O Paiol de Material Comum
Eu soube de última hora que seria o novo paioleiro de Material Comum. Na inocência de marinheiro de primeira viagem, assumi sem a passagem correta aquela incumbência ,sem verificar a situação em que pé estava. Eu assumira sem exigir que mo entragassem municiado e atualizado, quanto ao controle do estoque. Confiei de boa fé e ia me dando mal. Pela atitude não fazer uma rigorosa inspeção, exigindo que mo passassem com todos os artigos em dia, não indo pela atitude de camaradagem de quem me passava a função.
Para a minha surpresa, quando o Imediato falou de uma comissão na Parada da manhã, me dei conta de que ia ter que dar uma olhada no paiol que fora então passado e daí fui me alertar que tudo estava de pernas para o ar e que precisaria me apressar. Afinal, no dia seguinte, ainda de madrugada, soltaria as espias em busca de cumprir sua função de resgatar barcos perdidos pelo Oceano Atlântico. A embarcação que pedia socorro se perdera – pelo último sinal de rádio – próximo a Saquarema ,ainda no litoral fluminense. Daí o rebocador iria a Santos, com destino ao Litoral Sul, entre Paranaguá e Rio Grande, área de jurisdição do Quinto Distrito Naval., onde faria uma patrulha naquela região e finalmente voltaria ao Rio de Janeiro. Seriam exatos trinta e cinco dias de Comissão.
A questão estava feita. Eu precisaria de uma luz no fim do túnel. Me dirigi ao cabo de quem recebi o paiol, atrás de uma explicação de como devia proceder. Ele, com a explicação de estar ocupado. Fazia ouvido de mercador e sequer me dava atenção. Depois de muito me humilhar, ele mandou que eu escrevesse, pois não ia repetir. Anotei as e agradeci. Na secretaria, datilografei todos os pedidos e carimbei os e fui atrás das coletas de assinaturas dos respectivos encarregados. Tudo dentro das exigências da função. Foi o início de minhas aflições. Eu era, simplesmente, ignorado, um vulto que espantava todos. Apelei para complacências de cada um, mas era inútil. Foi quando me veio a inspiração: o imediato. Seu conseguisse a sua intervenção a meu favor, adiantaria o meu lado. Tomei um banho de gato e coloquei um uniforme bem novinho, já reservado para essas situações.
Encontrei-o no convés falando com o Senhor Mestre e pedi licença para falar. Ele, o imediato, relembrou que eu não estava mais na escola e não precisava toda aquela formalidade. Pedi um momento da atenção.
- Tá certo, boy! Me acompanhe! De que se trata exatamente!...O Bizonho, adianta isso, sua onça, senão vou te prender, Trata de ajeitar essa voadora. E rápido! Disse ao oficial daquela faina, pelo megafone.
Ao ver a dificuldade de suspender e colocá-la a bordo. Antes que tivesse a concentração desviada de mim, disse a ele que sua reputação estaria comprometida seriamente. Me perguntou sobre o que eu estava falando, pois até agora não entendera,. Pedi pelas cinco estigmas de Cristo que me escutasse.e prestasse atenção no que eu ia dizer.
- Bem, marujo! Tenho o que fazer! Agora não,não e não! Com licença ! – Disse-me já quase a me ignorar.
- O senhor vai ver o comandante, pedindo papel higiênico, sem ter no paiol. Ele vai limpar=se com dedo e escrever nas anteparas. Por favor, peço permissão para falar com ele! O senhor está ocupado, preciso de alguém que resolva. Ele vai tomar uma atitude!
- Então, pare com todo esse enigma. Diga-me de uma vez! -agora, mais atento e acessível O oficial mandou que eu falasse. Já no camarote, ele passou a mão na cabeça e deu um soco na mesa onde despachava as correspondências oficiais
- Meu Deus, marujo! Veja o eu fez! Só podia ser coisa de boy sua falta de malícia chega a ser irritante Receber uma incumbência sem obedecer o protocolo, só podia dar nisso. Você foi muito infantil!...Meu Deus, quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece...
- Tenha calma, seu imediato! Eu já pensei numa solução,mas preciso da ajuda do senhor! Disse-lhe com a maior serenidade.- Convoque os encarregados para virem aqui e cada um assinar seu respectivo pedido...
- Então faça isso! -Que eu mando todos assinarem!
- Se eu for fazer isso, eles não vão me atender! Chame pelo telefone o Contramestre do horário de oito ao meio-dia e peça para repassar a ordem urgente, urgentíssimo! Antes de tocar o almoço no boca de ferro. Eles assinam e eu vou ao Depósito de Abastecimento, tão logo reinicie o expediente naquela OM. Mas, por favor o tempo corre contra a gente. Não vamos perder minutos valiosos ... Precisamos nos apressar e buscar o tempo perdido. Se a marujada perguntar por que eu vim aqui, a resposta que vou dar é a seguinte: vim para tomar um aperto por causa do paiol...Se não der o pronto, até o navio largar as espias, vou ser punido com prisão rigorosa no Azul, o Presídio Naval.
Era um dia de sexta-feira. Eu ia me esquecendo de colocar o leitor ciente da minha condição todos os militares da ilha das cobras já aguardavam o toque de volta às faxinas e banho e uniforme! Era a hora, de quem não estava de pau no dia, ir para a terra, aproveitar e curtir o fim de semana. Nos bares espalhados pelo Centro da cidade maravilhosa, com um bate-papo com os amigos, tomando um chope sem colarinho com os amigos
Eu, como um pobre mortal sentia falta, mas me conformava, Ia cursar Vigilância e Telefonia, depois teria três semanas de férias, após conclui-los. Férias antecipadas. O resto vou contar, em outra ocasião. Me aguardem!