O Lançador de Agulhas - "O caçador"
Quase cinco anos depois que a terra foi devastada pela fúria da natureza, os homens permanecem iguais: egoístas, arrogantes, mesquinhos e violentos. Teria sido uma punição Divina? Ou consequência da vida? Assim como muitos, Efraim busca por respostas. Qual o propósito de sua existência ainda num mundo que foi morto? Deus abandonou a todos. Não temos mais a quem temer.
Primeiro foi o sol. Ele assou lentamente e por longos dias. Milhares morreram. Foram 365 dias de calor ultrapassando a marca dos 40 graus. Muita gente morrendo no meio da rua, dentro de casa, no trânsito, enfim. Mortes e mais mortes.
Depois veio a chuva. O segundo dilúvio melhor dizendo. Água caindo do céu. Água escorrendo dos rios, cidades inteiras submersas, gente morta boiando, animais também. Um ano de chuva forte, e sem cessar. Que loucura. O frio veio para terminar o serviço, o golpe de minerva. Em três anos, O Criador destruiu tudo, poucos foram os sobreviventes. Efraim foi um desses que resistiram o apocalipse. Hoje ele caminha por essa terra, faminto, com medo, apavorado, louco.
Ele desceu do cavalo e o amarrou numa pedra grande. Olhou ao redor. Há dias ele não fala e nem vê uma viva alma. Seu estômago reclamou de fome. Cinco anos sem sol, pouca chuva, o céu vive cheio de nuvens e o ar é constantemente pesado. Efraim ouviu algo. No braço direito a sua arma, o Lançador de Agulhas e descansando na cintura um facão.
— Tem alguém aí? — gritou.
Sem resposta. Efraim andou até perto dos muros, ou o que sobrou deles. Do meio das árvores uma flecha o acertou na perna. Efraim se abrigou entre os destroços e arrancou o objeto de sua carne.
— Argh!
Ele sabe de quem se trata. Metrópole. O caçador. Com ele não se brinca. Efraim não estava se sentindo seguro ali, por isso correu para o outro lado, perto da entrada de um terreno. Outra flecha o atingiu no antebraço. A dor o fez gritar alto.
— Efraim! Melhor ficar quieto. — falou Metrópole descendo da árvore. — o que pensa em fazer?
O rapaz tirou a flecha do braço. O suor escorrendo e a dor fazendo seus batimentos aumentarem. Hora de agir. Ele ajeitou o dispositivo em seu braço. Mirou e disparou uma agulha. Ela passou a centímetros do rosto do homem barbudo.
— Opa, foi por pouco. — tirou mais uma flecha da aljava. — é guerra que você quer?
Metrópole lançou mais uma e Efraim esperou o momento certo para disparar outra agulha e dessa vez com mais força. O caçador foi atingido na clavícula. Ele caiu segurando a agulha que entrou um pouco mais da metade. A dor é incrível.
— Puta merda.
Efraim deixou seu abrigo e correu em direção a Metrópole e o chutou no rosto. A cabeça do caçador quase é arrancada com o golpe.
— Dessa vez eu acabo com você. — rosnou.
Metrópole é mais velho, mais alto e mais forte também. Por fim ele conseguiu retirar a agulha e joga-la contra Efraim.
— Ela é tua.
O rapaz se distraiu por um momento e foi socado violentamente no rosto. Sua visão ficou turva e ele perdeu um pouco a noção do tempo. Metrópole o socou novamente arrancando sangue da boca.
— E aí, herói, vai cair no primeiro round?
O caçador correu e lhe aplicou uma voadora que atingiu o tórax. Efraim cuspiu saliva misturada com sangue. O garoto caiu se contorcendo no chão.
— Vamos acabar logo com isso. — armou outra flecha. Mirou na cabeça e disparou.
Efraim, por um milagre conseguiu desvia-la usando seu facão.
— Agora eu vou lhe fatiar, seu desgraçado.
A primeira facãozada passou em branco, a segunda também, mas a terceira arrancou um filé do braço do caçador que urrou.
— Merda, olha o que fez! — colocou a carne pendurada no lugar.
Metrópole correu para o mato jorrando sangue. Efraim preparou seu lançador de Agulhas e atirou. O caçador já havia sumido de sua vista, mas foi possível ouvir seu grito. Efraim ainda pensou em ir e finalizá-lo, mas, Metrópole é sempre Metrópole. Ele é sujo, perigoso e bom no que faz. O jovem cuspiu sangue. Alisou o peito e foi embora puxando seu cavalo. Ao sair do terreno ele escutou uma voz familiar.
— Efraim, o Lançador de Agulhas?