O contratante

Sarah acordou cedo no dia seguinte, antes do sol nascer e junto com o canto dos galos. Estava tão acostumada a dormir ao ar livre, que estranhou encontrar-se dentro de um quarto - e sobre uma cama com colchão de crina. Depois, lembrou-se que estava na taverna do Uruz Pintado, aguardando pela vinda de Danylo, o homem que requisitara seus serviços. Ergueu-se, abriu a janela, e respirou fundo a brisa fresca da manhã.

O céu estava pontilhado de nuvens rosadas, e parecia prenunciar um belo dia de verão. Nos fundos da taverna, já se via algum movimento dos empregados e lume aceso na cozinha, onde era preparado o desjejum dos hóspedes que iriam pegar a estrada nas primeiras horas da manhã. Sarah fechou a janela e despejou um pouco de água da jarra sobre a cômoda, dentro de uma bacia de estanho, onde lavou o rosto e as mãos. Depois, abriu a porta da edícula, e foi despejar e lavar o penico no riacho.

Já havia calçado as botas e amarrado o cabelo num rabo de cavalo, quando bateram à porta. Abriu e deparou-se com o servente Tugan, carregando uma cesta de vime com o desjejum.

- Bom dia, minha senhora! - Saudou-a o rapaz. - Espero que goste de bolos de aveia com mel e café de cevada...

Sarah não estava mesmo esperando chá naquele fim de mundo, portanto agradeceu e antes de devolver a cesta do jantar da noite anterior, solicitou.

- Caso Danylo chegue, peça para me aguardar no salão.

- Sim, senhora - confirmou, empertigando-se.

Sarah pôde tomar o desjejum em paz. Estava sentada à mesa, revisando um mapa, quando ouviu Tugan chamar por ela: Danylo havia chegado.

* * *

Havia muito menos pessoas no salão, naquele início de manhã, do que houvera na noite anterior. Danylo estava sentado sozinho a um canto, numa mesa sobre a qual havia uma caneca de cerâmica com café de cevada e um prato com pão preto, ovos e bisteca de porco. Ele parou de comer ao ver Sarah aproximar-se, e uma expressão de alívio surgiu em seu rosto barbado e queimado de sol.

- É bom que esteja aqui - saudou-a, fazendo um gesto para que se sentasse em frente a ele. - Já tomou café?

- Um pouco antes de você chegar - redarguiu Sarah, acomodando-se. - E então, qual é o problema desta vez?

- Zaur Geberaty foi assassinado - declarou Danylo. - Lembra dele?

Sarah lembrava. Geberaty a havia acompanhado, anos atrás, durante uma expedição pela província de Duhy; era um homem gentil e um xamã aplicado.

- Tem alguma pista de quem cometeu o crime? - Indagou.

Danylo balançou afirmativamente a cabeça.

- Temos um suspeito preso, na masmorra do castelo. O khatun está propenso a mandá-lo para a forca.

Sarah franziu a testa.

- E isso não encerra o caso? Por que ainda precisa de mim?

Danylo fez uma careta.

- O suspeito jura que é inocente, e, na verdade, eu acredito nele...

Inclinou-se para Sarah, e murmurou:

- Trata-se do meu filho, Ruslan.

[Continua]

- [04-05-2021]