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"Uma história real"
Amigos para sempre
Estava no extremo norte e navegaria na minha embarcação por 28 dias descendo o Rio Negro até Manaus, viajando dia e noite, sozinho. com uma sobrecarga de combustível, alimentação básica e acessórios pessoais. Na hospedaria onde eu estava hospedado, surgiu uma jovem norte americana, denominada Julie Kove, uma moça bonita, mulher de boa conversa e de grande conhecimento, que visitava a região, embora morasse em Los Angelis, era descendente da etnia dos Ianomamis, nativos do extremo norte do Amazonas, povo que tenho imensa admiração, por sua cultura e tradições. Acertamos viajar dividindo as tarefas e despesas da viagem, onde compartilharíamos tudo, menos a cama. Assim, ficou estabelecido para essa inolvidável viagem, descendo o Rio Negro.
Pelo Rio aprendemos a amar e admirar o nascer e o pôr do sol, os encantos e mistérios do Rio Negro; sua água escura, nativos, Aldeias, peixes, botos e a diversidade de aves e animais silvestres. A parceria foi o incentivo para falarmos de tudo, em especial das nossas vidas. E de tanto falar de coisas pessoais nos tornamos confidentes, parecendo amorosos amantes. Julie Kove, sabia que ao voltar para casa encontraria os mesmos problemas deixados; marido dependente químico, meninos precisando de educação e o filho mais velho na guerra. Então ela não tinha pressa de chegar e descia o rio, tal a correnteza, devagar. Com o passar dos dias nos tornamos íntimos, mantendo mútua confiança entre nós, Chegamos às Ilhas de Anavilhanas, onde Julie Kove, embarcaria num hidroavião com destino à sua terra, para se juntar aos seus familiares, e eu chegaria a Manaus, concluindo a viagem de grande proveito em conhecimento.
Abarrancamos o barco, baixamos a cabeça, como se estivéssemos em prece e ao levantarmos, tínhamos os olhos cheios de lágrimas, doía nos separarmos e chorávamos dizendo; não haverá despedida, mas apenas um até logo. Estávamos ligados pelo amor, se manifestando doutra forma. Não houve despedida, Kove simplesmente embarcou e o avião ganhou altura. Quatro anos, após essa ocasião, estávamos em San Diego na California, no Dia de Ação de Graças, eu, Malaque, "minha esposa, já falecida”, Julie Kove e Dan Holberg, seu marido e sua família. Agora, nos amávamos, todos amigos de coração. Nos meus braços, a menina Maggie, minha afilhada, neta de Kove, sorria gargalhadas de alegria. Tínhamos olhos rasos d’água e o coração vibrando de amor, e eu acreditando que vale a pena construir e conservar boas amizades em quaisquer circunstâncias.
"Uma história real"