Na taverna do Uruz Pintado

Quando Sarah entrou no salão enfumaçado da taverna, bolsa de couro a tiracolo e gládio à cinta, todos os olhares convergiram para ela; afinal, não era comum que uma mulher jovem entrasse desacompanhada num ambiente daqueles, mas os broches de metal brilhante que prendiam seu manto de viajante nos ombros, e os trajes masculinos, logo a identificaram como quem realmente era. Ninguém em plenas capacidades mentais iria ousar levantar um dedo, ou mesmo a voz, para ela. Sarah apenas olhou ao redor, em silêncio, e fez um ligeiro aceno de cabeça, como que cumprimentando a todos; pouco a pouco, os presentes desviaram o olhar dela e voltaram a cuidar dos seus próprios negócios. Já Sarah, aproximou-se do balcão e colocou uma moeda de bronze diante da estalajadeira, que enxugava alguns copos de cerâmica com ar indiferente.

- Você é Inessa? - Indagou Sarah.

A estalajadeira apanhou a moeda e a examinou com atenção.

- Um croleque de Agrittor - avaliou, devolvendo a moeda para a viajante. - Você deve ser Sarah de Thesala; Danylo disse que viria...

- Ele está aqui, essa noite?

- Não; mas pediu que o avisasse, assim que você chegasse ao Uruz Pintado. Provavelmente, estará por aqui de manhã.

- Então, vou precisar de um quarto e de uma vaga na estrebaria para o meu cavalo - replicou Sarah, mãos espalmadas sobre o balcão. - Despesas por conta de Danylo, naturalmente.

- Naturalmente - assentiu Inessa, virando-se para um rapaz magro que circulava pelo salão, atendendo aos clientes. - Tugan!

Tugan aproximou-se rapidamente, evitando olhar diretamente para Sarah como se temesse receber alguma maldição.

- Senhora? - Indagou respeitosamente.

- Leve a guardiã Sarah para a edícula ao lado do fumeiro. Caso ela queira fazer suas refeições lá, você deverá atendê-la.

- Sim senhora - redarguiu Tugan, voltando cautelosamente os olhos para Sarah. - Me acompanhe, guardiã.

O atendente acendeu uma lanterna de ferro e saíram do salão por uma porta que levava aos fundos da taverna. Novamente ao ar livre, Sarah viu que um palafreneiro já estava levando seu cavalo Flamaloz para a estrebaria. A edícula e o fumeiro citados ficavam do outro lado de um riacho, cujas águas abasteciam a taverna e faziam girar um pequeno moinho que devia ser usado para moer grãos. Atrás das construções, estendia-se a floresta de Bredanna, e à direita delas, a estrada da Pedra Partida por onde Sarah chegara a pouco. Atravessaram uma pontezinha de madeira sem corrimão, e pararam em frente à uma porta rústica de madeira, com um puxador de cobre.

- São nossas melhores acomodações, senhora - informou Tugan, ao lhe entregar a chave da edícula, presa com um cordel, e a lanterna. - Deseja pedir seu jantar agora?

- Meio empadão de carne, um pedaço de pão e de queijo, uma cesta de figos ou maçãs, e uma jarra de cerveja preta - requisitou Sarah, entregando um croleque de cobre ao servente.

Tugan recebeu a moeda com as duas mãos abertas, e fez uma reverência em agradecimento; depois, partiu como uma flecha de volta à taverna, deixando Sarah sozinha à porta da edícula. Ela abriu a porta e deparou-se com um espaço de cerca de seis metros quadrados, onde havia uma cama de solteiro com duas mantas na cabeceira do colchão de crina, uma cômoda de madeira escura com um castiçal de dois braços, uma bacia e uma jarra sobre ela, duas cadeiras, uma mesa pequena e uma lareira (apagada, já que estavam no verão). Ela pendurou a bolsa nas costas de uma das cadeiras e abriu a única janela, ao lado da porta, de onde podia ver o riacho, os fundos da taverna e até mesmo um trecho da estrada, entre as árvores. Satisfeita com a localização, postou-se ali até que Tugan voltasse carregando uma cesta com o jantar.

- Peço que me chame ao nascer do sol, caso eu ainda não tenha me levantado - solicitou, antes de agradecer e fechar a janela.

Em seguida, descalçou as botas de montaria e lamentou que não houvesse ali pelo menos uma tina para poder se banhar. Mas, ao menos, debaixo da cama encontrou um penico de cerâmica...

[Continua]

- [03-05-2021]