. - disse Magnus sorrindo pela primeira vez. - Talvez eu te dê uma amostra hoje.
Na saida do acampamento Rafus encontrou seu superior e a frente deles estava Mezel com mais de mil homens, quando sariam dobraram para esquerda no declive da colina onde era o acampamento, ao dar a volta avistaram uma formação de magos vestidos de azul e ao verem seus senhores se aproximando ergueram seus braços. O solo dentro do círculo se encheu de símbolos luminosos que se completavam e se interligavam em diversos padrões. Antes de entrarem no círculo as tropas de humanos e magos ficaram lado a lado.
-- Isso é seguro? - quis saber o príncipe.
-- A taxa de acidentes é baixa. - brincou Magnus. - O senhor vai ficar bem.
Quando Mezel estava totalmente dentro do círculo com suas tropas, sentiu que seu corpo estava mais leve, de fato não sentira mais o corpo e a noção de tempo e espaço se esvaiu, um clarão luminoso azulado subiu como uma cortina cobrindo a vista da colina, das montanhas ao fundo, do acampamento e do céu azulado, não sabia quanto tempo tinha durado a viagem, segundos ou horas, mas quando a luz azul diminuiu, Mezel e seus homens sentiram como se algo os puxasse pelo umbigo, essa sensação não passou rapido, olhando em volta, o lider dos humanos viu se suas tropas estavam ali, varios soldados vomitavam, enquanto Magnus e os magos pareciam indiferentes a viagem.
Quando a vertigem passou eles puderam ver a diferença no ambiente, a relva verde dera lugar a uma terra árida, estavam pouco atrás da entrada de um estreito entre dois cânions de terra vermelha, o mais estranho era que sairam pela manhã e agora o sol estava alto no horizonte, percebendo a confusão Magnus veio ter com o príncipe.
-- A Magia de transporte pode nos levar a qualquer lugar, mas cobra um preço alto, preferimos pagar com tempo, o mesmo que levaríamos para chegar cavalgando, com poucas horas mais cedo.
Próximo dali uma movimentação chama a atenção das tropas aliadas, vindas do estreito e com muita velocidade, levantando uma cortina de poeira e areia.
-- Em guarda! - berrou Edmund. - Preparem para batalha!
-- Arcanos! Magia de supressão! - Comandou o Mestre Magnus, logo varios magos estavam com as mãos cheias de uma esfera energética, alguns invocaram chamas, outros relâmpagos e gelo. Todos estavam apostos, prontos para atacar ás ordens de seus superiores.
-- Ao meu comando arqueiros! - ordenou Mezel e a fileira de arqueiros surgiu a frente da cavalaria.
Todos aguardaram os inimigos se revelarem, mas quando estavam perto o suficiente foram surpreendidos por uma chuva de flechas negras.
--Scutum! - gritou Magnus quando percebeu as flechas, a fórmula mágica foi repetida por todos e foi o suficiente para os magos ao seu comando erguerem um campo de energia translúcida acima de suas cabeças protegendo todos das primeiras flechas do inimigo.
-- Batedores. - disse Mezel ao lado de Magnus que sustentava o escudo com as mãos enquanto as flechas se espatifavam acima deles. - Devem ter uns duzentos a julgar pelas flechas.
-- Vamos dar a abertura necessária meu senhor, se prepare. - Disse o Mago. - Fulgur centrum!
Mais uma vez o comando foi repetido, era impressionante que mesmo não sendo soldados os magos eram exepcionalmente organizados na batalha, logo os magos que estavam no centro da primeira fileira deixaram de sustentar o escudo de energia para lançarem raios na nuvem de poeira ao qual os inimigos se ocultavam, abrindo uma brecha para o contra-ataque.
-- lançeiros! Avançar! - berrou o príncipe.
A infantaria do príncipe avançou aos berros, houve o som do entrechocar de lâminas quando os soldados andentraram na nuvem de poeira.
-- Ventis praemisit! - deu Magnus outro comando e seus magos lançaram rajadas de vento jogando para longe a poeira que encobria os inimigos. Revelados, confirmou-se a estimativa de Edmund, mais ou menos duzentas criaturas, eram homens lagartos, uma raça conhecida como kobold, que nada mais era do que uma tentativa falha de unir sangue dragão com humano. Eles estavam divididos entre arqueiros e guerreiros com cimitarras, usavam armaduras rústicas sobre as escamas, alguns esverdeados, outros como lagartos do deserto com escamas cheias de esporões e carapaças mais resistentes. Eram ligeiramente mais rápidos e resistentes que os homens, mesmo assim a maioria dos lanceiros estava lidando bem.
-- Arqueiros! - gritou Mezel se aproveitando da deixa. - Fogo!
Uma grande saraivada de flechas com penas azuis foi disparada contra os primeiros kobolds, liberando os lanceiros para a segunda fileira da formação, mas isso não seria o suficiente, um ataque corpo a corpo seria necessário.
-- Espadas á frente - Ordenou o principe. - Avançar!
