O CAIPORA

Em uma caverna na mata, próximo da praia, mora o Caipora. Esse é o apelido que deram para um senhor que vive como um eremita moderno. Dizem que ele foi um rico pescador que morava na vila e após a morte da esposa, seus filhos o abandonaram. Com o passar do tempo, o velho Caipora perdeu a confiança nas pessoas, vendeu suas coisas e passou a viver no meio da floresta, em uma grande caverna. Ele edificou uma espécie de casa ecológica, com captação de água da chuva e energia elétrica gerada pelo seu cata-vento (energia eólica) e assim, parece viver muito bem lá. O Caipora tem celular com internet e páginas em redes sociais. Ele se tornou o símbolo da proteção do meio ambiente na região.

Seu sustento vem do mar. O Caipora continua pescando e nisso, ele é muito bom. Às vezes vende alguns peixes e camarões. Com o dinheiro, vai até a vila e compra alguns outros mantimentos e o que mais eventualmente possa precisar. Ele se tornou conhecido mesmo foi por sua conduta ambientalista. O Caipora é dedicado à preservação da natureza; frequentemente é visto juntando o lixo deixado pelas pessoas sem noção. Os nativos da vila contam que é comum ver o Caipora abordar os ignorantes que depredam a natureza local. Ele já expulsou muita gente da mata e da praia, por provocar incêndios e deixar lixo jogado pelo chão.

O Caipora é uma figura interessante... Um homem com a pele castigada pelo sol, barbudo, que mais parece uma mistura de mendigo com Tarzan. Geralmente, ele anda de pés descalços, sem camisa e usando apenas calças arregaçadas até a altura das canelas. Certa vez, o Caipora flagrou caçadores na mata. Ele ficou furioso. Questionou os homens que não deram importância para o que ele falava; acharam que ele era um maluco do local. O Caipora tirou o seu smartphone do bolso e chamou a Polícia Ambiental, que em poucos minutos, estava lá e prendeu os caçadores. O Caipora era respeitado por ser um defensor da natureza.

Mas todo herói que se preze, têm seus inimigos, os vilões. Alguns especuladores imobiliários pretendiam derrubar a floresta e construir um hotel próximo da caverna do Caipora. Para tal empreendimento dar certo, eles teriam que se livrar do Caipora, pois a presença dele naquele local com certeza representava uma desagradável resistência que teriam que enfrentar. Os especuladores imobiliários contrataram um advogado, que ingressou com um pedido na Justiça, alegando que o Caipora havia invadido o local e não poderia viver na caverna. Um oficial de justiça foi enviado até a caverna para entregar uma intimação para o Caipora, que ficou muito preocupado com aquela “ameaça” em sua vida.

Quando os nativos moradores da vila ficaram sabendo da sorrateira intenção dos especuladores imobiliários de expulsar o Caipora, em destruir a mata e construir um grande hotel, eles resolveram tomar uma atitude. A comunidade local se reuniu para debater sobre o assunto. A imprensa foi chamada; fizeram uma matéria contando a história do Caipora, que deu até entrevista. O assunto repercutiu na mídia de várias cidades. Até a prefeitura do município se posicionou a favor da permanência do Caipora na caverna. A associação dos moradores contratou um advogado para defender o Caipora na Justiça.

Na audiência, o Juiz ouviu todas as partes; mas quando tomou conhecimento da história do Caipora, ouviu o relato das testemunhas da vila, assistiu as reportagens sobre preservação ambiental e os relatos do próprio Caipora, ele soube que decisão tomar. O Juiz foi favorável à permanência do Caipora no local e sugeriu que a prefeitura decretasse toda a região da floresta onde estava localizada a caverna uma APP (Áreas de Preservação Permanente), de acordo com o Novo Código Florestal Brasileiro. A prefeitura não só declarou toda aquela área verde como APP, como também nomeou o Caipora como o Guardião daquele lugar.

O lugar passou a ser protegido como um Parque Ecológico Municipal. Caipora recebeu um documento que autorizava sua permanência no local. Agora com o título de Guardião da Floresta e da Praia, ele passou a ser ainda mais respeitado pela comunidade. Atualmente, Caipora tem postado diversas mensagens sobre conscientização ambiental em suas páginas, além de falar sobre reciclagem em muitos vídeos nas redes sociais. O Caipora se tornou uma referência em ecologia no município, um símbolo da proteção das florestas do Brasil.

Dizem que o nome do ativista ambiental Caipora é Manuel, mas ele mesmo pede que o chamem pelo apelido: Caipora. Ele sabe do simbolismo que esse nome representa. A palavra Caipora vem da língua tupi-guarani, “Caapora”, que significa “habitante do mato”. Na mitologia dos povos de origem tupi-guarani, o Caipora seria uma entidade protetora dos animais e da floresta. Um ser fantástico que segundo a cultura indígena, rondava as matas do Brasil, montado em um porco-do-mato. Assim, como o seu “primo folclórico” curupira, o caipora era conhecido por punir os malfeitores; aqueles que causavam danos à natureza.

Adriano Besen
Enviado por Adriano Besen em 01/07/2021
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