O castelo da Pedra Partida

Danylo e seis de seus homens, todos osebi montados em pôneis mori de crina longa, aguardaram enquanto Sarah retirava Flamaloz da estrebaria do Uruz Pintado e se juntava a eles, na estrada em frente à taverna.

- São duas léguas até Vorkovo, se não estou enganada? - Indagou Sarah, enquanto seguiam para o norte sob o sol de verão.

- Sim, correto - confirmou Danylo, que cavalgava ao lado dela à testa do grupo. - E marquei uma audiência com o khatun, ele deseja conhecê-la.

- Lembro de Semsochi, um careca barrigudo... acho que me achou magra demais para ser uma de suas esposas - Sarah pareceu divertir-se com a lembrança.

- Sério que ele considerou essa possibilidade? - Danylo ergueu os sobrolhos. - Sujeito corajoso!

- Definitivamente, ele não era meu tipo - retrucou Sarah, fazendo um bico de desprezo.

O diálogo foi retomado depois que desviaram de quatro estirhuy cinzentos, presas serradas, que estavam sendo conduzidos por um criador para a cidade.

- O khatun atual é Enebish, filho de Semsochi - comentou Danylo.

- "Esse não"? - Sarah encarou Danylo com curiosidade. - O que motivou o pai a dar-lhe um nome tão curioso?

- Uma forma de enganar os maus espíritos, depois que o primogênito de Semsochi morreu de febre do pântano.

- Oh - replicou Sarah. - Muito esperto.

Pouco depois, avistaram a cidadela de Vorkovo sobre uma colina a cavaleiro do rio Peltawa. O topo da colina, cercado por uma muralha de pedra calcária, continha o castelo do khatun, o governante da região. Abaixo e ao redor dele, estendia-se a cidade propriamente dita, a qual por sua vez era protegida por outra muralha disposta em semicírculo e delimitada pelo Peltawa ao norte. Fora das muralhas, havia várias propriedades rurais que abasteciam Vorkovo com gêneros alimentícios ou criavam bestas como os grandes estirhuy, usados como animais de tração e de guerra, pôneis mori e ovelhas.

Entraram na cidade através da Porta de Satana, o principal acesso para quem provinha da estrada da Pedra Partida. Como era dia de feira, havia intensa movimentação de transeuntes, carroças e cavaleiros, e os soldados calmucks que vigiavam a entrada mal olharam para Danylo e seu grupo. Seguiram então pela rua principal, o Caminho de Watsilla, que conduzia direto ao portão da cidadela, e cuja circulação era mantida razoavelmente livre por guardas osebi, empunhando longas varas.

Diante da cidadela, Danylo e Sarah separaram-se da escolta, pois o acesso ao palácio do khatun era cuidadosamente controlado e a entrada de homens de armas osebi só era permitida em circunstâncias especiais. Um oficial subalterno calmuck examinou as credenciais apresentadas por Danylo, embora provavelmente já as houvesse visto dezenas de vezes, e em seguida franqueou-lhes a passagem.

- Chigu, o mordomo do khatun, os irá receber - informou.

Depararam-se com uma comitiva calmuck aguardando-os nas escadarias do castelo, uma antiga fortaleza osebi construída ao lado de um grande rochedo que parecia haver sido quebrado em dois por um raio, daí o nome "Pedra Partida". Chigu, um calmuck de aparência tranquila, trajado de seda e peles como cabia a um dignatário da corte do khatun, deu-lhes as boas-vindas; nas mãos, um rabo de estirhuy, símbolo da sua autoridade.

- É sempre uma grande satisfação ter Sarah de Thesala em Vorkovo - anunciou, abrindo os braços.

E voltando-se para Danylo:

- Espero, sinceramente, que sua convidada possa reverter a situação do jovem Ruslan.

- Faço minhas as suas palavras, Chigu - replicou Danylo, juntando as mãos como que em prece.

[Continua]

- [05-05-2021]