O guia relutante

Rafe Barfoot havia começado a enxugar a primeira caneca de cerveja da noite quando dois guardas com capacetes de metal e couraças negras entraram na taverna e se posicionaram de ambos os lados da porta, mãos nos cabos das espadas; em seguida, diante dos olhares apreensivos dos demais frequentadores, surgiu um terceiro elemento, um jovem magro, vestido de púrpura e carmesim com uma boina enfeitada por uma pluma de faisão; ele olhou ao redor e em seguida dirigiu-se precisamente para a mesa onde Barfoot estava sentado, parando diante dele.

- Você é Rafe Barfoot?

Barfoot olhou o recém-chegado de cima a baixo.

- Quem me procura? - Retrucou, continuando a beber a cerveja.

- Sou o conde Delwyn, de Agaterra. Posso trocar uma ideia contigo?

Barfoot deu de ombros.

- Se teve o trabalho de atravessar o Mar Manifesto até aqui, não vou lhe impedir de se sentar e me pagar uma cerveja.

O conde virou-se para o estalajadeiro e estalou os dedos.

- Uma rodada de cerveja pra geral, por minha conta!

Os guardas retiraram as mãos dos cabos das espadas e o clima desanuviou-se instantaneamente. Delwyn sentou-se à mesa, em frente de Barfoot.

- Fiquei sabendo que você já esteve várias vezes em Iafane, - disse o conde - por isso estou aqui.

Barfoot ergueu os sobrolhos e encarou Delwyn.

- Não é algo de que me orgulhe, para ser sincero. Cobrava caro, e nunca dei nenhuma garantia de que o contratante voltaria com vida daquela ilha amaldiçoada. Depois da terceira expedição mal-sucedida, desisti de colocar os pés lá, não importa a quantia que pretenda me pagar.

O conde balançou a cabeça, parecendo concordar com tudo o que Barfoot dizia.

- Sim, também me disseram que havia desistido de guiar aventureiros para a ilha, e imagino que o motivo seja o Monstro de Iafane.

O guia balançou a cabeça, em concordância.

- O meu trabalho consistia apenas em levar os grupos até Iafane; o que eles fazem lá depois que desembarcam, não é da minha conta. Mas, sim, todos os que sobreviveram e conseguiram voltar ao barco da expedição, contaram coisas realmente assustadoras sobre o que viram na ilha. Mas destes, talvez uns dois conseguiram realmente ver o Monstro - e de longe. Quem chegou mais perto, não viveu para contar como foi o encontro.

- Pois saiba que estou de posse de informações que poderão não só me levar à cidade perdida de Jomariel em Iafane, mas também a derrotar o Monstro - afirmou o conde com ar confiante.

- Jomariel... - murmurou Barfoot. - Nenhuma das expedições que levei à ilha chegou tão longe. É um lugar do qual falam muitas maravilhas... e horrores.

- Não tem curiosidade em ver com seus próprios olhos? - Inquiriu o conde, apoiando os cotovelos na mesa.

Barfoot balançou negativamente a cabeça.

- Honestamente? Já passei desta fase...

Uma das serventes da taverna aproximou-se e colocou duas canecas de cerveja sobre a mesa, mas o conde fez sinal de que não iria beber. Barfoot puxou-as então para si.

- ... mas vou beber à sua saúde - declarou, dando uma talagada na primeira caneca.

O conde abriu um sorriso e inclinou o corpo para a frente.

- Como você mesmo disse Barfoot, me dei ao trabalho de atravessar o Mar Manifesto unicamente para lhe contratar, e não pretendo sair daqui de mãos vazias.

Barfoot estreitou os olhos.

- Vai dar ordem aos seus guardas para me arrastarem para o seu barco?

O sorriso do conde ampliou-se. Ele sacou uma fíbula de prata decorada com pequenos rubis de um bolso do gibão e a atirou sobre a mesa.

- Creio que você virá comigo espontaneamente; ou talvez nunca mais vá ver Unice.

[Continua]

- [09-07-2021]