De trás dos cavalos sairam varios guerreiros sacando suas espadas, usavam armaduras leves e sobre elas uma túnica branca com o brasão de Arcádia, sem hesitar eles partiram para cima enquanto os arqueiros eliminavam o que podiam, a situação parecia sob controle, mas heis que de repente, na fileira onde estava o herdeiro de Arcádia e da guilda dos magos, surgiram do solo varios lagartos enrolados em suas caldas como imensas bolas de ferro levantando areia e pó, fazendo os cavalos empinarem pegando de surpresa seus mestres.
Muitos que cairam receberam o golpe direto e mortal, além da carapaça natural, estes lagartos usavam uma armadura em seus corpos atarracados cheios de ponteiras afiadas e letais, os cavalos sem direção fugiram em retirada atropelando outros, desorientando os cavaleiros. Os guerreiros e lanceiros que estavam á frente na batalha se distrairam e pagaram pelo preço neste caos criado, até mesmo Mezel quase perdeu o equilíbrio de sua montaria fazendo muito esforço para se manter nela. Ao seu lado, Magnus recitavam alguns versos com os braços dobrado e a palma da mão para cima:
-- Pax mens, visio pacis, da mihi imperium in omnis directionen. - De suas mãos abertas circulos mágicos surgiram e rodavam em vários sentidos.
Mezel Percebeu que acima da cabeça dos primeiros cavalos agora pairava um desses círculos e eles agora se acalmavam, aqueles cujo mestre havia sido abatido e ainda estavam ali sairam para as fileiras de trás em fila indiana, os que ainda estavam sendo montados permaneceram calmos mesmo depois de Magnus saido do estado de concentração.
-- Obrigado! - berrou Mezel ao mago enquanto disparava vários golpes contra um lagarto. - Que tal mais uma ajuda? Não podemos perder mais homens.
-- Como queira meu príncipe! - respondeu Magnus. - Arcanos, magicae telum.
-- Magicae telum. - Repetiram os magos em uníssono apontando as palmas das mãos para frente, varias flechas de pura energia foram disparadas pelo destacamento de magos, umas azuis, outras verdes, vermelhas e todas as cores possíveis. As flechas de energia pareciam desconhecer a dureza das carapaças ou armaduras, quando em contato com o corpo desencadeavam pequenas explosões coloridas e luminosas.
Os lagartos eram arremessados para trás sofrendo com o impactos, mais e mais flechas eram disparadas pelos magos tendo o serviço encerrado pelos guerreiros, logo uma pilha de corpos de kobolds tingiam o solo de vermelho, um único e franzino lagarto havia escapado, vendo seus iguais aniquilados ele largou seu machado e correu pelo estreito de volta de onde veio, depois de ter corrido alguns metros um grande projétil luminoso arroxeado o acertou pelas costas o fazendo cair no solo árido já sem vida.
-- Reagrupar. - Ordenou Mezel.
Um total de cento e dez homens estavam mortos, entre lanceiros, guerreiros e cavaleiros, vinte tiveram ferimentos leves, principalmente dos lagartos-bola, estes receberam os cuidaos dos magos. Enquanto se organizavam para avançar o principe dialoga com Magnus:
-- Se isso foram só os batedores, o que virá depois?
-- Não vamos poder economizar mais soldados como fez. - declarou o mago em seu cavalo. - Teremos que traçar uma estratégia mais consistente.
-- Alguma sugestão? - quis saber o principe.
-- Na verdade sim majestade. - começou Magnus e ali eles traçaram sua meta para o desafio que viria.
Um pouco mais longe dali, em meio a um enorme oasis se reunia um exército que superava os homens de Arcádia em número e ferocidade, não eram apenas Kobolds e sim tropas de criaturas como: Goblins, elfos-escuros, nagas, meios-orcs, bugbears e outras aberrações. Ali, na margem de um imenso espelho d,agua havia uma mulher de cabelos alvos, pele clara, o corpo esguio como uma serpente e sobre ele uma armadura de escamas prateadas, estava sentada em estado meditativo, abaixo dela um círculo, um selo luminoso esverdeado que girava e brilhava intensamente ao mesmo tempo que mostrava uma imagem nas águas, era Mezel e Magnus reunindo as tropas para passar pelo estreito entre os cânions. Uma figura então se aproxima da dragão-fêmea quebrando sua concentracão, era um enorme minotaura de pelos pretos.
-- Suas ordens senhora. - disse ele com sua voz que era um rosnado.
-- Traga o canalizador, avance com suas tropas e não deixe ninguém passar por vocês. - Ordenou ela calmamente. - O ritual não deve ser interrompido.
-- Lhe asseguro que serão rechaçados. - disse o minotauro batendo com o punho no peito confiante.
-- Melhor que seja assim Timeos. - respondeu ela fitando seu general. - Sabe que Sufur não sabe lidar com falhas.
O minotauro se retira sem dar mais uma palavra, Esmir faz um gesto e de novo as águas mostram Magnus e o príncipe cavalgando com suas tropas em seus calcanhares, por um momento o dragão-fêmea esquece seu propósito e tem sua atenção voltada para as feições do mago em seu belo rosto e ali, pela segunda vez, ela se questiona de suas escolhas.
Continua ...